O Sindicato dos Trabalhadores em
Instituições de Ensino Particular e Fundações Educacionais do Norte do Estado de
Santa Catarina (Sinpronorte), em parceria com o Bom Jesus/Ielusc, organizou na
noite de quinta-feira (23 de abril) palestra com o escritor Vito Gianotti.
Aproximadamente 60 pessoas acompanharam o evento onde Gianotti falou sobre
comunicação alternativa e criticou duramente os grandes órgãos de imprensa como
as Organizações Globo e a revista Veja. Nascido na Itália em 1943 e
morando no Brasil há 43 anos, o escritor coordena o Núcleo Piratininga de
Comunicação (NPC), que procura aperfeiçoar a troca de informação entre os
trabalhadores. Esse aperfeiçoamento é essencial para o que ele chama de “disputa
hegemônica”, ou seja, lutar contra os interesses dos monopólios da
mídia.
O escritor destacou o uso da imprensa para o controle das massas
em relação às políticas externas de países como os Estados Unidos. “Não existe
poder sem mídia”, resumiu. Para ele, o ex-presidente norte-americano Geoge W.
Bush é o mais claro exemplo da propaganda de controle: Bush usou
desenfreadamente a mídia para divulgar suas ideias em relação ao Afeganistão
após o 11 de setembro e também para convencer seus aliados do perigo iminente de
uma guerra biológica e nuclear com o Iraque de Saddam Hussein. Na época, foram
divulgados dados investigativos sobre um possível arsenal de armas de destruição
pertencentes ao Iraque. “Mais tarde se provou que toda a investigação era falha
ou mentirosa”, lembrou Gianotti, para quem sem a mídia não haveria essa
guerra.
Outro exemplo utilizado por Gianotti foi a novela da Globo
Páginas da Vida, de 2007, escrita por Manoel Carlos. O autor utilizou a
morte do menino João Hélio como tema para a gravação de um capítulo especial
feito às pressas. Em uma das cenas, três freiras ajoelham-se e rezam
pelo garoto que morreu ao ser arrastado preso ao cinto de segurança depois que o
carro em que estava foi roubado. “Nesse caso é nítida a comoção nacional por ser
a morte de um garotinho de classe média. Quando há chacinas em favelas são
publicadas no máximo notas minúsculas nos grandes jornais”, apontou Gianotti.
Durante a cena da novela, é utilizado um exemplar do jornal O Globo com o
título “Barbárie contra a infância”. O que potencializa essa comoção, diz o
italiano, são dois fatores cruciais: a falta de leitura de jornais e revistas
alternativas e também o vício pelo audiovisual. “A maioria das pessoas são
papagaios de televisão, não leem nada”.
A imparcialidade dos veículos de
informação também foi questionada pelo palestrante. No Brasil, segundo ele, há
uma parcialidade disfarçada na imprensa. Ele citou a revista semanal
Veja, publicada pela editora Abril, que tem a maior tiragem no país:
embora a revista se intitule neutra, apresenta um forte discurso neoliberal nas
entrelinhas. “Enquanto acontecia o 2º Fórum Social Mundial de Porto Alegre,
em 2002, a Veja publicou uma matéria sobre sexo que ganhou a capa”,
disse, para explicar que assim cria-se a imagem de que as questões sociais não
são importantes. “A classe média segue a cartilha do neoliberalismo, ou seja, é
individualista”.
Questionado sobre investimentos em publicações
alternativas, Gianotti pensa que a melhor solução seria o investimento do
Estado. “É inviável publicar jornais e revistas sem auxílio financeiro. Talvez o
financiamento público seria a melhor opção”, especula Gianotti, sugerindo um
patrocínio calculado de acordo com as tiragens.
Ouça a entrevista com Vito Gianotti