“Essa mulher diz: eu tenho um pênis grande. E esse pênis é a criança”,
afirmou Márcia Amaral quando viu a imagem que mostra uma gestante vestida com
roupas íntimas e um laboratório científico de fundo. Na foto ainda estava
escrito: “Engenharia genética e clonagem, para mim, é falta de homem”. A
professora Márcia participou, no dia 11 de agosto, da banca de Juliana Kursancew
junto de André Scalco. Sob orientação de Marcelo Correia, a aluna recém-formada publicitária, defendeu o
trabalho “Psicologia da lingerie — A presença dos arquétipos de Jung nos
anúncios Duloren”. Às 22 horas, Juliana soube que seu trabalho foi cotado em
7,5.
Juliana “começou do zero”, conforme conversa com a professora
Márcia, após tomar conhecimento de sua nota. Ela não conhecia a palavra
arquétipo, usada por Carl Gustav Jung para evocar mitos (por exemplo) que se
formam no inconsciente coletivo, constituído a partir da repetição constante de
experiências que adquirem apelo universal e que se manifestam, individualmente,
nos sonhos, nos delírios e na arte. Juliana partiu da leitura de “O homem e seus
símbolos”, de Jung, e elencou os arquétipos da grande mãe, da mãe terrível, o da
virgem oposto ao da prostituta e o da guerreira. De todos eles, segundo a
publicitária declarou durante a argüição, o da virgem, que representa beleza,
sedução, fascinação e ao mesmo tempo doçura, é o mais freqüente nos objetos
estudados. Foram escolhidos dez anúncios. A pesquisa conclui que a Duloren
mostra a “mulher nas suas diferentes formas... e não como objetos e figuras de
desejo e ideais de beleza”.
Márcia Amaral levantava as folhas de papel que
reuniam a análise de imagens para que os 40 ocupantes das cadeiras da sala C-21
observassem as ilustrações. Comparou o fundo vermelho em chamas, que parecia o
inferno para Fernanda, ao “útero” da mulher, e os tridentes, denominou símbolo
fálico. Além de mostrar o endereço virtual da marca, o anúncio trazia grafado o
verbo “entre”. Na concepção da aluna, a composição dos elementos encaminhava
para uma visita ao sítio da Duloren. Já Márcia trouxe a psicanálise para
explorar as imagens “riquíssimas” e comentou que elas precisariam ser
confrontadas com uma leitura semiótica. “Faltou aprofundamento em cada teoria”,
concluiu a professora. Ela não fez perguntas à aluna.
“Sensualidade com
que objetivo?”, questionou André Scalco quando a publicitária expôs sua análise
dos anúncios, que mostrava a “mulher sensual, mas doce”. Juliana tentou
estruturar uma resposta e não conseguiu — ela se declarou, perante o público,
“nervosa”. O professor do curso de publicidade e propaganda sugeriu que um
objetivo da pesquisa fosse retirado por não ter sido desenvolvido. Tal meta
consistia na elaboração de um estudo sobre os consumidores, que desvendaria o
motivo que impulsiona a compra e se ele tem relação direta com o significado
produzido pelas imagens no imaginário individual e coletivo, dentre outras
evidências passíveis de serem descobertas.