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Matéria 5899, publicada em 08/04/2008.


:Álvaro Diaz

Marcão: internet favorece apuração

"Nada substitui o trabalho de rua"

Gustavo Cidral


Revi - Você está há quanto tempo no jornalismo?
Marco Braga - Eu comecei em 1995 a trabalhar em jornal. Entrei na faculdade em 94. Treze anos de profissão.

Revi - Pegou o tempo da máquina de escrever?
MB - Não, não, sou da era computador. Computador sem internet, mas computador.

Revi - E, pra você, mudou muita coisa de lá pra cá?
MB - Muito na apuração. A internet facilitou a busca de informação, mesmo que algumas não sejam confiáveis. Hoje, órgãos federais, estaduais e municipais mantêm páginas com dados e estatísticas. É mais fácil de trabalhar com o auxílio da internet, sou um defensor. Agora, tem o seguinte: nada substitui o trabalho da rua.

Revi – Você acha que o futuro do jornalismo está na internet mesmo, como uma convergência dos meios?
MB - Não acho que o futuro seja a internet. Acho que, com a união entre as várias mídias, o profissional multimídia tende a ganhar mais espaço. Mas a internet não vai substituir o jornal. Acho que internet é mais uma ferramenta de comunicação.

Revi – E que rumo os jornais impressos vão tomar?
MB - Olha, os jornais optarão por coberturas mais locais. Essa é a minha impressão. Hoje, assuntos sobre o mundo, sobre o país, pipocam na internet, no celular. O leitor não quer ver isso, isso ele lê na internet ou vê na televisão. A responsabilidade do jornal é com o público local. O que está acontecendo na sua esquina, o que está acontecendo na sua cidade ou bairro. Essa é a função do jornal moderno: se aproximar do leitor.

Revi - Você acha que a lei de imprensa atual deve ser renovada?
MB - Acho, isso eu acho. É antiga e tem algumas contradições, como a lei penal. Leis antigas que não correspondem com as necessidades dos dias de hoje. A realidade é outra.

Revi - E o diploma de jornalista? Você é a favor ou contra a obrigatoriedade?
MB - Sou a favor. Não gosto do discurso radical. Defendo o diploma por um simples motivo: reportagem só jornalista que estudou sabe fazer. Médico, dentista, pedreiro pode ter opinião, mas reportagem ele não saberá fazer. Como eu não sei operar, como eu não sei tirar um dente.

Revi - A utopia do jornalismo ideal está muito longe? O que falta para chegarmos perto?
MB – Depende. Utopia do jornalismo ideal no meio impresso? Tá longe. Agora, tem boas revistas, bons jornais televisivos. Acho que o freguês tá bem de oferta.

Revi - Aqui na região? Ou nacionais?
MB - Aqui na região tá longe, muito longe. Falta estrutura, investimento em reportagem. Minha impressão é que reportagem é o lixo, o repórter é um ser descartável.

Revi - Falando sobre você agora, Marcão... Ontem foi o dia do jornalista...
MB - Ah, que beleza!

Revi - Tá contente, esperançoso... qual tua reflexão?
MB - Eu sou um esperançoso e estou otimista. Acho que aqui em Santa Catarina tem um problema sério que é o salário. Isso é um problema. Quem vai querer trabalhar pra ganhar um piso de R$ 1 mil?! Não tem condições. Como querem qualificação do repórter, como querem um repórter ligado com o mundo, se o cara não tem dinheiro pra botar internet em casa? É difícil, mas é preciso dedicação. Salário não pode ser o problema. É preciso passar por cima disso. E uma coisa é a paixão pela reportagem, pelo jornalismo. Mas só isso não enche a barriga e não paga as contas. O repórter precisa ser melhor remunerado. Editor, chefe de reportagem, esses ganham até bem. Quem ganha mal é o repórter. O motor da redações.

Revi - Nesses 13 anos, qual tua maior conquista pessoal, profissional?
MB - Em premiação, eu acho que ser finalista do Prêmio Esso no ano passado foi importante, me deixou muito feliz profissionalmente. Dá credibilidade, é uma premiação importante. Fui finalista na categoria jornais do interior, para jornais que não têm sede em capitais. Concorremos com a maioria dos jornais do país. Eram 5 mil trabalhos de jornais de Campinas, Caxias do Sul, São José dos Campos, cidades importantes que têm bons jornais. Não ganhei, mas ficar entre os três melhores já foi uma grande conquista. O A Notícia não chegava numa final há 30 anos. Mas a mais importante para mim não foi prêmio, não foi nada. Foi uma matéria especial sobre os "caixeiros" de Joinville. Essa matéria mexeu com a cidade.

Revi - Mande um recado pro pessoal da faculdade que tá começando agora.
MB - Eu sinceramente não me considerado exemplo pra ninguém, mas acho que é preciso pensar bem se quer fazer do jornalismo uma profissão. Tem que colocar os pesos no lugar certo, porque a decepção e a frustração na carreira serão grandes. O jornalismo não é glamour.

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