Nota máxima foi atribuída ao feio na propaganda. Mas, calma! Não significa
que padrões estéticos caíram por terra. Tal avaliação se deve ao trabalho “A
feiúra na publicidade e propaganda”, de Mirian Thayse Geiser, defendido na sala
C-21 do Bom Jesus/Ielusc, às 14 horas do dia 25 de março. A monografanda
analisou, orientada por Gleber Pieniz, a presença do “não belo” em
campanhas. Mesmo a beleza sendo indispensável na publicidade, o
trabalho mostra que é possível encontrar o belo na feiúra, tornando-o
independente dela.
Mirian dividiu em dois os tipos de feiúra na
publicidade e propaganda: “o feio com tom cômico” e “a ausência do belo”.
Segundo ela, a primeira sensação que uma figura sem beleza pode causar tende a
ser negativa e a mudar a medida que se reflete sobre a imagem. Por exemplo:
diante de uma figura mutilada o sujeito que a interpreta pode entender que é um
privilegiado, sentido-se bem e reagindo positivamente em relação à mensagem — o
que é próprio da beleza e não da feiúra. O belo também pode ser encontrado na
fealdade. O garoto Bombril, longe de ser símbolo sexual, é um exemplo do feio
simpático. O que o torna bonito é “a doçura” e o “humor”. Por isso, no trabalho
são reunidas várias maneiras de relativizar a feiúra na publicidade. Os
movimentos reflexivos dessa relativização levaram a autora a reconceituar o
feio, que passa a ser um “segundo elemento estético”, ao invés de, apenas,
oposição à beleza.
“(...) A feiúra começa a assumir um novo papel. Ela
ocupa (e quem sabe cada vez mais) um espaço público, causando possivelmente um
desconforto. A partir daí torna-se parte de um cotidiano, de uma rotina, de uma
normalidade, que em breve se tornará razoável e sairá em busca de um novo ideal,
conforme o que acontece com o belo na teoria de [Charles] Peirce”, escreveu
Mirian na sua conclusão.
Beleza é indispensável. A propaganda não pode
se desvincular do belo, segundo professor de Publicidade e Propaganda Antônio
Pinto, um dos avaliadores da banca. As pretensões de um publicitário são inserir
o consumidor em um mundo de fantasia, fazendo-o desejar produtos, pois “a
realidade é vivida todos os dias e, por isso, é muito chata”. Assim nascem os
mitos, sempre existentes e mutáveis conforme o contexto histórico. Para o
professor, os artigos de consumo trazem características próprias do que é mítico
e a publicidade busca respostas para a pergunta: “O que faz com que você se
sinta todo poderoso hoje”. A beleza, de acordo com Pinto, é o canal mais aceito
pela sociedade, por essa razão está sempre presente em algum elemento ou padrão
do informe publicitário. “O feio não é bem aceito pela convenção social”,
afirmou.
Antônio elogiou o trabalho de Mirian: “Foi a melhor monografia
que li em todos os 10 anos de curso”. A afirmação categórica se refere à
experiência reflexiva que a pesquisa proporcionou ao avaliador. “Adoro gerar
sinapses, parece que o cérebro vai engordando”, disse o professor em tom de
brincadeira. Outro aspecto positivo do trabalho diz respeito à orientação, que
mesclou os pontos de vista de um jornalista (Gleber) ao da aluna de Publicidade
e Propaganda — uma mistura “genial”, que Pinto recomenda.
Juliana
Bonfante, professora de Publicidade e Propaganda e avaliadora da banca, gostou
tanto do trabalho que nem queria devolvê-lo para a aluna (não antes de tirar
cópia de todas as páginas). Ela parabenizou a monografanda pelo texto muito bem
escrito, pela escolha das linhas teóricas, que transita por conceitos de beleza
da filosofia clássica à contemporaneidade. “Deu para sentir o teu mergulho”,
disse a professora para sua ex-aluna.
O tema de pesquisa surgiu para
Mirian quando o livro “A história da feiúra” foi lançado em Joinville. Até
então, a fealdade para ela consistia no “muito óbvio” e “tudo era belo na
publicidade e propaganda”. O processo de orientação passou por duas etapas. A
primeira com o ex-professor de Publicidade e Propaganda Álvaro Dias e a
segunda com Gleber Pieniz, a quem a aluna será “eternamente grata”.