Revi Bom Jesus/Ielusc

>>  Joinville - Sexta-feira, 26 de abril de 2024 - 04h04min   <<


chamadas

Matéria 8227, publicada em 24/04/2009.


:Carolinne Sagaz

O escritor é coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação

Para Gianotti, não existe poder sem mídia

Marcio da Rocha

 
O Sindicato dos Trabalhadores em Instituições de Ensino Particular e Fundações Educacionais do Norte do Estado de Santa Catarina (Sinpronorte), em parceria com o Bom Jesus/Ielusc, organizou na noite de quinta-feira (23 de abril) palestra com o escritor Vito Gianotti. Aproximadamente 60 pessoas acompanharam o evento onde Gianotti falou sobre comunicação alternativa e criticou duramente os grandes órgãos de imprensa como as Organizações Globo e a revista Veja. Nascido na Itália em 1943 e morando no Brasil há 43 anos, o escritor coordena o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que procura aperfeiçoar a troca de informação entre os trabalhadores. Esse aperfeiçoamento é essencial para o que ele chama de “disputa hegemônica”, ou seja, lutar contra os interesses dos monopólios da mídia.

O escritor destacou o uso da imprensa para o controle das massas em relação às políticas externas de países como os Estados Unidos. “Não existe poder sem mídia”, resumiu. Para ele, o ex-presidente norte-americano Geoge W. Bush é o mais claro exemplo da propaganda de controle: Bush usou desenfreadamente a mídia para divulgar suas ideias em relação ao Afeganistão após o 11 de setembro e também para convencer seus aliados do perigo iminente de uma guerra biológica e nuclear com o Iraque de Saddam Hussein. Na época, foram divulgados dados investigativos sobre um possível arsenal de armas de destruição pertencentes ao Iraque. “Mais tarde se provou que toda a investigação era falha ou mentirosa”, lembrou Gianotti, para quem sem a mídia não haveria essa guerra.

Outro exemplo utilizado por Gianotti foi a novela da Globo Páginas da Vida, de 2007, escrita por Manoel Carlos. O autor utilizou a morte do menino João Hélio como tema para a gravação de um capítulo especial feito às pressas. Em uma das cenas, três freiras ajoelham-se e rezam pelo garoto que morreu ao ser arrastado preso ao cinto de segurança depois que o carro em que estava foi roubado. “Nesse caso é nítida a comoção nacional por ser a morte de um garotinho de classe média. Quando há chacinas em favelas são publicadas no máximo notas minúsculas nos grandes jornais”, apontou Gianotti. Durante a cena da novela, é utilizado um exemplar do jornal O Globo com o título “Barbárie contra a infância”. O que potencializa essa comoção, diz o italiano, são dois fatores cruciais: a falta de leitura de jornais e revistas alternativas e também o vício pelo audiovisual. “A maioria das pessoas são papagaios de televisão, não leem nada”.

A imparcialidade dos veículos de informação também foi questionada pelo palestrante. No Brasil, segundo ele, há uma parcialidade disfarçada na imprensa. Ele citou a revista semanal Veja, publicada pela editora Abril, que tem a maior tiragem no país: embora a revista se intitule neutra, apresenta um forte discurso neoliberal nas entrelinhas. “Enquanto acontecia o 2º Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2002, a Veja publicou uma matéria sobre sexo que ganhou a capa”, disse, para explicar que assim cria-se a imagem de que as questões sociais não são importantes. “A classe média segue a cartilha do neoliberalismo, ou seja, é individualista”.

Questionado sobre investimentos em publicações alternativas, Gianotti pensa que a melhor solução seria o investimento do Estado. “É inviável publicar jornais e revistas sem auxílio financeiro. Talvez o financiamento público seria a melhor opção”, especula Gianotti, sugerindo um patrocínio calculado de acordo com as tiragens.

Ouça a entrevista com Vito Gianotti

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.