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Matéria 8105, publicada em 31/03/2009.


:Luiza Martin

Filme sobre as relações entre jornalistas de moda foi o objeto de Keila

Trabalho sobre moda e identidade recebe nota 10

Luiza Martin


Prada, Dior, Gucci, All Star, Nike, Adidas, Havaianas, scarpins, mocassins, leggings, saias, ternos, gravatas, camisetas, bermudas, regatas, estampas e acessórios. “O que te veste?”, pergunta o título da monografia de Keila Stoeberl, estudante de Jornalismo. Ela buscou reconhecer “como a moda constrói o ser contemporâneo” e recebeu nota 10, consagrada no dia 30 de março, na sala C-21. O trabalho foi orientado pela professora Fernanda Cruz.

Keila assistiu o filme O diabo veste Prada nove vezes e a película se tornou objeto de estudo da pesquisa, centrada na personagem Andy Sachs, vivida por Anne Hathaway. A moça pouco antenada se percebe inserida no mundo fashion para conseguir dar seu primeiro passo na carreira de jornalista. A princípio ela não acreditava que a moda fazia parte de sua vida, o que mudou no convívio com a chefe Miranda Priestly (interpretada por Meryl Streep) e com os funcionários fashionistas da revista Runway. Andy se tornou assistente de Miranda e construiu uma nova identidade ou, como Keila expressa em seu texto, somatizou identidades: entrou recém-formada em jornalismo e pouco preocupada com aparências; saiu vestindo um manequim menor (de 40 passou para 38) e ostentando uma nova franja, mantida cuidadosamente arrumada. O ajeitar do cabelo, para a monografanda, mostra a assimilação das regras do ambiente em que a jornalista estava inserida, contribuindo no processo de identificação. Por essas e outras razões a moda é “um dos componentes que auxilia na constituição de novas identidades”.

A primeira impressão que a história causou em Keila foi a de Andy como vítima da tirania da moda. Em um segundo momento, a monografanda desconstruiu essa idéia, acreditando que a personagem desempenhava um papel. A performance ajudou a jornalista do filme a experimentar uma cultura até então nova. Keila, a partir da história, afirmou: “No jogo social, no movimento da representação, compreendi a moda como um elemento que contribui para a pluralidade de identidades. O sujeito, pelo que pude observar, se utiliza da moda para se comunicar com o contexto social em que está inserido”.

“Você foi uma boa regente”, disse a Keila a professora de moda Daniela Schimidt , que veio de Porto Alegre, comparando a harmonia entre autores da pesquisa a de uma orquestra. Daniela salientou a apropriação do conceito de moda, referenciada no trabalho pelo sinônimo vestuário. A professora entendeu a intenção da aluna no uso do vocábulo e se ateve a explicar que a palavra pode ter outros significados como arquitetura ou arte, dependendo do contexto. Uma ressalva que a avaliadora fez consistiu no entendimento de que identidade é opção, enquanto identificar-se remete a um processo gradativo e não de escolha. A aluna reconsiderou o emprego do vocábulo e a relação entre identidade e escolha. Voltando à orquestra, a Daniela afirmou que o solo de Michel Foucault se tornou paliativo, pois a relação de poder é pouco explorada na pesquisa.

Outra consideração sobre Foucault foi feita pela professora de Publicidade e Propaganda do Bom Jesus/Ielusc Taís Dassoler. Para contribuir com pesquisas futuras da jornalista, a professora problematizou uma noção do autor: “Ele trata não do conceito de liberdade, mas de práticas de liberdade, ou melhor, práticas de resistência”. Keila concordou com as duas arguidoras, afirmando que “poderia ter explorado melhor Foucault”. Foi no seminário sobre corpo e relação estética, oferecido por Taís em julho de 2008, que a formanda tomou conhecimento de parte das referências bibliográficas presentes na monografia.

Ambas avaliadoras sugeriram leituras para as próximas pesquisas de Keila sobre moda: Daniela indicou Nizia Vilaça e Tais recomendou Maurice Merleau-Ponty e Mikail Bakthin. Aliás, a escassez de bibliografia para pensar as questões sobre o objeto foi uma dificuldade que a orientadora Fernanda Guirmarães Cruz passou com a aluna. No trabalho, Keila se apropria do “bem simbólico” de Pierre Bourdieu para explicar a relação entre marca e mercado citando que o bem “permite vender um pouco de tudo: sonhos, talvez, ilusões, além de produtos nos quais a parcela de criação é mais ou menos importante”.

Keila simpatizou com Andy. Elas compartilham características como o interesse pelo jornalismo, mas o desejo de trabalhar em uma revista de moda ficou mais evidente na estudante do Ielusc. “Eu daria tudo para estar no lugar de Andy”, comentou Keila, que percebeu, com o passar do tempo, a semelhança entre as roupas que comprava e as da personagem. Depois de estudar o filme e experimentar o universo da moda por meio do cinema, ela entrará em um curso de corte e costura. Conhecerá a textura dos tecidos e aprenderá a arquitetar suas próprias roupas.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.