Após dois meses operando em caráter experimental, a ferramenta de comentários do leitor da Revi foi declarada estável e já pode ser acionada de modo contínuo pelos internautas. Basta cadastrar-se. Os dados solicitados são básicos: nome completo, CPF, endereço de correio eletrônico, nome popular (apelido) e cidade, além de um nome de acesso (login) e uma senha.
A exigência de cadastramento implica uma mudança importante na forma de tratar a interatividade com o leitor. Até o final do semestre passado, o sistema era aberto, sem nenhum tipo de restrição e tampouco de controle. A idéia era estimular o debate franco, plural, democrático, como é tradição no meio universitário. Além disso, o espaço pretendia refletir o princípio que norteou a criação da internet: um ambiente radicalmente livre e auto-regulador, em que apenas a própria “comunidade” pudesse adotar mecanismos de controle, quando fosse o caso.
Sem exigência de identificação, proliferaram comentários anônimos e com pseudônimo — o que em si não constitui problema se respeitados os princípios gerais da civilidade. A interação entre idéias explicitadas por “autores” (pessoas reais) e “personagens” (anônimos e pseudônimos) criou um ambiente rico e divertido por certo tempo. Não foi isso que fez o sistema ruir. Ela, a ruína, teve duas fases.
A primeira fase é um caso típico de degradação dos valores da convivência humana, e ocorre em qualquer debate, com sujeitos identificados ou não: a contundência da discussão quebra a barreira ética, transformando-se num festival de leviandades, ofensas, acusações sem prova, agressividade e afirmações irresponsáveis. Aí se acendeu a luz amarela.
O sinal ficou vermelho na fase seguinte, quando surgiram comentários duvidosos assinados com o nome de pessoas conhecidas. A intenção era maléfica — confundir o debate e provocar intriga entre colegas — e o método, criminoso: ato de falsidade ideológica, tipificado no artigo 299 do Código de Processo Penal. Mas a ação não se resumiu ao crime em si. Tal uma bomba de efeito retardado, ela permaneceu no ar após a reparação do estrago (o esclarecimento do crime), minando a credibilidade daquele espaço de discussão duramente conquistado. A partir daí, já não se podia saber se os comentários assinados por determinado autor de fato haviam sido escritos por ele. Não restava outra alternativa senão retirar do ar o módulo de comentários do leitor da Revi.
Como se isso não bastasse, em seguida o sítio da Revi foi depredado. Conteúdos que estavam no ar sumiram e em seu lugar surgiu um material espúrio, mas altamente elaborado, revelando conhecimento íntimo do sistema de publicação da Revi por parte dos invasores. O ataque ocorreu em duas ocasiões, no espaço de uma semana, sendo prontamente contido pelo programador (e criador sistema de publicação) Borges de Garuva.
Responsabilidade
O novo modelo de interatividade segue o padrão adotado pela maioria dos portais, sítios noticiosos e blogs. O princípio é o binômio confiabilidade e segurança. Recusamos, no entanto, a figura do mediador, pelo qual passam todos os comentários antes de irem ao ar. O fato de os leitores estarem cadastrados (com dados verificáveis e endereço eletrônico válido) garante credibilidade mínima ao sistema — suficiente para que tais leitores possam postar comentários diretamente na Revi, como faziam antes. Assim, diante de qualquer irregularidade, a coordenação poderá entrar em contato com o autor dos comentários.
Claro que esse modelo não é 100% seguro, algo que, aliás, inexiste na web. Mas pelo menos permite que se tenha um ambiente mais saudável, produtivo e confiável para o debate das idéias, tendo em vista o caráter pedagógico de um veículo acadêmico. Com isso, esperamos manter o espírito que norteou a trajetória da Revi nesses dez anos de existência. Convidamos os leitores a continuar participando desta história.
E por falar em história, vai aqui um PS (post scriptum): os comentários postados até o final do semestre passado estão mantidos na base de dados da Revi. Eles integram o nosso patrimônio jornalístico e serão selecionados para voltar ao ar, agora dentro da nova linha editorial.