Quando o ex-prefeito de Joinville Marco Tebaldi trouxe de volta à vida
pública o ex-vereador e ex-prefeito Nilson Bender, tratou logo de rotular a
trajetória do velho político: “Ele é sempre prefeito”, dizia Tebaldi. O título
instigou a estudante de jornalismo Mélani Schmidt, que decidiu apostar na idéia
para a sua monografia. “Queria saber o porquê de chamá-lo de sempre prefeito. E
depois de uma entrevista com o Bender, decidi que era isso que gostaria de
pesquisar”, confessou ela, diante da banca examinadora de sua monografia,
defendida na terça-feira (17), na sala C-21 do Bom Jesus/Ielusc. O trabalho,
orientado pela professora Valdete Daufemback Niehues, obteve nota 9 a partir da
análise dos professores Ilanil Coelho, do curso de História da Universidade da
Região de Joinville (Univille), e Luis Fernando Assunção, do Jornalismo do Bom
Jesus/Ielusc.
Bonachão, cara de vovô, sempre disposto ao diálogo, a
figura de Nilson Bender desperta hoje quase uma unanimidade no meio político.
Mas nem sempre foi assim. Desde quando começou a se envolver com a política,
deixando de lado seu trabalho na Fundição Tupy, Bender enfrentou a ira de
inimigos e a má vontade da mídia local. Bender, ao longo de sua trajetória, teve
uma relação conturbada com o seu partido de origem, a União Democrática Nacional
(UDN), e com o principal veículo de imprensa local, o jornal A Notícia. No
partido, enfrentou boicotes à sua candidatura, especialmente ao governo
estadual, quando perdeu a disputa na convenção de 1965 para Konder Reis,
apadrinhado do cacique Irineu Bornhausen.
Na mídia, Bender enfrentou
resistência em quase todas as suas candidaturas, para vereador e prefeito (cargo
que exerceu entre 1966 e 1969). Frequentemente era alvo de críticas do jornal,
seja em matérias, seja em editoriais escritos contra a sua pessoa. Só alguns
anos depois o jornal mudou de trajetória – fato comum na mídia – e passou a
tecer elogios a Bender, por sua conduta como prefeito e como vereador. A
trajetória de Bender se entrelaça com políticos importantes da história do
Estado, como Pedro Ivo Campos, Colombo Salles (primeiro governador biônico de
Santa Catarina, indicado pela junta militar em 1970), Rolf e João Colin, Harold
Karmann, Baltasar Buschle e Helmut Fallgatter.
O trabalho de Mélani foi
estruturado a partir de conceitos de autores como Francisco Rüdiger, Mauro Wolf
e Fausto Neto, quando discorre sobre a comunicação, Ricardo Noblat, Leão Serva,
Juarez Bahia e Nelson Traquina, quando entra na análise do jornalismo
especificamente, e Pierre Bourdieu, Peter Burke, Zygmunt Bauman e Norberto
Bobbio quando dá noções de política e poder. O seu recorte analisou matérias
publicadas no jornal A Notícia entre 1962, quando Bender foi eleito vereador, e
2004, quando retornou à prefeitura para cargo na ouvidoria, trazido pelo então
prefeito Marco Tebaldi. “O trabalho está bem elaborado, teve uma apresentação
segura. Mas esperava mais da análise do jornal e seus envolvimentos com o poder
local”, reconheceu a professora Ilanil Coelho.
A suposta
superficialidade da análise das matérias também foi lembrada pelo professor Luis
Fernando Assunção, do curso de jornalismo do Bom Jesus/Ielusc. Para ele, a aluna
poderia ter aproveitado mais o material para dar mais pistas sobre os motivos de
o jornal ter diferentes posicionamentos a respeito de uma mesma pessoa. “O que
efetivamente levou o jornal a, em determinado momento criticar o político Bender
e, em outro, elogiar sua atuação frente à prefeitura?”, indagou o professor. A
aluna reconheceu que poderia ter aprofundado um pouco mais na análise das
matérias, mas justificou que isso poderia dar outro direcionamento à sua
pesquisa. Mas, e afinal, descobriu por que Bender foi chamado de “sempre
prefeito”? “Foi um rótulo dado por Marco Tebaldi e que não teve base histórica,
nem no meio político, nem no meio midiático da cidade”, sentencia Mélani, que na
próxima semana muda-se para Brasília (DF), onde vai morar e exercer a
profissão.