Na próxima quarta-feira, 1º de abril, será votado no Supremo Tribunal Federal
(STF) o Recurso Extraordinário (RE) 511961 que questiona a exigência do diploma
universitário para a prática jornalística. Caso seja aprovado, qualquer pessoa
poderá requerer seu registro de jornalista no Ministério do Trabalho.
Profissionais que já atuam na área sem formação acadêmica defendem essa medida
como garantia do direito de expressar suas ideias, mas os jornalistas que
possuem diploma universitário acreditam que o recurso afetará a qualidade da
imprensa brasileira. O decreto de lei que exige o certificado acadêmico foi
criado em 17 de outubro de 1969 e modificado em março de 1979. Por ser elaborado
durante o regime militar, muitos usam essa desculpa como o principal motivo para
revogá-la.
Silvio Melatti, coordenador e professor do curso de Jornalismo do Bom
Jesus/Ielusc, descreve esse pensamento como “uma grande bobagem”. Para ele, esse
tipo de raciocínio é medíocre. “Já havia antes do regime um movimento que
defendia o diploma universitário para a profissão”. O jornalista crê que os
militares se aproveitaram da situação para fazer “uma média” com os jornalistas,
mas tentar derrubar essa lei só por esse motivo é ingenuidade. “A desculpa é de
que a lei foi criada pelos militares quando na
verdade os motivos para derrubá-la são outros”.
Outro ponto que deixa o professor
irritado é a escolha da data para a votação do recurso. “Primeiro de abril é
conhecido como o dia da mentira, mas também é do golpe de 64. Os militares
reconheceram o dia da revolução como 31 de março justamente por causa disso, mas
quem estava lá sabe que os tanques saíram de Minas Gerais na madrugada do dia
primeiro de abril daquele ano”, explicou Melatti.
O jornalista José Carlos Torves, do Departamento de Mobilização, Negociação
Salarial e Direitos Autorais da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas),
acredita que há um empate técnico na votação dos 11 ministros. “Conversamos
com todos. Pessoalmente conseguimos identificar quem é contra e quem é a favor
do diploma mas ninguém revelou o voto”. Para o dia da votação, Torves
informou que haverá caravanas vindas de todos os estados. “Pretendemos lotar o
plenário e também concentrar todas essas pessoas que nos apoiam em frente ao
STF”. Antes disso, no dia 31 de março, jornalistas farão manifestações em frente
aos tribunais de justiça em todos os estados.
Em Florianópolis, também do dia 31 de março, será lançado o evento “Círculo
da Palavra”, às 19 horas no auditório da Fecesc (Federação dos Trabalhadores no
Comércio no Estado de Santa Catarina). Essa primeira edição terá como tema
“Jornalismo sem formação superior específica? Comunicação sem jornalismo?” e
também a segunda edição do livro “Formação superior em jornalismo – Uma
exigência que interessa à sociedade”, organizado pela Fenaj. Estarão presentes
no evento os jornalistas Nilson Lage, Valci Zuculoto e Eduardo Meditsch.