Mais uma vez a sala C-21 serviu de palco para um debate. Ontem, 27 de fevereiro, às 21h, foi a vez de Luciano Saraiva Kras Borges defender a monografia "Análise da relevância social do programa Receita de saúde". Aluno da grade antiga, Luciano foi orientado pela professora Izani Mustafá e levou aproximadamente quatro semestres para concluir o trabalho. A banca, composta pelos professores Silvio Melatti e Guilherme Diefenthaeler, atribuiu nota sete à pesquisa.
Durante a apresentação Luciano contou que trabalha há 12 anos no segmento farmacêutico e pretendia desenvolver uma pesquisa que tivesse de acordo com a área. Decidiu investigar o programa “Receita de saúde”, que esteve no ar de março de 2003 até janeiro de 2005, na Rádio Cultura AM. Ele entrevistou aproximadamente 30 pessoas e catalogou 120 programas tentando descobrir e analisar sua relevância social. Segundo ele, a maior dificuldade foi a “morte” de seu objeto por falta de patrocínio.
No primeiro capítulo ele apresenta a história da Drogaria Catarinense, no segundo escreve sobre o rádio e sua história no Brasil, no terceiro discorre sobre a linguagem do rádio, no quarto descreve o “Receita de saúde” e no quinto aborda o conteúdo jornalístico do programa. No sexto capítulo comenta sobre como a informação no rádio é apresentada ao ouvinte, no sétimo explica o porquê de a Drogaria Catarinense usar o rádio como veículo de interação com o público e no oitavo faz uma análise do programa e do seu retorno institucional e social. Finalmente, no nono capítulo Luciano analisa a contribuição social do programa.
Os comentários da banca foram bastante críticos. Silvio começou apontando a visão e a postura ingênua do estudante e disse que faltou o espírito crítico para desconfiar mais dos entrevistados, do objeto de estudo e das informações. Segundo ele, a monografia dá a impressão de que o grande objetivo da Drogaria Catarinense era democratizar a informação, porém, não passa de uma empresa capitalista tentando ampliar o lucro. “Não tem nenhum sentimento humanista, está história de responsabilidade social não cola”, disse Silvio. Na opinião dele, Luciano esqueceu o papel principal do jornalista que é duvidar.
Silvio também chamou atenção para alguns dados desatualizados, detectou citações de três autores que não estão na bibliografia e disse que o estudante não compreendeu o pensamento de Gramcsi, pois ele fala exatamente o contrário do que aparece na monografia. Um ponto positivo indicado pelo professor foi a boa costura textual da análise dos dados.
Guilherme começou fazendo um elogio ao propósito da monografia. Para ele, é relevante estudar o consumo de informação sobre saúde. Mas, na sua opinião, o estudante chega ao final da pesquisa e não responde qual é a relevância social do Receita de saúde, não compreende o programa e não o posiciona dentro das estratégias de comunicação da Drogaria Catarinense. Além disso, o estudante freqüentemente assume o discurso da empresa e faz confusão entre os conceitos de balanço e responsabilidade social.
Sobre o texto, Guilherme disse que estava truncado e difícil de entender, cheio de erros de concordância, acentuação. O professor também sentiu falta de um capítulo sobre como o tema saúde começou a entrar na imprensa de Santa Catarina. Criticou o fato de a internet ter sido muito usada como fonte de pesquisa e apontou a compreensão deslocada e as conclusões incorretas. “Muitos autores não dizem o que você diz que eles dizem”.
Apesar de todos os comentários, Luciano foi aprovado. Porém, teve que assumir publicamente o compromisso de corrigir o trabalho conforme os apontamentos da banca até o dia 14 de março.