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Matéria 8181, publicada em 08/04/2009.


:Carolinne Sagaz

Luciano (à direta) e Marcelus: para vocalista, o cover não supera o original

Motorocker tem shows agendados até 2010

Carolinne Sagaz


A gravação do segundo CD e a participação de um tributo ao Nazareth, produzido pelo ex-guitarrista Manny Charlton, são alguns dos compromissos da Motorocker em 2009. A banda de Curitiba que começou em 1993, fazendo cover de AC/DC, tem show marcado até 2010, incluindo o que irá abrir para o Motörhead, dia 12. O vocalista Marcelus, o baixista Silvio, o baterista Juan e os guitarristas Thomas e Luciano se apresentaram em Joinville, sexta-feira (3 de abril), na inauguração do Don Rock Pub. Começaram com a música "Vamo Vamo", tocaram covers de bandas como Iron Maiden e Black Sabbath (a pedido da plateia) e fizeram o público chegar ao auge do entusiasmo ao som de "Salve a Malária". Ao final do show - em uma das mesas do bar e sendo interrompidos continuamente por fãs segurando câmeras fotográficas e encartes do CD Igreja Universal do Reino do Rock – a Motorocker falou à Revi sobre os CDs a serem lançados, a agenda lotada e o encontro com o AC/DC em 1996.


Carolinne: Qual o andamento da gravação do segundo CD da Motorocker?

Marcelus: Estamos aí com algumas músicas já pré-produzidas, são quatro, né? E está indo legal. A gente só não vai mais rápido um pouco porque a agenda é meio, meio complicada, né? Nós temos show até 2010, para você ter uma ideia, marcado. E o que move a banda, o que paga essas coisas é show. Então a gente não pode abrir mão, a gente não pode se dar ao luxo porque nós somos uma banda independente e dependemos de todo o cachê que vem para colocar nos discos, para gravar, para bancar show em cidades que ninguém conhece a gente. Mas está indo, está indo. Em maio ou junho o CD sai. Lindo e maravilhoso! Sem erros como teve o primeiro. A gente teve muito errinho.

Carolinne: Qual o provável nome do segundo CD?

Marcelus: Sangue no Olho, Rock na Veia.

Carolinne: Qual o andamento da gravação do tributo ao Nazareth?

Marcelus: Está estranho o negócio! Não sei, não sei. O Manny Charlton (ex-guitarrista do Nazareth e produtor do tributo) não falou mais nada a respeito disso. Ele estava até tendo uma briga judicial com a banda original, que está com o nome, né?

Carolinne: Como a Motorocker entrou no projeto do tributo ao Nazareth?

Marcelus: Foi numa porra de uma cagada. Nosso baterista falou: “Cara, o Manny Charlton do Nazareth está querendo fazer um tributo, está selecionando bandas do mundo inteiro” e a primeira coisa que a gente falou foi “Pô, cara. Tá louco. A gente não vai conseguir entrar. São bandas muito fortes que têm lá. Imagina nós disputando, não temos nem estrutura, estúdio, nada, cara”. Aí a gente perdeu o prazo, o Manny Charlton deu mais 15 dias. Aí eu falei para o pessoal: “Cara, vamos arriscar? Vamos pegar uma música relativamente difícil do Nazareth?” Que nenhuma banda tinha pego ainda: a "Telegram". Desde então, foi a música mais elogiada por ele no nosso Myspace. Ele falando no MSN, lá dos Estados Unidos, que foi a versão que ele mais gostou. No disco um, a música um é da Motorocker, do Brasil. Ele até fala indignado: “A band from Brazil? (Uma banda do Brasil?)”. Como se o Brasil não tivesse banda de rock, sabe?

Carolinne: Então vocês escolhiam uma música, gravavam e mandavam o material?

Marcelus: Isso. Ao deus dará.

Carolinne: Qual a importância de participar de um projeto como esse?

