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Matéria 6704, publicada em 13/08/2008.


:Luiza Martin

"Antes, durante e depois de Monster" foi o texto lido por Fernanda na defesa

Trabalho "remistifica" o monstro

Luiza Martin


“Monstro, estranho ou anormal?”, se perguntou Fernanda Lange. Para ela, Aileen Wuornous, protagonista do filme biográfico Monster, interpretada por Charlize Theron, é “apenas um ser humano”. No trabalho desenvolvido sob orientação da professora Nara Marques, a aluna de jornalismo comparou Aileen à criatura de Frankenstein. Ambas foram apresentadas, na noite de 12 de agosto, como criações — a primeira da sociedade e de um conflito interno, a segunda do médico na obra de Mery Shelley. Maria Elisa Máximo, do Ielusc, e Ramayana Lira, da Unisul, julgaram o trabalho e proferiram a nota da pesquisa: 10 para a monografia intitulada “Monstro”.

Aileen teve uma infância conturbada, que misturava abuso sexual e dependência química. Virou prostituta. Matou sete homens, por isso se tornou serial killer (assassina em série) e foi condenada à morte em 2002. Apontada como assassina pela companheira, Selby, vivida por Christina Ricci, Aileen se assemelha ao “contra-exemplo de monstro” que é a criação do médico, Frankenstein. Fernanda recortou do livro de Shelley um trecho da página 139: “Sou mau porque sou miserável. Acaso não sou detestado por toda a humanidade? Você, meu criador, seria capaz de reduzir-me a frangalhos e exultar com isso. [...] Se não posso inspirar o amor, causarei medo...”. Assim o discurso de Frankenstein em relação ao médico se aproxima do embate entre o monstro de Monster e a sociedade. Os dois trazem a condição de poder, estabelecida do criador para com a criatura.

Sigmund Freud e Michel Foucault, “dois vespeiros” de acordo com Ramayana, são autores que ajudaram Fernanda a "remistificar" o monstro por meio de um novo entendimento da agressividade e da biopolítica. Nem todo agressor é um monstro e a sociedade alimenta a agressividade, conforme o trabalho escrito de Fernanda, que critica a banalização do termo no senso comum. “[...] o soberano que antes fazia morrer e deixava viver cedeu espaço à medicina e a outros poderes que passaram a ter o direito de fazer viver e deixar morrer”, escreveu Fernanda sobre a biopolítica que lembra da permissão da pena de morte. A avaliadora, Ramayana, fez “provocações” à aluna. Uma delas consistia em explorar o relacionamento homossexual de Aileen e Selby, que ajudava a protagonista a ser constituída como monstro. Para Ramayana, o monstro é um “ser de fronteira”, que revela o que deveria conter.

Maria Elisa não assistiu a Monster e analisou a personagem recriada por Fernanda. “Eu refleti sobre o filme que a Fernanda construiu no trabalho dela”, afirmou a professora, que elogiou a fluidez da escrita na pesquisa. Na concepção de Maria Elisa, a construção da personagem poderia ter sido “diluída, trazendo à tona os autores (Freud e Foucault)”. Fernanda justificou que não o fez devido à mistura de insegurança com o seguimento das técnicas de estudo de caso, em que a análise parte do geral para o particular.

Fernanda se posicionou, durante a apresentação, contra a imprensa sensacionalista — que explora a imagem dos criminosos, que perpetua o preconceito e que causa revolta e medo. “Pois, fica claro que deste jeito, o médico Frankenstein que cria o monstro e depois o abandona, somos nós”, concluiu.

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