Um lead clássico não caberia para descrever a defesa da monografia de Melanie Peter, estudante de jornalismo. Isso porque o quando, onde, como e por que não refletem o labirinto de complexidade na ciranda das palavras presente no trabalho da acadêmica. Não são somente letras: são cores que expressam as inquietações da autora, páginas que se tornam falantes pelo fato de brancas estarem. Talvez o clarão de algumas folhas já antecipe idéias iluministas e pós-iluministas discutidas no texto de capítulo único, intitulado “Palomar: uma leitura quântica”. O trabalho, orientado por Jacques Mick, foi aprovado com nota 10.
Quem esperava uma análise dos pensamentos do senhor Palomar, de Calvino, errou. Palomar foi apenas a inspiração para as idéias de Melanie, emprestou seu nome para o título e inspirou o estilo do narrador.
“Mexeu com meu estômago esta leitura”, disse Leandro Otto Hofstatter, um dos membros da banca. Melanie, em seu trabalho, questiona a verdade e como esta verdade é construída pelo ser humano. Mas, o que é a verdade? “No limiar da tensão entre minhas pretensões e a realidade na qual me encontro, pergunto: afinal, estamos produzindo conhecimento ou ilusões?”, dizia seu texto.
Tensão. Este é o sentimento que grita em forma de poesia. É a tensão que mobiliza a incansável procura pelo objeto saltitante na pesquisa. “Aparentemente, o objeto é um trapaceiro que despista todos os protocolos do experimento do sujeito, de forma que o próprio sujeito perde sua posição como objeto”, cita a acadêmica, referindo-se a Baudrillard.
Para Luiz Felipe Soares, que também fazia parte da banca, a aluna foi “muito mais a fundo que muitos estudantes que tentam estudar epistemologia”. O professor ainda elogiou o rompimento com as idéias iluministas do “insosso Boaventura de Sousa Santos”. A autora dialoga com textos do Boaventura na primeira parte do ensaio. São pensamentos utópicos, idéias cartesianas, ordenadas e encadeadas em causa e conseqüência. Na segunda parte a acadêmica desconstrói estas teorias.
Com idéias pós-iluministas a autora adota o fluxo de consciência como narrativa. Melanie estabelece uma relação particular com o tempo, assume uma subjetividade, lida com autores que criticam humanismos, são céticos. Daí surge a crítica de Leandro, que incita a estudante sobre a possibilidade de a ciência responder o imperativo de vida justa. A estudante deixou claro que não concorda com essa possibilidade.