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Matéria 6715, publicada em 15/08/2008.


:Luiza Martin

Cálice midiatizado substitui essência do sangue de Cristo, constatou Valério

Eucaristia é tema de trabalho de publicidade e propaganda

Luiza Martin


“Luz, câmera, ação: Em nome do pai... Uma análise da religiosidade católica a partir da transmissão televisiva” é o título da monografia de Valério dos Passos, católico assíduo que resolveu tornar a missa televisionada um objeto de estudo, cujo foco pesquisado é a comunhão. A professora Márcia Amaral acompanhou o aluno na construção de conhecimento sobre a eucaristia na mídia, trabalho que recebeu nota 9 em defesa realizada no anfiteatro. Para avaliar a pesquisa, no dia 13 de agosto, foram convidados o padre e professor Otávio Ferreira Antunes e a professora de publicidade propaganda Lígia Zuculoto.

Missa presencial versus missa televisiva. Este é o embate ocorrido em um dos capítulos do trabalho e que expõe a “concorrência” estabelecida entre os dois ritos. Valério elencou algumas dificuldades que podem transformar um fiel em telespectador, como a distância, as condições climáticas, motivos particulares e a ausência de um reverendo — o que impede a celebração da eucaristia. Tal construção de pensamento surgiu quando ele se questionou: “Será que a igreja não se voltou contra si mesma quando se inseriu na TV?”.

O telespectador é um “co-partícipe”, segundo o publicitário. Citando Muniz Sodré em “O monopólio da fala; função e linguagem da televisão no Brasil”, ele explica no trabalho que o ritual televisionado é uma “síntese hegemônica dos discursos, das práticas artísticas e das diferentes possibilidades de linguagem”. O aluno declarou durante a argüição que “a religiosidade contida se modifica na TV” pela valorização de certos ângulos e planos captados. O cálice, enquadrado em close, evoca a eucaristia e é “mais valorizado que o sangue de cristo”. Na mesma linha de pensamento, a missa é um “simulacro, a nulificação do real pelas imagens e pelos sons enviados ao espectador”, escreveu Valério parafraseando Marilena Chauí, no livro "Simulacro e poder".

Para Otávio, reverendo da Paróquia Imaculada Conceição da Boa Vista, o Santuário Bizantino, que teve a missa transmitida pela Rede Vida e analisada por Valério, já se constitui como simulacro. O nome do templo religioso provém da semelhança na maneira como se reza o terço, conforme a explicação do padre. Ele alegou que a solução para se ter um olhar diferenciado por parte dos câmeras era o doutrinamento católico, porque, na concepção do publicitário, a maioria desses profissionais não mantém uma relação estreita com a igreja. Por isso, no instante de “introspecção” seguido da eucaristia, os fiéis são focalizados — prática que Valério considera equivocada, pois a atenção deveria se voltar ao Cristo naquele momento.

O diretor de cena é o especialista que dirige os câmeras. Eles apenas seguem as diretrizes de um roteiro, explicou Lígia Zuculoto, professora da disciplina RTVC, aos demais presentes na defesa. Ela achou que as “considerações finais deixaram a desejar”, mas parabenizou o estudante pelo tema. Entre outras correções para além da errata entregue pelo aluno antes da apresentação, a professora argumentou já vislumbrando uma continuidade no trabalho: “Se a igreja católica não fizesse isso [se colocar na mídia] perderia seus fiéis para outras igrejas. O mundo está mudando. Como vamos conciliar o espiritual e o tecnológico? Continue a pesquisa”.



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