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Matéria 6523, publicada em 27/06/2008.


:Gustavo Cidral

Maria de Lourdes incentiva a leitura dos vizinhos

Moradora do Aventureiro inaugura biblioteca comunitária

Gustavo Cidral


No último domingo, dia 22, uma biblioteca comunitária foi inaugurada no bairro Aventureiro. A iniciativa é de Maria de Lourdes Pacheco de Vasconcellos, 64 anos. Ela sentia falta de uma biblioteca por perto para os moradores da região e resolveu improvisar uma na própria garagem. Além da coleção pessoal, reuniu doações dos vizinhos, conhecidos e parentes. Algumas caixas de livros de amigos de outros estados estão por vir. Não conseguiu nada nas escolas próximas pois já haviam doado os livros que não iam ser usados. Maria de Lourdes conta que resolveu inaugurar a biblioteca mesmo aos “trancos e barrancos” devido à frágil situação de saúde da mãe dela, que havia passado mal há poucos dias e deve estar nos últimos dias de vida. A próxima meta é promover um clube de leitura entre as crianças da comunidade. Cada um terá uma carteirinha para poder retirar os livros que ainda estão sendo catálogados. Provisoriamente, apenas são anotados os dados da pessoa, título e autor do livro e a data de retirada. A pequena biblioteca fica na rua Renato César de Oliveira, número 869, paralela à Alóis Finder, próxima à academia Dan Lucas. 

A iniciativa surgiu por incentivo da filha e do genro de Maria de Lourdes - Lucia Vasconcellos Abbondati e Lucio Abbondati Jr. O casal manteve por oito anos um centro cultural chamado Além da Imaginação, no Rio de Janeiro. O projeto reunia 10 mil livros da biblioteca pessoal deles e doações de amigos envolvidos. Jogos e cursos de arte também eram oferecidos no local. Por falta de apoio de governo o Além da Imaginação fechou, mas ainda continua existindo como produtora cultural. Lucia, que é socióloga e Lucio, médico, hoje são produtores culturais, elaboram jogos educativos e ministram oficinas sobre criatividade. Ambos têm livros sobre jogos e soluções interativas.

Há seis anos Maria de Lourdes mora em Joinville devido à vinda do ex-marido para trabalhar na Tupy. “Se soubesse que era uma cidade tão boa, teria vindo antes”, disse a paulistana. Sempre carismática e envolvida com a comunidade, a artista dá aulas de pintura para 15 alunos do bairro. Ela usa a própria casa para as aulas mas também ocupa a ONG Vida Melhor, da qual faz parte. As igrejas da região sempre recebem a visita e a ajuda dela nos programas sociais, apesar de não segui-las. A professora aproveita as aulas de arte para ensinar lições de boas maneiras e de português – perto dela ninguém pode falar palavrão. “Liguei para minha filha Lucia pedindo socorro: O que faço? Esse pessoal fala tudo errado! 'Ensine-as', foi o que ela disse”, conta Maria de Lourdes.

Nos anos de 2003 e 2004, a senhora de sotaque carioca foi voluntária num programa de capacitação no bairro e alfabetizou 17 adultos, entre eles uma mulher de 84 anos. “É triste saber que alguém não pode ler uma placa. É como uma cegueira”, conta a voluntária. Porém, teve que largar a função para dar mais atenção à mãe – Maria Helena Vasconcellos, de 95 anos. Maria Helena é artista plástica e já não consegue fazer nada sozinha, nem andar, apenas pintar. Moram sozinhas, elas e a cadela Carol, mas sempre tem gente da comunidade na casa. Festas como a do Dia das Crianças e chás entre amigas da região são alguns dos mini-eventos realizados na pequena casa. Maria de Lourdes procura essas atividades e estar sempre ocupada pois teme estar sozinha logo. “Quando ela se for (a mãe) não me sentirei tão só e estarei com a cabeça bem ocupada”, disse.

Maria de Lourdes costuma presentear a todos sempre com livros, como tradição de família. Segundo ela, o gosto pela leitura e pela instrução se dá pelo fato de que pai possuía um grande número de livros. Aos 13 anos se mudou com a mãe de São Paulo, cidade natal, para o Rio de Janeiro, devido a morte do pai. Lá ela se formou em Artes e fez um curso intensivo de Jornalismo na Fundação Roquete Pinto. Exerceu a função nos jornais O Jornal, A Notícia (RJ) e O Dia por 30 anos. Trabalhou na Secretaria dos Transportes e teve uma banca durante nove anos. Entre uma ocupação e outra, dava aulas de pintura.

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