Marcelus: Eu acho que é excelente para nós. Tomara que a gente abra caminho para um monte de outras bandas boas. Não só isso, mas todas as coisas que estão acontecendo com a banda são maravilhosas: nós temos show até 2010; nós temos o melhor público que uma banda poderia ter, um público maravilhoso. São extremamente fiéis, não brigam, agitam se arrebentam ali. É rock na veia! Sangue no olho, rock na veia. É importantíssimo, claro, esse tributo. Só que é um cover. Eu sempre digo: nós fomos considerados o melhor cover do AC/DC no mundo pela banda em 96, mas, para nós, nada substitui o original. Nada, nada, não adianta. Se eu quiser sair de casa para ver uma banda cover, prefiro escutar o original em casa. Apesar de que é legal você ver uma banda que toca vários covers numa noite, mas nada substitui o original. O original é imbatível!

Carolinne: Vocês vão abrir o show do Motörhead dia 12...

Marcelus: Outra pancada no saco. Imagina, nós vamos infartar!

Carolinne: E vocês abriram os shows do Deep Purple e do Glenn Hughes. Qual a principal diferença entre o show que vai abrir para o Motörhead e os dois que vocês já abriram?

Marcelus: O Glenn Hughes, para mim, é um dos melhores vocalistas do mundo, se não for o melhor. O Purple tem o Gillan, tem o Morse, Ian Paice, aquela banda hard glover, né?! É uma banda que amo, descobri quando criança, só que o Motörhead é mais a nossa veia. O Motörhead é mais Motorocker. Quer dizer, a gente é mais eles, né? Nós somos descendentes indiretos deles. Isso é mais um chute no rim, né? Como é que é? Um chute de bota no fio da costela: dói! Eu amo Motörhead! Estamos numa grande fase: vendemos todos os discos. Vendemos discos para o mundo inteiro. Vendemos 5000 discos em oito meses, sem MTV, sem nada, cara. Tesão para caralho! Para quem tocou por um prato de comida, nós estamos muito bem. A gente não desistiu quando tocava por comida, imagine agora. Vão ter que nos aguentar! Os cu de frango, os boyzinhos, os piás de prédio vão ter que aguentar a gente, cara. Porque a malária (em referência à música "Salve a Malária") está na área.

Carolinne: O set list do show que vai abrir para o Motörhead já está pronto? No show de hoje, vocês tocaram bastante covers. Lá também?

Marcelus: Aqui é uma coisa meio atípica porque tem um povo meio esquisito, né? Tem um povo que só veio ouvir cover mesmo. Os nosso fãs vieram para escutar só música nossa. Mas também eles não têm culpa. Pagaram para entrar, então a gente vai tocar o que o povão quer ouvir. Nós não somos ninguém para virar as costas e dizer “Vão escutar o que a gente tocar e pronto”. Não! Todo mundo que entrou aqui no show vai falar “Meu ingresso valeu a pena”. A gente tocou nossas músicas e tudo que o povo pediu a gente tocou. A gente tem 180 músicas no repertório, então não é muito difícil.

Carolinne: Por enquanto vocês não vão tocar as músicas novas?

Marcelus: Estamos tocando em Curitiba. Em Minas Gerais também já tocamos. E vamos tocar lá no show do Motörhead uma música que eu fiz para um amigo meu falecido.

Carolinne: Qual o nome da música?

Marcelus: "Zanon"

Carolinne: Você falou sobre a agenda que até está impedindo a banda de agilizar a gravação do segundo CD. A que vocês atribuem essa agenda lotada?

