Maio de 1968 na França foi o tema central do filme e da discussão que se
seguiu na sessão especial do Clube de Cinema para a Semana Acadêmica de
Comunicação Social. A película exibida foi “Os sonhadores”, de Bernardo
Bertolucci, e o professor Luiz Felipe Soares (UFSC) veio de Florianópolis para
guiar e agitar o debate. Luiz Felipe comparou Bertolucci ao também cineasta
Phillippe Garrel, e utilizou seu filme “Os amantes constantes” como um
contraponto para “Os sonhadores”. De acordo com o professor, em “Os sonhadores”
a resposta para a pergunta “o que sobrou da revolução?” é “nada”, ao contrário
de em “Os amantes constantes”.
Em maio de 1968, uma greve geral aconteceu
na França. A manifestação estendeu-se dos estudantes aos trabalhadores e
rapidamente adquiriu proporções revolucionárias: em 20 de maio, o país amanheceu
sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços. Cerca de seis milhões de
grevistas ocuparam as 300 fábricas da França da época. A história de “Os
sonhadores” se passa nesse período. Matthew é um jovem estudante americano que
se torna cinéfilo na França. Numa manifestação de estudantes num cinema em
Paris, conhece os irmãos gêmeos Theo e Isabelle, e é envolvido na diferente
relação que os dois mantêm.
Para Luiz Felipe — que acha uma
catástrofe se como professor tiver educado uma geração “certinha, enquadrada” —,
o filme faz uma ponte entre cinema e revolução e tematiza a partir do próprio
cinema o mês de maio de 1968. Em “Os sonhadores”, paira o clima de dúvida e
confusão, que foi um dos legados da revolução. De acordo com o professor, se os
revolucionários perguntam-se o que sobrou, Bertolucci com seu filme quis fazer a
mesma pergunta ou então dizer que não restou nada. Ao contrário de “Os amantes
constantes”, “Os sonhadores” é cheio de citações e clichês cinematográficos,
além de explicar todos os acontecimentos para o público.
Jean Almeida,
integrante do Clube de Cinema, fez parte da mesa com Luiz Felipe e deu sua
contribuição: para ele, não são apenas os protagonistas de “Os sonhadores” que
sonham, e sim todos os personagens. Ficou a dúvida: a pergunta é “o que sobrou”
ou “quem são os sonhadores”? Ninguém, nem as cadeiras do anfiteatro que ficou
quase vazio antes que a discussão terminasse, pôde responder a questão.