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Matéria 6449, publicada em 18/06/2008.


:Luiza Martin

Dom Pedro II? Não. É o Dom Quixote do Teatro que Roda passando por Joinville

Teatro de rua rompe a rotina de Joinville

Luiza Martin


Na praça, pelas calçadas e entre o tráfego, cabeças se esgueiravam como suricates em busca de um fragmento de gesto e fala da representação feita ontem, 17 de junho, pelo Teatro que Roda, de Goiânia. A Cena 5 (Mostra da Associação Joinvilense de Teatro) trouxe “Das saborosas aventuras de Dom Quixote de la Mancha e seu escudeiro Sancho Pança – um capítulo que poderia ter sido” e arrebanhou joinvilenses. Eles foram conduzidos ao longo da Rua do Príncipe na tarde que se perderia na mesmice, não fosse a invasão dos goianos, que transformaram a cidade em cenário.

Atores e platéia se confundiam, desrespeitando a hierarquia de uma encenação. Nada de avisos luminosos para o início do espetáculo, nem de silêncio – o público estava livre para agir e contracenar. A informação sobre o horário da peça divergia conforme o meio de divulgação (no site da Fundação Cultural o início estava marcado para 17h30 e o panfleto da Cena 5 avisava que a apresentação seria às 16h30). O roteiro adaptou a história, escrita por Miguel de Cervantes, às construções da cidade: o prédio da farmácia virou torre para as donzelas, a praça Nereu Ramos se tornou campo de batalha e o asfalto metamorfoseou as veredas onde o Quixote viveu aventuras em busca de seu grande amor. Dulcinéia era o nome que Dionísio Bombinha (intérprete de Dom) bradava com o fervor de uma procura insensata, sempre acompanhado de seu “fiel” escudeiro, Sancho Pança, vivido pela atriz Liz Eliodoraz.

Já dizia outro Dom Quixote, inspirado no de Cervantes e escrito por Menotti Del Picchia: “Cansado, o amor buscava a esmo. Eu mudava de taça e o licor era o mesmo”. Ao final do espetáculo, o cavaleiro não encontrou sua dama. Deixou interrogações e desestabilizou quem o assistiu. Mari Espíndula, quando percebeu o homem com armadura (formada por emaranhados de lacres de latinhas) em plena rua do príncipe a gritar para as 12 noivas no prédio da farmácia, falou indignada: “Nessa cidade está ficando todo mundo louco”. Cássio Fernando Correia, membro da organização da Cena 5, respondeu à vigilante que a loucura era “teatro e não verdade”. De “apavorada” ela passou ao deslumbre provocado pelos momentos finais da história.

O carro que imitava uma viatura policial encerrou a encenação ao simular uma perseguição a Dom Quixote. As freadas do veículo e os uivos decorrentes delas absorveram a atenção do público, que não sabia para qual lado o Cavaleiro havia fugido. “A cidade precisa começar a beber essa diversidade”, disse Silvestre Ferreira, presidente da associação de teatro e coordenador da Cena 5. A intenção é tirar o conforto de Joinville e invadi-la. Transtornar o trânsito e incidir com a ficção na realidade é a arte do Teatro que Roda, ensinada hoje, 18 de junho, aos atores e atrizes (joinvilenses, gaúchos e paraibanos) participantes da mostra de teatro.


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