José Marques de Melo, 64 anos, dispensa muitas apresentações. Qual
estudante ou professor de jornalismo não leu pelo menos um dos muitos livros escritos
por esse jornalista? Ele começou a trabalhar cedo, aos 15 anos. Afinal, lugar de
jornalista é nas ruas. Saiu de Alagoas, seu estado natal, direto para São Paulo.
Em 1973 obteve o título de doutor em Comunicação na Escola de Comunicação da
Universidade de São Paulo. Para ele, a pesquisa é fundamental na área
profissional e acadêmica. Ele é contra o “achismo” e a qualquer pergunta que
possa suscitar uma resposta vaga, diz desconhecer a causa e sugere uma pesquisa
para saber o porquê.
Respeitado entre seus pares e pelos estudantes, não
por causa dos cabelos brancos que tomam conta de sua cabeça pensante, o
presidente da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de
Comunicação fez questão de estar na Intercom Sul 2008, de 29 a 31 de maio, em
Guarapuava, no centro-oeste do Paraná. Ao final da abertura do evento, na manhã
de 29, quando foi rodeado por focas e jornalistas para conceder uma entrevista,
calmo e atencioso, convidou a todos para ir para uma sala mais tranqüila. Lá
sentou-se e colocou-se à disposição. Com muito bom humor, respondeu a primeira
pergunta sobre como analisava a imprensa escrita: “Do ponto de vista de
conteúdo, a informação que está nos jornais é defasada” e é anacrônica porque os
fatos já foram tratados na TV, na internet e no rádio.
Confesso leitor
de sites jornalísticos, ele afirma que a internet significa hoje o que a
imprensa de Gutemberg significou no século XV, e o ponto positivo é a conversão
tecnológica. Para ele, o problema no “nosso jornalismo, em particular, é que ele
precisa ser um jornalismo mais educativo, dar mais contexto, mais informação”.
Marques de Melo diz que fica frustrado lendo jornais que têm informações não
interpretadas. Á Revi, o jornalista também falou sobre ética e uso ou não do
off. Ele concorda com a tese de Claudio Abramo de que a ética do jornalista deve
ser a ética cidadão. “A ética é comum a todos os cidadãos”, completou. Com
relação ao uso do off, não vê problemas, mas chama atenção do repórter de que
“se tem uma informação privilegiada há um interesse. Não existe almoço gratuito,
não se iludam”. E, como todo bom jornalista de campo, afirma que o problema do
jornalista atual é que ele “não sai da sala de redação, não caminha mais pelas
ruas, não vê mais as coisas”. Detalhes desses assuntos e outras questões que
envolvem o jornalismo estão na entrevista coletiva que José Marques de Melo
concedeu na Intercom Sul 2008.
Ouça a entrevista com José Marques de Melo