Passada a etapa de Joinville do Festival de Música e Integração Catarinense,
resta uma triste dúvida na consciência dos classificados e dos desclassificados:
vale a pena participar de um festival tão mal organizado como o Femic? Ou, em
palavras mais brandas, por que Joinville foi agraciada com a etapa campeã em
problemas de ordem técnica e organizacional? Falo do lugar de músico, mas os
problemas listados abaixo afetam, além dos músicos, os espectadores e a
reputação musical de Joinville - se é que a maior e mais rica cidade do Estado
goza de uma nessa área.
Dos problemas organizacionais, destaquemos
alguns. Ao contrário do que foi orientado no ato da inscrição na SDR de
Joinville, a lista de selecionados não foi publicada no site oficial do evento.
Ou seja, quem não tem o hábito de ler o jornal A Notícia não ficou sabendo se
sua música foi ou não classificada, pois só o periódico publicou o nome dos
selecionados.
Também não havia no site o endereço do local onde a etapa
ocorreu, em São Francisco do Sul. Se a cidade vizinha (escolhida para sediar a
etapa de Joinville por um motivo também mal explicado) fosse alguns metros
quadrados maior, provavelmente alguns participantes se atrasariam, pois só
conseguiu chegar lá quem gastou bastante saliva pedindo orientação aos moradores
de São Chico.
No quesito horário, diga-se, a organização do festival
caprichou nas surpresinhas. Primeiro, a orientação era de que quem não estivesse
no local às 16 horas para passagem de som seria automaticamente desclassificado.
Quem conseguiu dispensa do trabalho na parte da tarde e chegou dentro do prazo,
encontrou um ambiente vazio. Ou melhor, cheio de outros músicos igualmente em
dúvida sobre como ocorreria a passagem de som. Representante da organização ou
alguém que colocasse ordem na bagunça, nem sinal. Quando a coisa começou a andar
já eram 18 horas passadas. Ou seja, todo mundo perdeu a tarde de trabalho em
vão. O resultado dessa crença de que festivais se organizam sozinhos foi que
vários participantes subiram no palco sem passar o som, porque não deu
tempo.
Paralelamente à fragilidade organizacional, os heróicos (ou
insistentes) músicos que saíram de suas casas para concorrer no Femic sofriam
com um problema de ordem técnica e igualmente grave: o som, ou a falta dele.
Porque é consensual: não dá para chamar o que estava lá instalado de som, muito
menos de som apropriado para um evento de nível estadual. Aliás, é importante
ressaltar, o evento só pôde ocorrer devido à intervenção providencial de um
músico concorrente, Gabriel Vieira, que levou cerca de meia hora para fazer
aquilo que os técnicos da empresa contratada não conseguiram fazer durante a
tarde inteira: regular minimamente bem o PA. Se não fosse Gabriel, a coisa seria
bem pior e os jurados, creio, teriam dificuldade de entender o que se passava em
cima do palco, tamanha era a bisonhice do som disponível.
Apesar de todos
esses “pequenos” contratempos, a festa aconteceu, as bandas e cantores se
apresentaram, os jurados julgaram e sete concorrentes passaram para a semifinal,
a ser realizada no dia 17 ou 18 de abril, num lugar ainda não definido (mas
dessa vez em Joinville). Tanto os artistas que irão concorrer como os que
ficaram no caminho (como eu) esperam que a coisa seja um pouco menos zoada na
próxima etapa. Faço o apelo para que não seja confirmada a impressão da grande
maioria dos músicos que participaram do Femic e de outros que já nem se dão ao
trabalho de se inscrever. “De um festival como esse não dá para esperar muita
coisa”, eles dizem. E o pior é que não estão de todo errados, a não ser que a
sucessão de problemas apresentados na etapa de Joinville tenha sido uma triste
coincidência.
Tiago Luis Pereira é estudante do 7º período de Jornalismo