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Matéria 7273, publicada em 18/10/2008.


:Tuane Roldão

Elaine Tavares foi clara: ou o jornalismo muda ou morre

Professores visitantes falam de perspectivas do ensino

Sidney Azevedo


Após a mesa-redonda da manhã, os debatedores conversaram com a reportagem da Revi. Elaine Tavares, do Sindicato de Jornalistas de Santa Catarina; Maria José Baldessar, da Universidade Federal de Santa Catarina; Sérgio Gadini, Universidade Estadual de Ponta Grossa; e Tomás Barreiros, da Universidade Positivo, responderam a questões sobre o ensino do jornalismo, tendências e possibilidades de novos critérios para a formação.

Nova avaliação dos cursos

Tomás Barreiros falou sobre a possibilidade da criação de um sistema de avaliação dos mais de 300 cursos de jornalismo no Brasil a partir de instituições como o FNPJ e a Fenaj, para além do método de avaliação do MEC. Para Barreiros, que analisa os vinte anos de cursos de jornalismo no Brasil, “além dos extremismos de alguns cursos em fazer unicamente teoria ou exclusivamente prática, é hoje assente que não se pode dissociar as duas coisas”.

De terno verde e seguindo a idéia de Carlos Castilho, apresentada no dia anterior, Tomás afirma que com a popularização das mídias, coletar dados é fácil para qualquer um, sendo a grande tarefa do jornalista “escolher e organizar, do interior desse caos de informação, aquelas que podem ser as mais relevantes para a compreensão de um fenômeno”.

Demanda social e jornalismo

Sérgio Gadini, que também é diretor da Regional Sul do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, não foi o mediador da conferência, como estava previsto, devido a uma forte rinite, sendo substituído por Rogério Christofoletti. Sobre o tema da conferência de Carlos Castilho, o futuro do jornalismo, afirma que o ensino brasileiro da área ainda “persiste em uma distinção entre demanda de mercado e demanda social”. Com uma boina à cabeça enquanto redigia a carta final do encontro, Gadini complementa sua concepção: “A demanda social é anterior à do mercado e à do Estado”.

Ele afirma que o jornalista é multidisciplinar: “Pinçamos critérios de muitas disciplinas. E é por aí que, como pretendia Gramsci, podemos interpretar por outro viés a realidade”. Gadini pensa que o debate da manhã levou a alguns pontos estéreis: “Continuamos a resgatar debates de décadas atrás, por vezes séculos, para pensar o futuro."

Interdisciplinaridade

“Os conceitos de outras disciplinas no dia-a-dia podem conviver com a linguagem específica do jornalismo”, sustenta Maria José Baldessar, tratada por alguns colegas e amigos como Zeca. A professora da UFSC menciona o conceito da globalização como estímulo a se ter um maior instrumental teórico para o exercício do repórter, que poderá concebê-lo em relação aos conceitos de capitalismo e imperialismo. “No entanto, nós tomamos a idéia de que o jornalismo precisaria usar da interdisciplinaridade e constituir um campo isolado”, o que, pensa Baldessar, constitui um problema que não possibilita novos métodos. Uma aproximação que ela entende que seria útil aos jornalistas seria apropriar-se da noção de se colocar no espaço do “nativo”, como se pretende na antropologia.

Predições e conhecimento


“Sou um pouco apocalíptica: ou o jornalismo muda ou morre”, afirma a jornalista Elaine Tavares, quando questionada sobre o futuro. Do seu “terceiro olho”, um toque levemente indiano em meio às leituras latino-americanas, fez o vaticínio após a mesa-redonda da manhã. Ela entende que a forma de se estruturar o ensino do jornalismo passa pela construção de um “conhecimento em que o estudante tenha uma natureza intelectual mais livre e criativa”, e não nascido do “cabresto” de citações de autores de modo seco.

A colonização intelectual, por isso, foi um dos temas sobre os quais mais polemizou. “Hegel, Kant e Marx apresentaram soluções para a sua Alemanha. No nosso caso, precisamos nos apropriar daquilo que eles têm, dos seus métodos”. A partir deles, afirma Elaine, o dever dos professores e estudantes seria ressignificar as questões para seus contextos.

A jornalista e sindicalista menciona o estudo de pessoas de fora das academias sobre o jornalismo, “talvez por uma falta de ousadia, talvez por um medo do capital”, e diz que “é das ruas que provém as novas idéias, do diálogo que daí nasce”.

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