O acadêmico de Jornalismo Tiago Luis Pereira apresentou na segunda-feira, 23 de março, sua defesa de monografia. Com orientação do professor Sílvio Melatti, Tiago falou sobre “A ironia como possível leitura da obra de João Gilberto”. Para a apresentação, leu um texto sobre a decisão da escolha do tema, antecipou alguns dos seus erros e destacou sua dedicação. Os avaliadores da banca percorreram caminhos diferentes para analisar o ensaio. O professor Gleber Pieniz usou como argumento os aspectos formais enquanto Alexandre Carrasco, doutor em filosofia pela USP, destacou as ideias abordadas no trabalho. Apesar da ênfase nas críticas, o monografando foi aprovado com nota 7,5.
Tiago iniciou sua defesa explicando os motivos pela escolha do tema. Segundo o acadêmico, o comportamento de João Gilberto contribuiu para que ele buscasse relacionar a ironia com as obras do músico. Para fazer esta ligação entre a filosofia e a canção, Tiago buscou base em teóricos como Soren Kierkegaard, Michel de Montaigne e Luiz Tatit, além dos conhecimentos musicais de seus amigos. Baterista, o acadêmico escolheu o assunto por amor à música, além de admirar os trabalhos de João Gilberto. “Ele criava acordes que sacaneavam a harmonia”, explicou o monografando ao citar a fuga de João das regras musicais – o que, segundo o ensaio que escreveu, era uma de suas ironias.
Buscando argumentos filosóficos, Carrasco criticou alguns fatores no trabalho do acadêmico. Para ele, faltou ser mais explícito na tarefa de analisar as canções de João através da ironia. Com quase um hora de fala, o doutor em filosofia procurou reforçar um conceito de ironia que se diferenciasse do senso comum. Usando os próprios Kierkegaard e Montaigne, citou costuras possíveis entre a filosofia e as obras de João que não foram aproveitadas por Tiago. Na avaliação de Carrasco, faltaram também fatores históricos como a industrialização da música, a cristalização da canção como gênero e sua consequente expectativa por parte do público. Ao final, o professor convidado fez uma crítica à música popular brasileira ao responder sua própria pergunta: “Por que a impressão de hegemonia da canção na música popular brasileira?”. Para ele, esse triunfalismo é o sintoma da falta de um projeto nacional.
Gleber usou uma leitura diferente e complementar daquela de Carrasco. “Fiquei um pouco preso na forma”, resumiu. O avaliador sentiu-se surpreso ao ler a monografia, pois esperava mais do texto e do próprio Tiago, que “inspirou-se, mas não alimentou as ideias”. Para ele, o monografando fez muitos rodeios e não conseguiu chegar em uma conclusão original. “Faltou organização dos elementos de pesquisa”, completou. Algumas citações, segundo Gleber, ficaram soltas, sem referência às fontes. Outro problema encontrado foi a falta de profundidade no desenvolvimento do tema. O professor declarou que o ensaio deveria trazer contribuições de mais fontes, além de não apenas aceitar o que é dito por elas, mas discutir com cada pensador. “Faltou autoria no ensaio, é preciso questionar e dialogar mais com os autores”, explicou. As quatro canções usadas por Tiago como objeto de pesquisa analisado não foram anexadas à monografia, mas apenas seus nomes foram citados. Para Gleber isso é uma falha, já que não se sabe da possibilidade de o avaliador ter essas músicas em mãos para ouvir.
Após o término das críticas, Tiago disse ter saído enriquecido e considerou que elas realmente foram pertinentes. Segundo ele, faltou um pouco mais de teoria em seu trabalho, o que poderia ter conseguido com mais dedicação. O acadêmico não acredita que seu trabalho seja tão importante para a sociedade, mas para ele tem uma grande relevância, pois aprendeu muito na pesquisa. Mesmo com esse ganho pessoal, Tiago esperava mais do resultado final de seu trabalho.
A banca demorou 40 minutos para decidir a nota e voltar para sala C-20. O nervosismo de Tiago só terminou quando, da boca de seu orientador, ouviu a palavra “aprovado”.
*Acadêmico de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc