Um, dois, três, quatro, cinco. Deveria ser uma contagem regressiva, pois se
trata de uma despedida. Mas, ela é progressiva pelo número de abraços. Mais de
30 desses gestos foram trocados durante a confraternização que marcou a saída de
Samuel Pantoja Lima do Bom Jesus/Ielusc. Na sexta-feira 13 do mês de março,
Samuca chegou à última página do livro que escreveu no Ielusc, em idas e vindas
que somaram quase 10 anos de história.
Na sala dos professores, na unidade central, reuniram-se pessoas de
diferentes setores do Bom Jesus/Ielusc. Estavam presentes o pastor e diretor Dr.
Tito Lívio Lermem, além de professores do curso de comunicação social, de
funcionárias da secretaria, de membros do setor financeiro, de estagiários da
instituição, e dos novos coordenadores, Sônia Regina de Oliveira Santos, de
publicidade e propaganda, e Sílvio Melatti, do jornalismo. Todos abraçaram e
foram abraçados por Samuca e puderam ouvir um repertório musical, ao vivo, que
ele escolheu para o dia. Samuel cantou e tocou “Encontros e despedidas”, “Maluco
beleza”, “O tempo não pára”, “Paciencia”, “Tocando em frente” e “Amanhã” —
clássicos da MPB.
A sintonia entre a direção geral e a do curso de jornalismo foi
característica marcante da presença de Samuel na instituição. Em ambas as
instâncias pulsava a idéia de fazer do Bom Jesus/Ielusc um lugar do
conhecimento. “Samuca sempre foi uma voz muito presente na educação. E essa voz
vai soar de forma contundente em outros espaços. Não temos mais um colega
presente, mas o Brasil ganha um grande profissional da educação”, sentenciou o
pastor Tito. Para Samuel, nessa fala, o diretor “foi muito generoso”. O
ex-ielusquiano (e futuro UNBeano) cultiva “a idéia da escola que aprende” e
nunca se deixa acomodar, estando sempre em busca “como o Eterno aprendiz”, de
Gonzaguinha.
Na segunda-feira (16), Samuca começa a fazer a mudança. Vai levar alguns
objetos de Joinville para Jaraguá do Sul, onde moram suas duas filhas, Clara
Duwe Lima e Bárbara Duwe Lima. Levará também alguns pertences para
Florianópolis, lugar em que vive Galeno de Sena Lima, o primogênito. Na
terça-feira (17), Samuel visitará a Universidade de Brasília, para qual foi
aprovado em concurso. Conseguiu o 2º lugar e sua vez parece ter chegado. Ainda
não é certo que a vaga esteja disponível. Só quando confirmada a contratação,
ele saberá se vai a Portugal fazer o pós-doutorado ou se fica no Brasil e abraça
a carreira de professor na UNB.
Dentre esses e outros abraços, Samuca cita o trecho final do discurso de
Eduardo Galeano, proferido em 1988 durante o encontro “Chile cria”, que trazia a
arte a ciência e a cultura pela democracia chilena, em plena ditadura de
Pinochet: “[...] E neste estado de coisas, nós dizemos não à neutralidade da
palavra humana. Nós dizemos não ao divórcio entre a beleza e a justiça, porque
dizemos sim ao seu abraço poderoso e fecundo. Acontece que nós dizemos não, e
dizendo não estamos dizendo sim [...]”.