A gravação do segundo CD e a participação de um tributo ao Nazareth,
produzido pelo ex-guitarrista Manny Charlton, são alguns dos compromissos da
Motorocker em 2009. A banda de Curitiba que começou em 1993, fazendo cover de
AC/DC, tem show marcado até 2010, incluindo o que irá abrir para o Motörhead,
dia 12. O vocalista Marcelus, o baixista Silvio, o baterista Juan e os
guitarristas Thomas e Luciano se apresentaram em Joinville, sexta-feira (3 de
abril), na inauguração do Don Rock Pub. Começaram com a música "Vamo Vamo",
tocaram covers de bandas como Iron Maiden e Black Sabbath (a pedido da plateia)
e fizeram o público chegar ao auge do entusiasmo ao som de "Salve a Malária". Ao
final do show - em uma das mesas do bar e sendo interrompidos continuamente por
fãs segurando câmeras fotográficas e encartes do CD Igreja Universal do Reino
do Rock – a Motorocker falou à Revi sobre os CDs a serem lançados, a
agenda lotada e o encontro com o AC/DC em 1996.
Carolinne: Qual o andamento da gravação do segundo CD da
Motorocker?
Marcelus: Estamos aí com algumas músicas já
pré-produzidas, são quatro, né? E está indo legal. A gente só não vai mais
rápido um pouco porque a agenda é meio, meio complicada, né? Nós temos show até
2010, para você ter uma ideia, marcado. E o que move a banda, o que paga essas
coisas é show. Então a gente não pode abrir mão, a gente não pode se dar ao luxo
porque nós somos uma banda independente e dependemos de todo o cachê que vem
para colocar nos discos, para gravar, para bancar show em cidades que ninguém
conhece a gente. Mas está indo, está indo. Em maio ou junho o CD sai. Lindo e
maravilhoso! Sem erros como teve o primeiro. A gente teve muito
errinho.
Carolinne: Qual o provável nome do segundo
CD?
Marcelus: Sangue no Olho, Rock na
Veia.
Carolinne: Qual o andamento da gravação do
tributo ao Nazareth?
Marcelus: Está estranho o negócio!
Não sei, não sei. O Manny Charlton (ex-guitarrista do Nazareth e produtor do
tributo) não falou mais nada a respeito disso. Ele estava até tendo uma briga
judicial com a banda original, que está com o nome,
né?
Carolinne: Como a Motorocker entrou no projeto do
tributo ao Nazareth?
Marcelus: Foi numa porra de uma
cagada. Nosso baterista falou: “Cara, o Manny Charlton do Nazareth está querendo
fazer um tributo, está selecionando bandas do mundo inteiro” e a primeira coisa
que a gente falou foi “Pô, cara. Tá louco. A gente não vai conseguir entrar. São
bandas muito fortes que têm lá. Imagina nós disputando, não temos nem estrutura,
estúdio, nada, cara”. Aí a gente perdeu o prazo, o Manny Charlton deu mais 15
dias. Aí eu falei para o pessoal: “Cara, vamos arriscar? Vamos pegar uma música
relativamente difícil do Nazareth?” Que nenhuma banda tinha pego ainda: a
"Telegram". Desde então, foi a música mais elogiada por ele no nosso Myspace.
Ele falando no MSN, lá dos Estados Unidos, que foi a versão que ele mais gostou.
No disco um, a música um é da Motorocker, do Brasil. Ele até fala indignado: “A
band from Brazil? (Uma banda do Brasil?)”. Como se o Brasil não tivesse banda de
rock, sabe?
Carolinne: Então vocês escolhiam uma música,
gravavam e mandavam o material?
Marcelus: Isso. Ao deus
dará.
Carolinne: Qual a importância de participar de um
projeto como esse?
Marcelus: Eu acho que é excelente
para nós. Tomara que a gente abra caminho para um monte de outras bandas boas.
