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Matéria 6854, publicada em 03/09/2008.


O tempo como história e instantaneidade

Tito Lívio Lermen*


Parece que nos dias atuais perdeu-se a perspectiva da historicidade. Passa-se a idéia de que onipotente é somente quem cria instantaneamente. A tendência é de fato valorizar mais o que é instantâneo, imediato. Não damos mais tempo ao tempo. Desta forma, um projeto historicamente construído é desprezado. Neste contexto, há a necessidade de resgatar valores que valorizam o humano.

O ser humano elabora sua escala de valores que lhe serve como balizamento para definir seus projetos. Principalmente os jovens hoje estão carentes de projetos que possam contribuir com o equilíbrio, a autonomia, a sabedoria, a criatividade.

Para Frei Beto, um grande antivalor que afeta a educação e a juventude é a desistorização do tempo. A perspectiva de historicidade na tradição hebraica era forte, bastando citar aqui o livro de Gênesis. Dos persas, via hebreus, herdamos a idéia do tempo como história. Apenas para lembrar, três pilares de nossa cultura são tributários dessa raiz judaica: Jesus, Marx e Freud. Entendemos os três se entendermos o tempo como história. O Deus de Jesus é Javé. Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Tem uma história. Marx, quando analisa a sociedade capitalista, resgata a história para projetá-la no futuro. E Freud escava o nosso passado para entender a patologia do presente, e abrir perspectivas de melhora no futuro.

Entender o tempo como história está se perdendo, pois se constata que os jovens, em sua grande maioria, “destilam indiferença, hedonismo e ignorância. São absolutamente desinteressados de tudo o que não proporcione prazer instantâneo e descartável” (FREITAS, Marcelo. Revista Linha Direta). Para que valores e princípios não sejam apenas peças de roupa que se tira e se usa quando bem se entende, torna-se necessário construir referenciais, ter projetos.

Segundo Frei Beto, quando se tem projetos “sabe-se que se vai passar por momentos difíceis e por momentos alegres e felizes. É o que segura... No momento em que se rompe o caráter histórico do tempo, entra a era imagética”. Nada contra a imagética, mas o que preocupa é como esta era funde os três tempos: passado, presente e futuro, levando o jovem a uma confusão mental, desprezando a historicidade.

Se a escola, a família e as igrejas deixam de assumir papéis que lhe são reservados, a mídia do consumo imediato o faz, destituído de sentido e significado.

Para se compor uma escala de valores, afirma Domenico De Masi que o primeiro valor é o do humanismo. Sugere instilar nos jovens a sensação que o ser humano é fundamental no universo, um privilégio. De que “a consistência do ser humano é de tal grandiosidade que cada um de nós tem a si mesmo como patrimônio para valorizar e multiplicar”.

O segundo valor a ser exercitado com os jovens é o de que a aprendizagem depende dele, pois é ele que determina seu próprio destino, que decide se aprende, compreende ou rejeita.

O terceiro valor é que o nosso futuro deve ser preparado desde agora. Adicione-se ainda valores como a solidariedade, a convivência – equilíbrio entre a subjetividade e a cidadania - a inovação e a criatividade.

Afirma o autor que “o melhoramento de um único indivíduo, assim como de um país inteiro, depende de sua criatividade, ou seja, de sua capacidade de desenvolver sinergicamente a própria imaginação”. Os jovens devem conquistar o dote do equilíbrio e da sabedoria, esta última pouco cultivada hoje em dia. A sabedoria “consiste em dar uma justa medida e uma justa ordem às coisas, conquistando a capacidade de considerar importantes as coisas verdadeiramente importantes e considerar secundárias as coisas verdadeiramente secundárias.”

Menciona ainda Domenico De Masi que “somente da sabedoria pode emanar uma melhor qualidade de vida, que não consiste em possuir mais coisas, mas em descobrir significado sempre mais ricos nas coisas que temos: a natureza, os amigos, a vida.”

A perspectiva da historicidade precisa ser considerada para que o ser humano consiga elaborar uma escala de valores na perspectiva da construção de projetos que dêem sentido e significado a sua vida.


*Tito Lívio Lermen é diretor geral do Bom Jesus Ielusc

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