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Matéria 8333, publicada em 11/05/2009.


:Gleber Pieniz

Evento teve foco no estudante e no profissional

Congresso debate a situação do jornalismo cultural

Gleber Pieniz



Aproximadamente 500 pessoas entre estudantes de Jornalismo e profissionais de comunicação de todas as regiões do Brasil acompanharam o 1º Congresso de Jornalismo Cultural, encontro que aconteceu entre os dias 4 e 8 de maio no Teatro da Universidade Católica (Tuca), em São Paulo. Promovido pela revista Cult, o congresso propunha um programa de palestras e debates que abordavam a situação do jornalismo e da cultura, o trabalho das mídias dedicadas à arte, os problemas da crítica e os aspectos da formação técnica e conceitual do comunicador. Os cinco dias de atividades privilegiaram uma combinação de temas e linguagens bastante apropriados para alunos de graduação e jovens recém-admitidos nas redações, saudando-lhes não com a ilusão de um cotidiano glamouroso e sofisticado, mas com a perspectiva de uma crise que define o campo da cultura e que se acirra na imprensa em função da própria complexidade contemporânea.

As discussões ocuparam manhã e tarde dos cinco dias de congresso e oscilaram entre intervenções puramente teóricas, questionamentos pontuais ou genéricos sobre a situação do jornalismo e os relatos de experiência de profissionais veteranos. O tom dinâmico dos debates foi estabelecido graças a um grupo de convidados bastante diversificado, composto não só por pesquisadores com sólido currículo acadêmico e por autores de livros teóricos e de ficção, mas também por músicos, artistas plásticos, atores, repórteres, editores e críticos de diversas áreas. A escalação de nomes para a programação reflete os arranjos de cinco anos de planejamento entre o Espaço Revista Cult e dez universidades públicas e privadas que dão apoio institucional ao evento. Diretora da revista e idealizadora do congresso, Daysi Bregantini explica que o encontro reuniu jornalistas dos principais veículos culturais do país a um grupo de professores que tradicionalmente vem ministrando os cursos oferecidos pela Cult a estudantes e profissionais de comunicação.

A sempre citada Veja

Mas nem só de debates foi feito o congresso: paralelamente às discussões que aconteciam no palco do Tuca – foco de resistência e experimentação artística durante os anos de ditadura – o evento abriu espaço no hall do teatro para quatro sessões de autógrafos e para a venda de livros e revistas de onze editoras dedicadas à arte e à comunicação. Na noite de quarta-feira, dia 6 de maio, os músicos José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski tomaram como ponto de partida as implicações entre o erudito e o popular na canção brasileira para um breve espetáculo de voz e violão em que discutiram aspectos de sensibilidade poética e musical, além de rebater abertamente os recorrentes ataques que Wisnik vem sofrendo da revista Veja. Um dos debatedores daquele dia, o crítico Sérgio Martins é responsável pela publicação de um imbróglio envolvendo Wisnik, Caetano Veloso, as teorias do Big Bang e o produtor norte-americano Moby e havia sido convidado publicamente pelo músico para assistir o show, mas deixou o Tuca antes mesmo da apresentação começar.

Muito contestada pela platéia e bastante visada pelos participantes das discussões, aliás, a Veja fez-se representar por seus jornalistas em cinco dos dez debates realizados. Daysi Bregantini reconheceu o excesso na programação, mas revelou à Revi que não poderia deixá-la de fora do congresso em virtude do trabalho de editorias específicas que a revista mantém – e que supera, acredita, Isto É e Época, além das especializadas Bravo!, Set e Rolling Stone – e também porque o evento não deveria omitir-se de levantar as questões editoriais e políticas que há muito precisam ser feitas àquele semanário da Editora Abril.

Visivelmente entusiasmada com os resultados do evento e com a integração de profissionais e estudantes vindos de diversos estados, a diretora da Cult anunciou a realização do 2º Congresso de Jornalismo Cultural em 2010 e antecipou à Revi uma significativa mudança na abordagem do encontro que, com a confirmação de quatro palestrantes estrangeiros, ganhará caráter internacional.

Formação acadêmica

Na manhã do dia 8 de maio, o encontro encerrou-se com um fórum sobre a formação acadêmica em Jornalismo considerando as polarizações que existem entre a função social da comunicação e as demandas da grande imprensa, entre o caráter humanista e técnico dos conteúdos e entre a reflexão crítica e as práticas de mercado. Compuseram a mesa nove professores e coordenadores dos cursos de Comunicação Social das universidades que dão sustentação ao congresso (PUC/SP, Cásper Líbero, Universidade Metodista de São Paulo, ECA/USP, Universidade Anhembi Morumbi, Mackenzie, Unesp, UFRJ, PUC/RS e Fabico/UFRGS).

Bastante heterogênea, a discussão apresentou um panorama curioso sobre a formação do jornalista no ensino superior, com algumas faculdades claramente interessadas em atender as demandas do mercado e dispostas a orientar seus currículos para essas necessidades, enquanto outras sustentam uma posição mais distanciada desses apelos, tomando o mercado apenas como parâmetro de superação no compromisso com as transformações sociais. Todos os professores, no entanto, concordam em um aspecto: por mais experimental, técnica ou humanista que seja, a formação acadêmica é ainda insuficiente para o estabelecimento de um profissional de imprensa capaz de lidar com os problemas e as tensões que a sociedade contemporânea apresenta. A solução para essa deficiência, especulam, está na formação crítica individual, na leitura reflexiva da cultura e da tecnologia, na vivência social comprometida e na inserção racional de cada cidadão nos fluxos que movimentam a sua comunidade.

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