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Matéria 7103, publicada em 25/09/2008.


:Luiza Martin

Portão vermelho do Galpão se abre para a cena teatral de Joinville

Galpão é o melhor lugar para fazer teatro, dizem artistas

Luiza Martin


A agenda teatral que ganha corpo nesse final de 2008 tem um galpão como melhor abrigo, de acordo com dramaturgos de Joinville. Em setembro, 16 peças terão passado pelo Galpão da Ajote (Associação Joinvilense de Teatro), na Cidadela Cultural Antarctica. Quase todos os finais de semana até dezembro estão preenchidos com atrações. Elas ocorrerão no espaço considerado multiuso, que é o lugar “mais adequado” para o abrigar o teatro contemporâneo sob o céu joinvilense. Graças aos investimentos feitos pelo Simdec (Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura), criado em 2005, um novo cenário para as artes cênicas em Joinville vem sendo construído.

Diferentemente do que se pode pensar, a agenda teatral mais encorpada deste final de ano não tem um nome. Não é um evento isolado como o “Cena 5”, que reuniu grupos joinvilenses e de outras cidades durante 13 dias de junho. Esse novo fenômeno consiste na tentativa de espantar o marasmo cultural de Joinville. Para tanto, o Galpão que recebe os eventos com cadeiras de plástico e tablado de madeira compensada, precisa ser melhorado. Silvestre Ferreira, presidente da Ajote, afirma que foi criado um projeto de manutenção da estrutura do “único lugar da cidade adequado especialmente às necessidades de uma peça teatral”. Apesar da estrutura (900 metros quadrados e 500 assentos), o Teatro Juarez Machado não conta com iluminação para as artes cênicas, segundo Silvestre.

Borges de Garuva, diretor de teatro há 37 anos, concorda com o presidente da Ajote: “O Juarez Machado é um auditório, usado para o teatro às vezes”. A finalidade principal não é receber grupos teatrais. Quando se marca um espetáculo no Juarez, além do cenário, as luzes e o som têm de ser montados. “Uma imbecilidade”, indignou-se Borges. As companhias de teatro, que esbarravam na ausência de aparatos sonoros e luminosos, agora podem desfrutar da infra-estrutura do Galpão. Os melhores equipamentos disponíveis, de acordo com o iluminador Davi Marcelino (entrevistado em vídeo pela Revi), da Companhia do meu Tio, são as suas lâmpadas elipsoidais, constituídas por duas lentes para regular o diâmetro do facho e por facas que modificam o formato da luz projetada no palco.

Silvestre é o responsável pelo projeto que está movimentando a cena teatral em Joinville. Em 2006, ele iniciou a disputa por uma fatia dos 55 mil disponibilizados, pelo Simdec, aos grupos de teatro. A iniciativa envolve não só o grupo Dionísios, do qual ele é diretor, mas todos os que são convidados a se apresentar no Galpão da Ajote. A ajuda de custo de R$ 1.300,00 e 80% dos rendimentos da bilheteria somam o incentivo oferecido às companhias de fora de Joinville. Valor menor é dispendido com os conterrâneos. Para realizar duas apresentações, um grupo joinvilense recebe R$ 500,00. Se quatro encenações forem feitas, pode-se chegar a R$ 1.000,00 — montante máximo a ser arrecadado. Conforme Silvestre justificou, as companhias provenientes de outras cidades têm despesas passíveis de serem maiores que a receita ofertada, pois devem arcar com hospedagem, alimentação, transporte do elenco e do cenário. Ele comparou o projeto a um “guarda-chuva por sobre Joinville”, pois abrange grande parte dos grupos que se apresentam na cidade.

Desde 2005, 700 mil reais foram investidos em melhorias no setor teatral pelo Simdec, gerenciado pela Fundação Cultural de Joinville (FCJ). Luciano da Costa Pereira, coordenador de arte da FCJ, explicou que o sistema permite o “repasse de recursos para a produção cultural da cidade, de forma democrática e transparente, abrangendo todas as áreas da cultura”. Também em 2005, a reforma do Galpão cedido à Ajote custou 50 mil reais à fundação e, em 2008, Silvestre conseguiu 44 mil reais, pleiteados no edital de 2006, para o projeto realizado neste final de ano — com a promessa de que a iniciativa se estenda ao início do próximo.

O espaço teatral da Ajote não depende da terceirização de equipamentos. O Festival de Belas Artes, que envolve não só as cênicas, utiliza recursos de terceiros para se estruturar dentro do Juarez. Conforme orçamento de uma empresa joinvilense, R$ 6.400,00 seriam gastos naquele evento com o sistema de som (um console de 32 canais, 16 caixas de som, oito tipos de microfones e outros equipamentos) e R$ 3.800,00 com a iluminação (seis refletores elipsoidais, 24 refletores, dos quais metade com foco 5 e a outra com foco 1 ou 2 e mais variações de refletores e aparatos).

A Cia Didois apresentou a peça “Samsara” no Galpão da Ajote, dia 20 e 21 de setembro. Sabrina Lermen, atriz e diretora da companhia, corroborou a opinião da maioria dos dramaturgos joinvilenses: “O Teatro Juarez Machado não foi idealizado como teatro”. Ele fica embaixo do palco do Centreventos Cau Hansen, por isso sua acústica perde qualidade. “Enquanto tem gente dançando a platéia se esforça para escutar o espetáculo”, argumentou Sabrina. Ela acredita que o Galpão oferece “condições ideais” de iluminação e som, principalmente por ser “menos oneroso” se apresentar lá. Apesar de os recursos do Simdec colaborarem com o custeio dos projetos da companhia, eles não proporcionam lucros. Mesmo assim, a atriz é “muito grata” por já ter sido contemplada nos editais em que concorreu. Para melhorar a cena teatral joinvilense, ela considera que a iniciativa privada deveria investir mais nessa área, conseguindo descontos no imposto de renda. “Assim eles [os empresários] saberiam para onde vai o dinheiro dos tributos”, comentou.

Certa vez, Sabrina se apresentou no Juarez Machado ao som reproduzido por um DVD. O aparelho cedido pertencia a Regina Meinert, integrante da FCJ, que administra o teatro. A medida foi “provisória” e durou apenas uma semana — tempo necessário para que o sistema “básico” encomendado, composto por duas caixas, três microfones, uma mesa com 42 canais e outros equipamentos, chegasse. A maioria das atividades ocorridas no Juarez são relacionadas à arte. As estatísticas levantadas por Regina apontam que 30% dos eventos ocorridos no teatro são palestras. O percentual restante é reservado às apresentações artísticas (como o teatro e a dança), mantendo a conformidade em relação à cota de 50 a 60% estabelecida por uma Portaria Municipal.

De acordo com Regina, em dezembro “provavelmente” a problemática da iluminação estará resolvida por meio dos R$ 106.500,00 conseguidos junto ao Mecenato Federal. A administradora do teatro argumenta que a descrição do projeto havia sido entregue ao Ministério da Cultura três anos antes da liberação de recursos monetários e que devido a processos burocráticos só foi aprovada em 2008. A acústica do teatro permanecerá submetida à hierarquia do projeto arquitetônico: Juarez embaixo, Centreventos em cima. Para ela, os sons de um espetáculo não são sempre inaudíveis: “Se tiver banda tocando, sim. Se houver só uma pessoa falando, não”.

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