A comunicação comunitária, a preocupação com a justiça social, os movimentos
sociais e a participação do povo na mídia foram os temas da breve palestra
ministrada na noite de 5 de março por Cicilia Maria Peruzzo, professora de
pós-graduação na Universidade Metodista de São Paulo e convidada pelo professor
Juciano Lacerda a fazer parte da banca de Priscila Noernberg. Para a professora,
o estudante de comunicação — não só os jornalistas — precisa abrir um pouco os
olhos e não pensar apenas na grande mídia, embora o principal produtor de
notícias nos meios comunitários seja o povo.
Na palestra, que não teve
muito espaço para debate devido ao tempo curto, Cicilia deu um panorama da
comunicação comunitária no Brasil comentando que, apesar de haver conflitos de
interesses políticos, partidários e econômicos mesmo nesse meio, também existem
atores sociais que querem ajudar a sociedade. A professora deu vários exemplos
de comunicação comunitária que dão certo (como o Centro de Mídia Independente, a
Agência de Informação Frei Tito para a América Latina e a Agência Carta Maior) e
mostrou vários jornais do gênero, inclusive um impresso em saco de
pão.
“Só a comunidade é capaz de fiscalizar as rádios e TVs
comunitárias”, disse Cicilia, criticando o abandono desses meios depois que a
concessão é dada pelo governo. A lei não permite publicidade em veículos
comunitários, o que impede que eles sejam utilizados por pessoas com interesses
alheios à comunidade, mas que também dificulta a sustentação financeira das
rádios e televisões. Cicilia também falou da dificuldade de se conseguir uma
concessão junto ao Ministério das Comunicações por causa da morosidade do
sistema e dos conflitos de interesses.
“A gente não pode tirar da
comunidade o poder de fazer a própria comunicação”, afirmou a professora.
Cicilia exibiu para os alunos presentes no anfiteatro um vídeo sobre a Rádio
Esperança FM, que é comunitária e funciona em Guaribas, no Piauí. A cidade
serviu de teste para o programa Fome Zero, e, segundo o curta, não tinha apenas
fome de comida, mas também de comunicação — antes da rádio, não existia nem
sinal de TV na cidade.
Quem é:
Cicilia Maria Peruzzo
desenvolve e orienta estudos em comunicação comunitária. Mestre em Comunicação
Social pela UMESP e doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, publicou três livros:
"Relações Públicas no modo de produção capitalista", "Comunicação nos movimentos
populares: a participação na construção da cidadania" e "Televisão Comunitária:
dimensão pública e participação cidadã na mídia local". Foi presidente da
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e
coordenadora do grupo de trabalho Comunicação Popular na Associação Latino
Americana de Investigadores da Comunicação (Alaic).