Não só isso, mas todas as coisas que estão acontecendo com a banda são
maravilhosas: nós temos show até 2010; nós temos o melhor público que uma banda
poderia ter, um público maravilhoso. São extremamente fiéis, não brigam, agitam
se arrebentam ali. É rock na veia! Sangue no olho, rock na veia. É
importantíssimo, claro, esse tributo. Só que é um cover. Eu sempre digo: nós
fomos considerados o melhor cover do AC/DC no mundo pela banda em 96, mas, para
nós, nada substitui o original. Nada, nada, não adianta. Se eu quiser sair de
casa para ver uma banda cover, prefiro escutar o original em casa. Apesar de que
é legal você ver uma banda que toca vários covers numa noite, mas nada substitui
o original. O original é imbatível!
Carolinne: Vocês vão
abrir o show do Motörhead dia 12...
Marcelus: Outra
pancada no saco. Imagina, nós vamos infartar!
Carolinne:
E vocês abriram os shows do Deep Purple e do Glenn Hughes. Qual a principal
diferença entre o show que vai abrir para o Motörhead e os dois que vocês já
abriram?
Marcelus: O Glenn Hughes, para mim, é um dos
melhores vocalistas do mundo, se não for o melhor. O Purple tem o Gillan, tem o
Morse, Ian Paice, aquela banda hard glover, né?! É uma banda que amo, descobri
quando criança, só que o Motörhead é mais a nossa veia. O Motörhead é mais
Motorocker. Quer dizer, a gente é mais eles, né? Nós somos descendentes
indiretos deles. Isso é mais um chute no rim, né? Como é que é? Um chute de bota
no fio da costela: dói! Eu amo Motörhead! Estamos numa grande fase: vendemos
todos os discos. Vendemos discos para o mundo inteiro. Vendemos 5000 discos em
oito meses, sem MTV, sem nada, cara. Tesão para caralho! Para quem tocou por um
prato de comida, nós estamos muito bem. A gente não desistiu quando tocava por
comida, imagine agora. Vão ter que nos aguentar! Os cu de frango, os boyzinhos,
os piás de prédio vão ter que aguentar a gente, cara. Porque a malária (em
referência à música "Salve a Malária") está na
área.
Carolinne: O set list do show que vai abrir para o
Motörhead já está pronto? No show de hoje, vocês tocaram bastante covers. Lá
também?
Marcelus: Aqui é uma coisa meio atípica porque
tem um povo meio esquisito, né? Tem um povo que só veio ouvir cover mesmo. Os
nosso fãs vieram para escutar só música nossa. Mas também eles não têm culpa.
Pagaram para entrar, então a gente vai tocar o que o povão quer ouvir. Nós não
somos ninguém para virar as costas e dizer “Vão escutar o que a gente tocar e
pronto”. Não! Todo mundo que entrou aqui no show vai falar “Meu ingresso valeu a
pena”. A gente tocou nossas músicas e tudo que o povo pediu a gente tocou. A
gente tem 180 músicas no repertório, então não é muito
difícil.
Carolinne: Por enquanto vocês não vão tocar as
músicas novas?
Marcelus: Estamos tocando em Curitiba. Em
Minas Gerais também já tocamos. E vamos tocar lá no show do Motörhead uma música
que eu fiz para um amigo meu falecido.
Carolinne: Qual o
nome da música?
Marcelus:
"Zanon"
Carolinne: Você falou sobre a agenda que até
está impedindo a banda de agilizar a gravação do segundo CD. A que vocês
atribuem essa agenda lotada?
Marcelus: A esse público
maravilhoso que sarneia, esses homens de bar enchem o saco, cara. Sarneiam
mesmo. Os caras querem rock, não querem mais ouvir blá blá blá. Aí você vem aqui
e sai fedendo, sai suando, pingando, dá o sangue, cara. Porque a gente ama isso,
cara! Eu vejo um monte de banda que não tem a mínima vontade de subir no palco.
Deviam estar no escritório trabalhando. Se for subir no palco para fazer pose,
melhor ficar em casa se olhando no espelho que é muito mais produtivo, eu acho.
