A monografia de Miriam Luiza Pedrotti, acadêmica de jornalismo, teve como tema o assédio moral no trabalho e como ambiente de pesquisa a Rede SC/SBT Joinville. A aluna entrevistou 15 profissionais, cujas identidades não foram reveladas, que passaram por algum tipo de assédio no trabalho. A defesa iniciou às 21h, no anfiteatro, e a monografia foi aprovada com nota 9.
O trabalho, nomeado “Assédio moral e assassinato psicológico no jornalismo de tevê em Joinville”, não foi uma idéia vinda ao acaso. Durante 545 dias no desempenho das funções de jornalista no canal, ela testemunhou abusos: "Vi e vivi a aniquilação psicológica minha e de colegas por conta das recorrentes assertivas de abuso verbal, humilhação, descaso e desprezo por parte de grupos e da chefia imediata". Contudo, a acadêmica não se inclui diretamente entre os 15 profissionais utilizados como fonte.
Outro motivo de escolher este tema, entre os oito listados por Miriam, é porque 60% dos trabalhadores do mundo inteiro, segundo pesquisa da Organização Internacional do Trabalho, já passaram por este problema. “No Brasil”, disse, “o índice dos trabalhadores que sofreram alguma violência no trabalho oscila entre 39% e 42%”.
Miriam afirmou que as organizações privadas reproduzem o modelo de estrutura de poder do Estado (o chamado poder soberano), pois “a formação das redes de televisão segue a lógica do reforço aos interesses do atrelamento de grupos”. Ela ainda alegou que “a hierarquia interna de poder reproduz a lógica externa da biopolítica e estabelece grupos dominantes e dominados”. Surgiu, então, o assédio moral.
O ponto alto do trabalho, orientado por Jacques Mick, são os depoimentos. Segundo a aluna, todos apresentaram excessivo grau de estresse ao relatar as experiências vividas e todos foram demitidos após assediados. “A maior dificuldade da pesquisa foi porque as pessoas não tinham conhecimento de quais situações caracterizavam assédio moral, e porque falar sobre o que viveram requer confiança no interlocutor”, apontou. Teóricos como Zygmunt Bauman, Marie France Hirigoyen (pesquisadora francesa) e Giorgio Agambem serviram como base teórica para o trabalho.
Uma das conclusões de Miriam foi que a Rede SC/SBT Joinville “apresenta-se política e juridicamente como campo, confinamento, lugar de segregação e isolamento. O homo sacer é assediado dentro da organização do trabalho, destituído de direitos, isolado, discriminado e à margem, mas não fora. Situação que nasce como exceção, destempero aparente por causa do estresse do trabalho, mas que dura mais de ano como prática recorrente e absoluta”.
Para Valdete Niehues, integrante da banca, Miriam foi corajosa em adotar este tema. A professora considerou o trabalho coerente, conciso e bem estruturado. “Ainda não vi nenhuma monografia com este tema aqui no Ielusc”, disse. Contudo, fez apontamentos a respeito de questões estruturais. Bernadete Wrublevski, que momentos antes realizou uma palestra sobre o mundo do trabalho, também elogiu a coragem da acadêmica. Alguns apontamentos também foram feitos em relação à estrutura. “Argumentos que li ao final do trabalho poderiam estar no começo”, sugeriu. A conversa com a banca se estendeu até 10h45, quando a aluna recebeu a aprovação.