Marcelus: A esse público maravilhoso que sarneia, esses homens de bar enchem o saco, cara. Sarneiam mesmo. Os caras querem rock, não querem mais ouvir blá blá blá. Aí você vem aqui e sai fedendo, sai suando, pingando, dá o sangue, cara. Porque a gente ama isso, cara! Eu vejo um monte de banda que não tem a mínima vontade de subir no palco. Deviam estar no escritório trabalhando. Se for subir no palco para fazer pose, melhor ficar em casa se olhando no espelho que é muito mais produtivo, eu acho. A gente deve tudo ao nosso público. Tudo, tudo, tudo. A gente tem o melhor público do mundo, não é por nada. Tem mais de 20, 30 pessoas com a tatuagem da nossa banda na pele. É uma coisa realmente muito séria. A gente têm muito carinho, muito respeito. Outra coisa, os donos de bar ficam loucos porque enchem os shows. Eles ganham dinheiro, então chamam a gente. Caso contrário eles não chamavam. Motorocker hoje dá muito lucro para donos de bar. O nosso público bebe que nem umas vacas, né? Pagam aí 25, 30 paus para ver nosso show. Para os donos de bar é uma beleza. Amanhã a gente vai tocar em Maringá, esgotaram já, acabaram todos os ingressos. Oitocentos ingressos. Em Cascavel a gente tocou, na penúltima vez ficaram 500 pessoas para fora.

Carolinne: Qual o papel da internet, principalmente do Myspace, na divulgação da banda e nessa agenda lotada?

Marcelus: A internet é essencial. Ela abriu muitos caminhos para várias bandas independentes, né?! Ajudou muito. Hoje a internet derrubou esse lance de “bandinha vendida”. O povão escuta ali e azar. A gente deve essa quantidade de shows ao Myspace porque com MTV não dá para contar. Uma rádio do Rio de Janeiro, uma rádio de São Paulo toca nosso som porque o povo pediu, não foi ninguém que foi lá e levou. Em Curitiba a gente ficou em primeiro lugar duas semanas. A única banda do Paraná que tinha ficado em primeiro lugar numa rádio foi Chitãozinho e Xororó. Eles são paranaenses, né? Não podemos reclamar de nada. Está bom para cacete!

Carolinne: Vocês começaram como uma banda apenas de covers do AC/DC, certo? Como ocorreu a transição do cover para as músicas próprias?

Marcelus: Mais ou menos. A gente já fazia música própria, mas pelo cover que a gente era conhecido. A gente deve muito ao cover. Muito, muito. Abriu muita porta. Mesmo a gente achando que bom mesmo é o original. A gente foi convidado para tocar na Alemanha como AC/DC cover. Eu falei: “Cara, chega desse troço de cover, pelo amor de deus”. Tem tanta música boa. Vai que a gente grava e dá certo. Vai que vende disco. Em vez de ir para Alemanha a gente investiu na Igreja Universal (Igreja Universal do Reino do Rock é o primeiro CD da Motorocker) e vendeu alguns disco, aí você já sabe: a menor nota do disco foi nove pelas revistas. Foi tesão para caralho!

Carolinne: De onde surgiu o nome da banda? Tem uma linha de celulares da Motorola que se chama Motorokr, mas essa linha surgiu depois, certo?

Juan: Surgiu bem depois. Uns seis anos depois

Luciano: O nome da banda, na verdade, era Motor Rocker. Aí a gente resolveu unir. Por que separar se era motor roqueiro, alguma coisa assim? E esse lance da Motorola saiu bem depois, como ele falou, e a gente ficou surpreso para caralho. Inclusive, quando a Motorola lançou os festivais, porque tem festivais no mundo inteiro da Motorokr, se escrevia da mesma maneira como a gente escreve o nome da banda. Depois eles mudaram para Motorokr. Qualquer dia nós vamos processar e ganhar um dinheiro. O que você acha?

Juan: É bem isso que ele falou. Nós somos um motor e o nosso combustível é o rock.

Luciano: E a gente nem gosta de moto, de carro, né? Aí uniu o útil ao agradável: motor com rock. É um motor roqueiro, tá ligado? As engrenagens fazem com que o rock 'n' roll fique rolando à solta. Nome mais tesão que isso não tem.

Carolinne: Como aconteceu o encontro de vocês com os caras do AC/DC?

