Revi Bom Jesus/Ielusc

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Matéria 5813, publicada em 26/03/2008.


Delírios de uma tarde no tempo impreciso de Virginia Woolf

Melanie Peter


A tarde se esvai. Mesmo que eu não compreenda o tempo, e ele continue sendo enigmático e misterioso aos meus sentidos, preciso cumprir uma tarefa rapidamente. Devo escolher um entre os inúmeros livros dispostos ordenadamente no interior da biblioteca central do Bom Jesus/Ielusc e apresentá-lo ao leitor.

O impulso pelo desconhecido me direciona à prateleira de “novas aquisições”. Sou tomada pelo estímulo estético e me perco por alguns instantes no ornato geométrico-fantasioso da capa de um dos aproximadamente 20 exemplares ali expostos. Antes de cair na redução do lingüístico ao empírico-sensível, fixo meus olhos no título: V. Woolf, Contos Completos.

Tentando escapar da minha necessidade interna de saber que horas são - e descobrir que estou atrasada-, abro o livro em busca de soluções rápidas. Somente a ausência chega até meus olhos. As orelhas foram eliminadas e uma vastidão incolor posta em seu lugar. Será que o preto da contracapa foi a melhor forma encontrada para representar a personalidade singular de Virginia Woolf — uma escritora que explorou sem medo a vida subjetiva, vasculhou os espaços mais escusos da mente humana, passou por diversas crises de depressão e se suicidou em 1941?

Também não encontro apresentação nem introdução no interior de Contos Completos. Os paratextos são escassos. Talvez as 46 narrativas curtas da autora inglesa simplesmente falem por si. Talvez formem um conjunto de sons que evoque a verdadeira música latente nas 472 folhas impressas sob os símbolo da editora Cosac & Naify.

A divisão e ordenação cronológica dos contos ao longo do volume denotam a fuga dos anos nos calendários e me fazem lembrar que o processo cego do tempo continua. Porém, uma passeada rápida pelos escritos de Virginia acende meu otimismo. A alma modernista da autora reinventa a narrativa recusando sem medo a descrição linear das ações. Personagens, falas, pensamentos, lembranças e reflexões são frequentemente reembaralhados e redistribuídos no interior da sua eterna preocupação com o sentido da vida. Um sentido tão enigmático e tão impreciso quanto as minhas palavras neste momento.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.