Revi Bom Jesus/Ielusc

>>  Joinville - Sábado, 23 de novembro de 2024 - 11h11min   <<


chamadas

Matéria 5903, publicada em 09/04/2008.


:Reprodução/ Carolina Wanzuita

Capa: obra integra acervo da biblioteca

O olhar da mídia sobre a criminalidade

Carolina Wanzuita


A capa preta do livro já é uma preliminar semiótica do assunto a ser tratado – violência. Cinqüenta mil pessoas são assassinadas por ano no país, segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. A questão é: como a mídia relata o problema da violência e da criminalidade? Sílvia Ramos e Anabela Paiva, na obra “Mídia e Violência – Novas tendências na cobertura de criminalidade e segurança no Brasil”, apontam que os meios de comunicação de massa deveriam tratar do assunto de maneira que exercessem um papel relevante de debate sobre a situação, o oposto do que acontece. Hoje, é de costume ler coberturas factuais, soltas no tempo. Questões sociais e políticas ligadas diretamente aos fatos são descartadas para fornecer espaço ao sangue e cadáveres. O livro está disponível na biblioteca central do Ielusc.

O livro consiste em pesquisas realizadas durante três anos sobre a produção diária em jornais do Brasil, além de entrevistas, artigos e depoimentos de especialistas em segurança e de 90 jornalistas. São 191 páginas de esquadrinhamento, desde a evolução de cobertura da imprensa brasileira até o trabalho desempenhado por especialistas na área da comunicação durante os últimos anos. Aponta os avanços alcançados em relação ao jornalismo policial e os desafios que ainda precisam ser superados.

A comunicação de massa desempenha papel fundamental na formação das identidades e da consciência social. Contudo, predomina na mídia a posição um tanto apressada e preconceituosa, grosseiramente manipulada pelos próprios profissionais da área. Exemplo disso é o capítulo quatro do livro – Cenários da Violência: estereótipos na cobertura de favelas e periferias. Nele, os repórteres admitem as deficiências na cobertura, reconhecendo que têm grande culpa na caracterização da favela como símbolo da violência nacional. Uma das desculpas é a receptividade hostil dos moradores. Baseadas nisso, as autoras lançam a pergunta: “Será que os repórteres estão limitando a sua presença nas favelas ao acompanhamento de ações policiais por causa da hostilidade da população ou passaram a encontrar uma recepção hostil por só acompanharem as ações policiais?”

Mídia e Violência é um conjunto de artigos que provoca profunda reflexão sobre para onde caminham as coberturas de criminalidade e para onde realmente deveriam encaminhar-se. Em oito capítulos, a obra critica a forma de cobertura focada somente no factual e de caráter fragmentário, até mesmo por causa da baixa iniciativa da própria imprensa. É como se os fatos noticiados na mídia “falassem por si sós”, desconexos do contexto social, apenas para cumprir a meta de notícias dadas por dia. Como diz Luis Fernando Veríssimo, “vivemos num tempo maluco em que a informação é tão rápida que exige explicação instantânea e tão superficial que qualquer explicação serve”.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.