A gente deve tudo ao nosso público. Tudo, tudo, tudo. A gente tem o melhor
público do mundo, não é por nada. Tem mais de 20, 30 pessoas com a tatuagem da
nossa banda na pele. É uma coisa realmente muito séria. A gente têm muito
carinho, muito respeito. Outra coisa, os donos de bar ficam loucos porque enchem
os shows. Eles ganham dinheiro, então chamam a gente. Caso contrário eles não
chamavam. Motorocker hoje dá muito lucro para donos de bar. O nosso público bebe
que nem umas vacas, né? Pagam aí 25, 30 paus para ver nosso show. Para os donos
de bar é uma beleza. Amanhã a gente vai tocar em Maringá, esgotaram já, acabaram
todos os ingressos. Oitocentos ingressos. Em Cascavel a gente tocou, na
penúltima vez ficaram 500 pessoas para fora.
Carolinne:
Qual o papel da internet, principalmente do Myspace, na divulgação da banda e
nessa agenda lotada?
Marcelus: A internet é essencial.
Ela abriu muitos caminhos para várias bandas independentes, né?! Ajudou muito.
Hoje a internet derrubou esse lance de “bandinha vendida”. O povão escuta ali e
azar. A gente deve essa quantidade de shows ao Myspace porque com MTV não dá
para contar. Uma rádio do Rio de Janeiro, uma rádio de São Paulo toca nosso som
porque o povo pediu, não foi ninguém que foi lá e levou. Em Curitiba a gente
ficou em primeiro lugar duas semanas. A única banda do Paraná que tinha ficado
em primeiro lugar numa rádio foi Chitãozinho e Xororó. Eles são paranaenses, né?
Não podemos reclamar de nada. Está bom para
cacete!
Carolinne: Vocês começaram como uma banda apenas
de covers do AC/DC, certo? Como ocorreu a transição do cover para as músicas
próprias?
Marcelus: Mais ou menos. A gente já fazia
música própria, mas pelo cover que a gente era conhecido. A gente deve muito ao
cover. Muito, muito. Abriu muita porta. Mesmo a gente achando que bom mesmo é o
original. A gente foi convidado para tocar na Alemanha como AC/DC cover. Eu
falei: “Cara, chega desse troço de cover, pelo amor de deus”. Tem tanta música
boa. Vai que a gente grava e dá certo. Vai que vende disco. Em vez de ir para
Alemanha a gente investiu na Igreja Universal (Igreja Universal do
Reino do Rock é o primeiro CD da Motorocker) e vendeu alguns disco, aí você
já sabe: a menor nota do disco foi nove pelas revistas. Foi tesão para
caralho!
Carolinne: De onde surgiu o nome da banda? Tem
uma linha de celulares da Motorola que se chama Motorokr, mas essa linha surgiu
depois, certo?
Juan: Surgiu bem depois. Uns seis anos
depois
Luciano: O nome da banda, na verdade, era Motor
Rocker. Aí a gente resolveu unir. Por que separar se era motor roqueiro, alguma
coisa assim? E esse lance da Motorola saiu bem depois, como ele falou, e a gente
ficou surpreso para caralho. Inclusive, quando a Motorola lançou os festivais,
porque tem festivais no mundo inteiro da Motorokr, se escrevia da mesma maneira
como a gente escreve o nome da banda. Depois eles mudaram para Motorokr.
Qualquer dia nós vamos processar e ganhar um dinheiro. O que você
acha?
Juan: É bem isso que ele falou. Nós somos um motor
e o nosso combustível é o rock.
Luciano: E a gente nem
gosta de moto, de carro, né? Aí uniu o útil ao agradável: motor com rock. É um
motor roqueiro, tá ligado? As engrenagens fazem com que o rock 'n' roll fique
rolando à solta. Nome mais tesão que isso não
tem.
Carolinne: Como aconteceu o encontro de vocês com
os caras do AC/DC?
Marcelus: Essa é uma longa história.
