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Matéria 6511, publicada em 25/06/2008.


:Djulia Justen

A adaptação de Coppola para o cinema é mais conhecida que o livro de Mario Puzo

Sobre a máfia italiana e seus simpáticos capangas

Ariane Pereira


Eu sempre prefiro ler um livro antes de assistir à sua adaptação para o cinema. Gosto de ter autonomia para imaginar rostos, gestos, cenas, e até mesmo os cheiros. O cinema não deixa margem para isso. No caso de “O Poderoso Chefão”, escrito por Mario Puzo, a adaptação para o cinema, de Francis Ford Coppola, — que escreveu também o roteiro em parceria com Mario Puzo — é muito mais conhecida do que o livro. Talvez por isso, acabei assistindo à trilogia toda, para depois me interessar em ler a obra. E tive várias surpresas agradáveis.

O filme é bem fiel ao livro — mas a história impressa é melhor. Não pela autonomia, que a essas alturas já tinha sido tirada de mim, mas porque deliciosos acontecimentos paralelos surgem e a vida de algumas personagens que não mereceram muito destaque no cinema é aprofundada na obra. Ao final, você conhece tão bem Johnny Fontane, cantor famoso em decadência e afilhado mais querido por Don Vito Corleone, quanto conhece Michael Corleone, o filho pródigo, no filme.

Nessa pequena sociedade italiana e machista em meio aos avançados americanos, Mario Puzo construiu um mundo à parte, de intrigas e crueldades. A lealdade é apresentada em sua forma mais pura, e sua existência, aparentemente, não se deve ao medo nem ao temor que os subornados possam ter do poderoso chefão. A sociedade é retratada como um ambiente injusto, com policiais corruptos e políticos abnegados, e as famílias da máfia italiana são o abrigo contra esse mundo cruel. Bem contraditório.

O submundo criminoso retratado no livro é bem simpático. Don Corleone é sempre enaltecido, descrito como um homem sábio, poderoso, justo, implacável. Apesar de ser um chefe da máfia que realiza operações ilegais e que, aparentemente, não tem limites, Vito Corleone é um homem bom e puritano. Até o leitor passa a ter vontade de prestar homenagens ao Don, tamanha a força do caráter da personagem.

Michael Corleone, para mim, não tem a mesma força magnetizadora de que é dotado no filme. É possível acompanhar sua transformação durante toda a obra, mas sempre com aquele sentimento de que ele nunca será como Vito Corleone. Ele prova seu valor, mas... não é Il Padrone.

São 655 páginas envolventes. E durante a leitura delas, não é à toa que se dá razão à frase de Balzac que abre o livro: “Por trás de toda grande fortuna há um crime”.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.