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Matéria 7381, publicada em 29/10/2008.


:Priscila Carvalho

Artista conta experiência de intercâmbio na Suíça

Priscila Carvalho


Dois anos. Esse foi o tempo de preparação e espera do artista plástico e arquiteto Marcos Rück para realizar viagem de intercâmbio. Ele chegou a Stein am Rhein, cantão alemão na Suíça, em 2 de julho e permaneceu lá até 28 de setembro deste ano. Os três meses de intercâmbio mexeram muito com o senso artístico dele. “É um prêmio fantástico para a vida. Mas é uma faca de dois gumes: agora é um ano de celibato!”, diz Marcos, refererindo-se ao período que vai levar para retomar projetos e contatos com clientes. Ele foi vencedor de um concurso realizado pela Fundação Cultural de Joinville, em 2007.

O intercâmbio é mundial. O artista selecionado reside em Stein am Rhein por três meses, mora e produz obras no ateliê Chretzeturm, acoplado a uma torre de observação. Marcos chama o local onde residiu de mosteiro. "Mas no sentido bom da palavra. É muito confortável!", explica aos risos. A torre faz parte da Fundação Jakob and Emma Windler, que leva o nome dos irmãos que a deixaram como legado à cidade, para ser restaurada e utilizada em projetos culturais. Cada artista ganha uma quantia para se manter na cidade. Marcos ganhou 1,2 mil francos por mês, cerca de 40 dólares por dia, o que não considera muito: “Você tem que levar dinheiro a mais, para conseguir se manter. É assim em qualquer viagem”. Conheceu vários locais da Suíça e pôde passear de trem por cidades como Milão e Munique.

Uma vida de sacerdócio

A rotina foi importante para Marcos, ainda mais morando sozinho no prédio da torre. “Acordava às seis da manhã, bem cedo. Passeava pela cidade, visitava a exposição e voltava às cinco da tarde. Nem levei o celular”. Mas havia telefone e internet no local. Assim, ele manteve contato com amigos e familiares. Chegou à cidade em momento difícil, pois as crianças só voltaram das férias escolares em agosto, quando o trabalho já estava em andamento. Embora não fosse obrigatório, o artista decidiu fazer uma exposição, como contrapartida pela premiação e responsabilidade artística com a comunidade.

Uma das obras sobre tatuagem/Foto cedida pelo artistaEm suas obras, Marcos utilizou acrílico sobre tela, e a técnica de colagens com guache, nanquim, lápis de cor, conhecida como assemblage. Abordavam três temas da cultura brasileira: a tatuagem hoje, contrastando com a cultura indígena; a relação do trabalho do desenhista francês Debret com a moda praia do Rio de Janeiro; e a flora brasileira, numa referência ao trabalho da artista e botânica inglesa Margaret Mee. Os 21 desenhos foram expostos de 17 a 20 de setembro em espaços institucionais da cidade, como prefeitura e museus. Marcos vendeu 12 obras, quatro delas trouxe na mala e o restante doou a entidades suíças.

Artista é um contador de história

Torre da cidade-museu que encantou Marcos/Foto cedida pelo artistaStein am Rhein tem um ar nostálgico para Marcos. Fica às margens do Rio Reno, que os habitantes chamam de praia e que fez o artista lembrar-se do tempo em que se banhava no Rio Piraí. “No tempo em que ainda não era poluído”, esclarece. No verão, a agricultura é o forte do município, que tem um pouco mais de 3,5 mil habitantes e duas religiões oficiais: católica e luterana. A receptividade em Stein am Rhein foi diferente. Por ser um povo conservador, segundo Marcos, os moradores da região tratam a arte com mais respeito do que no Brasil, onde predomina uma cultura mais liberal e miscigenada. Só que o Brasil ainda é alvo de muito preconceito na Europa, principalmente em termos de artes plásticas. “O pessoal não faz idéia do que é o Brasil!”, afirma. Para Marcos, a dificuldade do artista viver da arte que produz é a mesma no mundo todo, mesmo que haja mais facilidades na Suíça. E sugere: "No Brasil a arte vem em segundo plano. Acredito que o trabalho deveria começar da base, com as crianças".

A cidade foi inspiradora para que Marcos escrevesse muitas histórias infantis, misturando a cultura suíça e brasileira. “É uma cidade de conto de fadas. Me senti nas histórias de Walt Disney. Stein am Rhein é uma espécie de 'cidade-museu'. Tem mil anos!”. Segundo ele, a Fundação Cultural de Joinville até já manifestou a vontade de expor obras sobre sua temporada na Suíça e, ao mesmo tempo, publicar as histórias. Porém, ele acredita que não vai conseguir lançar os dois projetos ao mesmo tempo. Também cogita a possibilidade de fazer exposição, com os mesmos temas, no Museu da Imigração ou uma palestra, narrando sua experiência. Para conhecer mais da trajetória do artista, acesse a página de Marcos na internet.

Detalhe do ateliê Chretzeturm/Foto cedida pelo artista



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