Aconteceu em 96. Quando eu soube que o AC/DC viria para cá (para o Brasil) eu
fiquei em êxtase. Eu pensei: “O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço?”. Na
época não tinha CDs ainda. Eu tinha várias fitas cassetes e gravava muito show
que a gente fazia. Aí eu escutava as fitas incansavelmente e falei: “Filha da
puta, vou pegar essas músicas aqui” e comecei a fazer uma seleção de covers do
AC/DC. Gravei umas 20 vinte fitas cassetes e fui entregando para um monte de
gringo ali na Pedreira (local onde aconteceu o show), fiz amizade com todo
mundo. Umas das fitas caiu nas mãos do Bob Winnie e outra caiu nas mãos do
Malcolm (guitarrista do AC/DC). Quando eu fui na Pedreira ver a passagem de som
do Angus, não tinha celular na época e nosso ex-guitarrista tava no hotel
(Motocorocker havia se hospedado no mesmo hotel que o AC/DC). Aí eu vi o Angus
saindo de trás do amplificador com a guitarra. Eu falei: “Meu deus, olha o Angus
ali, cara. Caralho!”. Eu bem devagar andando perto do palco, da barricada, né?
Putz, maior marcação. Louco para levar um pau dos seguranças, né? Mas eu tinha
pego uma pulseira que tava no chão, rasgada, e fiz um enjambre e tava passando
lá dentro com a pulseira, bem falcatrua mesmo! A minha irmã se hospedou no hotel
dos caras para ver eles entrarem e saírem. Aí o Bob Winnie, o cara para quem eu
entreguei a fita, chegou na beira do palco, trouxe o Angus, apontou para mim e
falou umas coisas. Aí o Angus fez assim (sinal positivo) com a cabeça e eu
fiquei estático. Eu pensei: “Eles estão olhando para mim”. Aí eles foram para
trás do palco e eu falei: “Nossa, por que eu não pulei essa barricada e não fui
atrás, fiz alguma coisa?”. De repente os caras saem de trás do palco, vêm em
minha direção e o Angus disse: “Jump the gate (Pule o portão)”. Eu pulei e pedi
para tirar uma foto. Ele disse “Sure, sure (Claro, claro)”. Eu disse “I am a
cover band (Eu sou de uma banda cover)” e ele respondeu “I know, I know. You
have a great future (Eu sei, eu sei. Vocês têm um grande futuro)”. Ele falou:
“Eu nunca vi um cover tão bom da nossa banda. Vocês estão de parabéns”. Ele
repetiu três vezes “Você tem um grande futuro”. Tirei uma foto com ele e sai
peidando, correndo, cara, quase me caguei nas calças. Fui para o hotel contar
para minha irmã, para todo mundo que eu tinha tirado uma foto com o Angus e
quando cheguei lá, o nosso guitarrista estava gaguejando. Eu falei: “Cara, você
não sabe o que aconteceu”. Ele disse: “Se..se..sei. Você que não sabe o
que...que aconteceu”. O Malcolm tinha descido no hotel e falado a mesma coisa.
Aí o vocalista, o Brian, ele não estava na Pedreira, estava no hotel. Ele
perguntava “Where is the fucker singer? (Onde está a porra do vocalista?)”. Ele
queria me conhecer e eu estava na Pedreira. Foi um desencontro maravilhoso! Foi
o maior pontapé na bunda que a gente poderia levar para frente. E outra: tinha
uma música própria nossa chamada "Rock 'n Roll Old Fashioned" e eles
gostaram.
Carolinne: Como vocês conseguiram a cessão de
"Back in Black" (música do AC/DC)?
Marcelus: Você grava
a música, vai até eles, a produção, e eles liberam a música ou não. Para os
Beastie Boys eles não liberaram. Para a Motorocker eles liberaram sem cobrar
direitos. É uma glória! "Back in Black" é um dos maiores hits do mundo. Somos
uma banda aqui do Paraná, de Curitiba. Quer dizer, eu acho que alguma coisa está
acontecendo com a gente.