Marcelus: Essa é uma longa história. Aconteceu em 96. Quando eu soube que o AC/DC viria para cá (para o Brasil) eu fiquei em êxtase. Eu pensei: “O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço?”. Na época não tinha CDs ainda. Eu tinha várias fitas cassetes e gravava muito show que a gente fazia. Aí eu escutava as fitas incansavelmente e falei: “Filha da puta, vou pegar essas músicas aqui” e comecei a fazer uma seleção de covers do AC/DC. Gravei umas 20 vinte fitas cassetes e fui entregando para um monte de gringo ali na Pedreira (local onde aconteceu o show), fiz amizade com todo mundo. Umas das fitas caiu nas mãos do Bob Winnie e outra caiu nas mãos do Malcolm (guitarrista do AC/DC). Quando eu fui na Pedreira ver a passagem de som do Angus, não tinha celular na época e nosso ex-guitarrista tava no hotel (Motocorocker havia se hospedado no mesmo hotel que o AC/DC). Aí eu vi o Angus saindo de trás do amplificador com a guitarra. Eu falei: “Meu deus, olha o Angus ali, cara. Caralho!”. Eu bem devagar andando perto do palco, da barricada, né? Putz, maior marcação. Louco para levar um pau dos seguranças, né? Mas eu tinha pego uma pulseira que tava no chão, rasgada, e fiz um enjambre e tava passando lá dentro com a pulseira, bem falcatrua mesmo! A minha irmã se hospedou no hotel dos caras para ver eles entrarem e saírem. Aí o Bob Winnie, o cara para quem eu entreguei a fita, chegou na beira do palco, trouxe o Angus, apontou para mim e falou umas coisas. Aí o Angus fez assim (sinal positivo) com a cabeça e eu fiquei estático. Eu pensei: “Eles estão olhando para mim”. Aí eles foram para trás do palco e eu falei: “Nossa, por que eu não pulei essa barricada e não fui atrás, fiz alguma coisa?”. De repente os caras saem de trás do palco, vêm em minha direção e o Angus disse: “Jump the gate (Pule o portão)”. Eu pulei e pedi para tirar uma foto. Ele disse “Sure, sure (Claro, claro)”. Eu disse “I am a cover band (Eu sou de uma banda cover)” e ele respondeu “I know, I know. You have a great future (Eu sei, eu sei. Vocês têm um grande futuro)”. Ele falou: “Eu nunca vi um cover tão bom da nossa banda. Vocês estão de parabéns”. Ele repetiu três vezes “Você tem um grande futuro”. Tirei uma foto com ele e sai peidando, correndo, cara, quase me caguei nas calças. Fui para o hotel contar para minha irmã, para todo mundo que eu tinha tirado uma foto com o Angus e quando cheguei lá, o nosso guitarrista estava gaguejando. Eu falei: “Cara, você não sabe o que aconteceu”. Ele disse: “Se..se..sei. Você que não sabe o que...que aconteceu”. O Malcolm tinha descido no hotel e falado a mesma coisa. Aí o vocalista, o Brian, ele não estava na Pedreira, estava no hotel. Ele perguntava “Where is the fucker singer? (Onde está a porra do vocalista?)”. Ele queria me conhecer e eu estava na Pedreira. Foi um desencontro maravilhoso! Foi o maior pontapé na bunda que a gente poderia levar para frente. E outra: tinha uma música própria nossa chamada "Rock 'n Roll Old Fashioned" e eles gostaram.

Carolinne: Como vocês conseguiram a cessão de "Back in Black" (música do AC/DC)?

Marcelus: Você grava a música, vai até eles, a produção, e eles liberam a música ou não. Para os Beastie Boys eles não liberaram. Para a Motorocker eles liberaram sem cobrar direitos. É uma glória! "Back in Black" é um dos maiores hits do mundo. Somos uma banda aqui do Paraná, de Curitiba. Quer dizer, eu acho que alguma coisa está acontecendo com a gente.

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