A vontade de tornar a arte acessível, retirando-a do espaço ao qual ela é atribuída – museus, galerias, etc – e colocando-a num espaço comum não é recente. Também há certo tempo é conferido o valor de arte às formas de expressões nas ruas. No Brasil, por exemplo, um dos primeiros registros das manifestações dessa tendência foi a Exposição Internacional de Art-Door realizada em 1980, em Recife: cerca de 280 painéis com trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros foram distribuídos em espaços públicos da cidade.
Em Joinville, o projeto OUT[ART] realiza mostras coletivas com artistas da cidade e teve sua primeira edição em 2007, quando apresentou obras projetadas para outdoors, interferindo na paisagem urbana. Em 2008, a segunda edição do projeto adotou como suporte as sacolas plásticas, pensando principalmente na influência do mercado nas artes, no aspecto cotidiano representado por esse objeto e no trajeto que ele cumpre desde a utilização em supermercados e lojas até seu aparente destino, o lixo. A proposta de suporte artístico do OUT[ART] para este ano são os stickers – adesivos aplicados em diferentes lugares do espaço urbano – e os interessados em participar devem enviar propostas para seleção até o dia 1º de outubro.
A Revi entrevistou um dos curadores do OUT[ART], Jefferson W. Kielwagen, em busca de mais informações sobre essa mostra coletiva e sobre os stickers.
Revi: Por que a utilização do ambiente urbano para a exposição de arte?
Jefferson W. Kielwagen: Em se tratando de um evento realizado com recursos públicos, nada mais justo que levar os trabalhos para os espaços públicos, onde serão vistos por um número muito maior de pessoas.
O acesso público às obras atrai mais interessados?
Certamente, na medida em que a arte aparece onde não é esperada. Quando se vai a uma galeria de arte com a expectativa de ser surpreendido, encantado, o resultado é quase sempre uma surpresa sem sobressalto... A força da intervenção urbana está justamente na introdução do poético no âmbito do prosaico.
Qual é o objetivo do projeto?
O objetivo é explorar outros espaços para a arte que não os das galerias e museus – e estes não são necessariamente os espaços públicos: pode-se pensar também espaços pessoais, domésticos e o projeto prevê algumas coisas nesse sentido para edições futuras. Os espaços consagrados para a arte podem ser intimidadores para o público leigo e acabam sendo muito mais frequentados por quem já está vinculado a esse universo, como estudantes de arte e os próprios artistas.
Como é escolhido o suporte que cada edição do projeto explora (outdoors, sacolas, stickers)?
Procuramos utilizar suportes que privilegiem as artes visuais num sentido mais tradicional, ou seja, linhas e cores sobre uma superfície bidimensional. Assim cria-se um espaço para desenhistas, pintores, ilustradores e gravuristas, artistas que frequentemente têm dificuldade em se inserir no circuito contemporâneo da arte – em que predominam instalações, performances e hibridismos. Essa dificuldade é característica da arte contemporânea, e o OUT[ART] lida com ela desde a sua primeira edição, em 2007. Cada edição é realizada em um suporte específico e apesar de não direcionarmos o tema dos trabalhos, as especificidades dos suportes o tem feito por nós: o outdoor remete imediatamente ao universo da publicidade e as sacolas plásticas à circulação e ao ciclo de vida dos produtos, além da questão ecológica.
Quem pode participar do projeto?
A participação é aberta a qualquer pessoa nascida ou radicada há pelo menos dois anos em Joinville. Os interessados podem inscrever até três propostas conforme o regulamento disponível no site do projeto. Uma comissão então selecionará, dentre os inscritos, até dez artistas para a exposição.
Há uma maior valorização dos artistas joinvilenses?
Até a presente edição as inscrições foram abertas apenas para artistas nascidos ou radicados em Joinville. Valorizar a produção local é um dos objetivos do projeto que, além das exposições, produziu também um catálogo impresso com registro fotográfico dos trabalhos, distribuído gratuitamente entre os artistas e doado a bibliotecas e universidades de arte de todo o país. Assim, além de divulgar o trabalho dos artistas locais por aqui, o projeto também divulga Joinville em outras cidades.