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Matéria 6439, publicada em 16/06/2008.


O trabalhador que freqüenta a Câmara todos os dias

Gustavo Cidral


Que os vereadores trabalham apenas de terça a sexta-feira, ganhando, cada um, R$ 23 mil mensais dos cofres públicos para salário, gastos com gabinete e assessores, todos já sabem. Porém, se os representantes da população se dão ao luxo de não darem as caras na segunda e sexta-feira, no mínimo, a “nossa casa” deveria realizar alguma atividade, como as comissões que são marcadas para os três dias em que há sessão na câmara. Na sexta-feira, último dia do mês de maio, nenhum dos 18 vereadores, que em breve serão 19, estava presente nos gabinetes – nenhuma novidade para muitos, mas uma revolta para alguns.

Gerson de Souza partiu de São Paulo rumo a Joinville há 8 anos. Começou a trabalhar na Tupy há 6, das 23h24 às 5 horas. Para ajudar no orçamento, todas as tardes ele está no pátio da Câmara, vendendo a dois reais doces e salgados de uma confeitaria. O “bico” foi conseguido pela esposa que trabalhava no estabelecimento. Desde fevereiro o homem assiste de camarote à rotina no prédio, conhece todas as pessoas que passam por ali. O lanche da tarde é sagrado para os funcionários e Gerson é o principal fornecedor. “Algumas moças descem aqui e demoram para escolher o que vão comer, mas, no fim, muitas vezes acabam não escolhendo nada pois só queriam conversar. Elas vêm aqui pra desabafar sobre o trabalho, casa, marido... eu sei da vida de todo mundo aqui”, conta o vendedor. Para ele, Adílson Mariano é o mais “gente fina”, pois sempre o cumprimenta e pergunta como vai, esteja onde estiver – o vereador vai pessoalmente comprar seu lanche. O presidente da Câmara, Fábio Dalonso, também é um dos únicos que procura ser simpático. “Muitos aqui nem olham pra minha cara, mas em época de eleição eles fazem de tudo pra conquistar a simpatia”, completa. Gerson gargalha ao ser perguntado das atividades de sexta-feira na Câmara. “Não acontece nada aqui. Encontrar um vereador então, vai ser difícil. A essas horas eles devem estar longe, viajando, indo pra casa de praia”.

Beto Gebaile e Toninho Neves subiam as escadas num certo momento da tarde. Eles freqüentam o prédio todos os dias, inclusive nas sextas-feiras. “É sempre a mesma panelinha aqui em Joinville”, comenta Gerson, impressionado ao saber, durante a conversa, de que outro radialista, Osny Martins, não é formado em jornalismo. “Pensei que pelo menos ele fosse, pois fala melhor do que os outros, parece mais inteligente”, comentou. O trabalhador não troca Joinville por nenhum outro lugar e dá a dica para um estudante de jornalismo: “Você tem quem se juntar com algum desses aí pra conseguir um emprego bom, é importante ter contatos aqui dentro”.

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