O rock de Joinville sobrevive. Com recursos próprios e com
ferramentas de divulgação disponíveis como a internet, bandas locais buscam seu
espaço na concorrida cena musical contemporânea. Da nova safra, destacam-se Fevereiro da Silva (foto
acima, de Igor Tiogo), Sanchez e Praga, que recentemente
lançaram gravações demos próprias. O reconhecimento vem em forma de shows na
cidade e região.
Através da internet e dos correios, a banda Fevereiro da Silva, enviou cópias
de seu primeiro EP, chamado Funil, para gravadoras, festivais, revistas e
jornais. As cinco músicas próprias também foram disponibilizadas em sites como
Myspace, TramaVirtual, PalcoMp3 e LastFM.
Augusto Luciano Ginjo é guitarrista da banda e está no grupo há dois anos e
meio. Segundo ele, foram prensadas mil cópias do EP. O lançamento ocorreu no dia
31 de maio, no Old Music Bar, em Joinville. Cerca de 500 EPs foram distribuídos,
mas nenhuma proposta de trabalho foi feita. De acordo com o guitarrista, a
principal intenção era a divulgação. As influências do Fevereiro da Silva são as
mais variadas, passando por personalidades como Ozzy Osbourne e Chico Buarque ou
bandas como Los Hermanos e Paralamas do Sucesso.
Como foi a primeira experiência da banda e da gravadora, foi feito um acordo
sem custos com a finalidade de divulgar as músicas e o estúdio. A maior
dificuldade do Fevereiro da Silva no processo de gravação foi o tempo: por serem
seis integrantes, houve problemas para juntar todos os músicos em um mesmo
horário. Depois do lançamento, a banda ganhou espaço no município, tendo seus
trabalhos apresentados nas rádios Atlântida e Udesc FM. Além da divulgação, os
números de shows, de público e de cachê também aumentaram. Durante dois meses,
depois do lançamento, a banda tocou em Guaramirim e em eventos dentro de
Joinville. “Eu acredito que quem faz música própria é valorizado pela imprensa
local e pela galera que acompanha bandas da região”, completa Augusto.
Hoje o grupo está mais experiente e não busca somente a divulgação. A atual
preocupação é relacionada com o timbre dos instrumentos e com as diferentes
técnicas sonoras que podem ser aplicadas nas músicas. Segundo Augusto, para as
novas gravações a banda tentará o patrocínio de editais como o Sistema Municipal
de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec) de Joinville e o Elizabet Anderle da
Fundação Cultural de Rio do Sul. Se o dinheiro não vier, o grupo está disposto a
se endividar e financiar a própria gravação.
Sobre a falta de incentivo e de casas para shows em Joinville, Augusto
acredita que o trabalho da Associação de Músicos de Joinville (Amuj) pode ser
uma alternativa. De acordo com Augusto, a associação garante descontos em
estúdio e lojas, além de contribuir nas produções de eventos. Isso pode ser, diz
o guitarrista, um começo de projetos como o da Casa Célula, em Florianópolis,
sustentado por um grupo de bandas da Capital.
First Thrash é demo do Praga (foto acima, divulgação),
outra banda joinvilense com conteúdo próprio. Com um estilo voltado para o
thrash metal dos anos 80, a banda produziu 500 cópias de uma demo com seis
músicas, lançada em outubro de 2008 no festival Sarrafada da Soliedariedade, na
Sociedade Avaí, em Joinville. De acordo com Angelo Bracht, guitarrista do Praga,
por ser um estilo “diferente do habitual” e “graças à internet”, as músicas da
banda foram divulgadas em compilações do Canadá (Chaos thrash Vol. 1,
produzido pela Capitalicide Records) e Portugal (Tunel of Death, da
Guilhotine Records) e em revistas como a Hard Rocker da Polônia e
República Tcheca.
Na gravação a banda não teve problemas. De acordo com Angelo, quase todos os
integrantes entendem de áudio. O processo foi feito de maneira caseira, já que o
próprio guitarrista faz trabalhos em estúdios de gravação para outras bandas
locais. No entanto, a divulgação foi complicada: o público joinvilense gosta de
bandas covers e de bandas de “fora”, o que resulta na desvalorização dos
trabalhos locais. O que surpreende a Praga são os acessos de pessoas de fora da
cidade no Myspace e o fato de o público ter aumentado nas apresentações com
pessoas até gritando as músicas do grupo.
Angelo reconhece que, ao contrário de Joinville, em outras cidades como São
Paulo as pessoas “prestigiam as bandas” e gostam de músicas novas, querem ouvir
o “trabalho do grupo”. Sobre a infraestrutura, o guitarrista diz que os
equipamentos mais “fuleiros” de São Paulo não são encontrados nem nos melhores
estúdios da cidade catarinense. Além dessas diferenças, a “limpeza impecável, a
parte elétrica estável e os grandes palcos” também expõem a qualidade das
apresentações nas outras cidades.
O público do Praga em Joinville na maioria das vezes é formado por amigos e,
segundo Angelo, são eles mesmos que fazem o show. “A gente toca pra ver eles se
matando lá em baixo, saca? Então é assim mesmo, rockeragem braba, tomando
maracujá e se quebrando nas rodas. Fazendo o rock acontecer”.
Para Marcos Maia, vocalista e guitarrista da banda Sanchez, antigamente já
existia uma espontaneidade na cidade, os músicos já buscavam seu espaço,
produzindo materiais próprios e shows. Segundo o vocalista, hoje com o formato
MP3 houve uma revolução. As músicas se tornaram acessíveis e, assim, as bandas
ganharam muito em termos de divulgação.
A Sanchez, na opinião de Marcos, não pertence a nenhum estilo ou rótulo
musical, mas já tem alguns materiais gravados. A intenção da banda é produzir um
CD inteiro e disponibilizá-lo na internet. Nos últimos anos o grupo ganhou um
caráter mais experimental. A diversidade de influências e a busca por uma
sonoridade autêntica e de qualidade cria, segundo Marcos, a necessidade de bons
recursos para uma gravação mais detalhada.
Em Joinville, eventos reunindo bandas locais raramente recebem patrocínio da
prefeitura, mas para Marcos “sempre foi assim”. Segundo ele, é natural que os
eventos sejam organizados pelos indivíduos envolvidos com o meio como
estudantes, movimentos sociais e músicos. Essa é uma solução que, para ele, não
está presente só na música, mas nas outras vertentes da cultura.
Ainda segundo o vocalista, as bandas de rock e, principalmente, as bandas com
músicas próprias, fazem parte de um ramo específico e limitado. Esse é um dos
motivos da dificuldade de manter um negócio como uma casa específica para shows.
Para ele, existem pessoas envolvidas e fiéis que “curtem esse tipo de música”,
mas não é o suficiente.