Dois anos. Esse foi o tempo de preparação e espera do artista plástico e
arquiteto Marcos Rück para realizar viagem de intercâmbio. Ele chegou a Stein am Rhein, cantão alemão na Suíça, em
2 de julho e permaneceu lá até 28 de setembro deste ano. Os três meses de
intercâmbio mexeram muito com o senso artístico dele. “É um prêmio fantástico
para a vida. Mas é uma faca de dois gumes: agora é um ano de celibato!”, diz
Marcos, refererindo-se ao período que vai levar para retomar projetos e contatos
com clientes. Ele foi vencedor de um concurso realizado pela Fundação Cultural
de Joinville, em 2007.
O intercâmbio é mundial. O artista selecionado
reside em Stein am Rhein por três meses, mora e produz obras no ateliê
Chretzeturm, acoplado a uma torre de observação. Marcos chama o local onde
residiu de mosteiro. "Mas no sentido bom da palavra. É muito confortável!",
explica aos risos. A torre faz parte da Fundação Jakob and Emma Windler, que
leva o nome dos irmãos que a deixaram como legado à cidade, para ser restaurada
e utilizada em projetos culturais. Cada artista ganha uma quantia para se manter
na cidade. Marcos ganhou 1,2 mil francos por mês, cerca de 40 dólares por dia, o
que não considera muito: “Você tem que levar dinheiro a mais, para conseguir se
manter. É assim em qualquer viagem”. Conheceu vários locais da Suíça e pôde
passear de trem por cidades como Milão e Munique.
Uma vida de
sacerdócio
A rotina foi importante para Marcos, ainda mais
morando sozinho no prédio da torre. “Acordava às seis da manhã, bem cedo.
Passeava pela cidade, visitava a exposição e voltava às cinco da tarde. Nem
levei o celular”. Mas havia telefone e internet no local. Assim, ele manteve
contato com amigos e familiares. Chegou à cidade em momento difícil, pois as
crianças só voltaram das férias escolares em agosto, quando o trabalho já estava
em andamento. Embora não fosse obrigatório, o artista decidiu fazer uma
exposição, como contrapartida pela premiação e responsabilidade artística com a
comunidade.
Em suas obras, Marcos utilizou acrílico sobre tela, e a
técnica de colagens com guache, nanquim, lápis de cor, conhecida como
assemblage. Abordavam três temas da cultura brasileira: a tatuagem
hoje, contrastando com a cultura indígena; a relação do trabalho do desenhista
francês Debret com a moda praia do Rio de Janeiro; e a flora brasileira, numa
referência ao trabalho da artista e botânica inglesa Margaret Mee. Os 21
desenhos foram expostos de 17 a 20 de setembro em espaços institucionais da
cidade, como prefeitura e museus. Marcos vendeu 12 obras, quatro delas trouxe na
mala e o restante doou a entidades suíças.
Artista é um contador
de história
Stein am Rhein tem um ar nostálgico para Marcos. Fica às
margens do Rio Reno, que os habitantes chamam de praia e que fez o artista
lembrar-se do tempo em que se banhava no Rio Piraí. “No tempo em que ainda não
era poluído”, esclarece. No verão, a agricultura é o forte do município, que tem
um pouco mais de 3,5 mil habitantes e duas religiões oficiais: católica e
luterana. A receptividade em Stein am Rhein foi diferente. Por ser um povo
conservador, segundo Marcos, os moradores da região tratam a arte com mais
respeito do que no Brasil, onde predomina uma cultura mais liberal e
miscigenada. Só que o Brasil ainda é alvo de muito preconceito na Europa,
principalmente em termos de artes plásticas. “O pessoal não faz idéia do que é o
Brasil!”, afirma. Para Marcos, a dificuldade do artista viver da arte que produz
é a mesma no mundo todo, mesmo que haja mais facilidades na Suíça. E sugere: "No
Brasil a arte vem em segundo plano. Acredito que o trabalho deveria começar da
base, com as crianças".
A cidade foi inspiradora para que Marcos
escrevesse muitas histórias infantis, misturando a cultura suíça e brasileira.
“É uma cidade de conto de fadas. Me senti nas histórias de Walt Disney. Stein am
Rhein é uma espécie de 'cidade-museu'. Tem mil anos!”. Segundo ele, a Fundação
Cultural de Joinville até já manifestou a vontade de expor obras sobre sua
temporada na Suíça e, ao mesmo tempo, publicar as histórias. Porém, ele acredita
que não vai conseguir lançar os dois projetos ao mesmo tempo. Também cogita a
possibilidade de fazer exposição, com os mesmos temas, no Museu da Imigração ou
uma palestra, narrando sua experiência. Para conhecer mais da trajetória do
artista, acesse a página de Marcos
na internet.