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Matéria 5843, publicada em 01/04/2008.


:Ronaldo Santos

Ângelo, entre Samuca e Jacques, anuncia a tão aguardada nota

Monografia discute construção da identidade a partir da TV

Gustavo Cidral


As quase duas horas de apresentação, perguntas, respostas e espera devem ter sido mais difíceis para Rochele Allgayer do que o período que esteve no exterior para ganhar um dinheiro extra e fazer a pesquisa de campo para a monografia. A sala C-21 parecia mais quente do que nunca para as 16 pessoas presentes. Apesar de algumas deficiências no trabalho escrito, causadas por “problemas com o teclado do computador”, ela foi aprovada com a nota 7,0 após enxurrada de observações dos examinadores. A última fala da apresentação de “Imagens de uma nação no exílio: canais internacionais de TV e a formação de uma comunidade imaginada” foi dedicada ao pedido de desculpa devido aos problemas operacionais que deixaram o texto defeituoso. Para Jacques Mick, esse não parece ter sido o único problema na redação. O “elenco de bizarrices”, como disse o jornalista, deixou a leitura desagradável. Porém, mesmo sendo professor de redação jornalística, não avaliou o trabalho tendo a escrita como peso maior.

A argüição de Jacques tomou dois terços do tempo total da defesa. Segundo ele, a globalização não foi levada em conta no trabalho e o tema poderia ser provocativo se realizado com mais reflexão. Rochele morou numa cidade a uma hora de Boston, nos Estados Unidos, onde vivem seis mil brasileiros entre os 87 mil habitantes. Ela entrevistou 13 imigrantes (sete mulheres e seis homens) de 19 a 62 anos de idade, que estão nos EUA entre 18 meses a 17 anos e têm renda anual de 30 a 80 mil dólares.

Samuel Pantoja Lima, o outro examinador, achou que o resenhamento não deu conta do objeto e que, pela oportunidade de infiltração no cotidiano das pessoas, uma pesquisa etnográfica seria perfeita. As conversas aconteciam durante o horário de trabalho e Rochele as escrevia apenas quando ia para casa. Jacques usou do sarcasmo e brincou com o orientador Ângelo Augusto Ribeiro: “Rochele não testou o 'instrumento'”. Para ele, a decupagem dos diálogos pareceu uma conversa por e-mail.

Para analisar as entrevistas, a formanda usou conceitos dos teóricos Benedict Anderson, Stuart Hall e Jesus Martin Barbero sobre a influência da TV na identidade nacional do sujeito. Samuca disse que a pressa com que Rochele passou pelo teórico pode ter sido o centro do problema. Nos diálogos, ela não se identificava como pesquisadora e buscava saber que programas de TV os imigrantes brasileiros preferiam. A pergunta “que programa faz você se sentir mais brasileiro?”, segundo Jacques, foi muito mal formulada pois realmente um telejornal dificilmente vai despertar um sentimento de identidade nacional. Samuca questionou o fato da jornalista não se identificar nas pesquisas e ela argumentou que não era preciso, de acordo com os conceitos metodológicos dela. Em um trecho do trabalho, Rochele disse que observou e foi observada mas não interferiu na vida das pessoas. Algo considerado errado por Samuca e que vai contra as teorias de pesquisa, pois deve haver um envolvimento com o objeto. A aluna se defendeu dizendo que a frase foi mal interpretada e expressou o oposto do que ela quis dizer.


O programas mais citados pelos imigrantes entrevistados foram “A grande família”, novelas e futebol - o que espantou Rochele, pois achava que os telejornais eram mais assistidos. As emissoras Globo e Record são transmitidas no exterior, porém apenas a da família Marinho foi citada. “A Record não existe lá”, afirmou a autora. Jacques disse que Rochele secundarizou a influência dos jornais e confiou demais nas respostas dos entrevistados. A pesquisadora não valorizou o fato de 11 dos 13 brasileiros assistirem aos telejornais. Samuca sentiu falta de uma análise do papel da TV na integração nacional, superválida para o tema. A estudante contou que a visão dos imigrantes brasileiros sobre o Brasil, através dos telejornais, era pessimista. Eles diziam que havia só violência, que o país era sempre a mesma coisa e nunca mudava. Os avaliadores acharam o fato curioso, pois alguns deles partiram antes do Plano Real.

Agitado e em alguns momentos batendo com os pés no chão, Jacques ficou mesmo intrigado com a personagem imaginária, chamada Maria, criada por Rochele – o que deixou o trabalho confuso em algumas partes. A narração poética de uma despedida com choros e abraços afetou o fim da monografia, tornando-a dramática e desagradando a banca. Foi durante a apresentação que eles ficaram sabendo: Maria era Rochele.

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