Ouvir todas as fontes possíveis é uma prática jornalística de praxe,
ainda mais quando se trata de casos de crimes, em que os agentes envolvidos são
antagônicos (acusado e vítima). No entanto, de acordo com a monografia “A
polifonia insuficiente nas matérias policiais do jornal Correio do Povo”, da
estudante de jornalismo Iara Borba de Vargas, defendida às 17 horas do dia 13 de
fevereiro, na sala A-08, esta técnica está longe de se tornar comum no jornal
mais antigo de Jaraguá do Sul. Com a orientação da professora Marília Maciel, a
estudante se debruçou sobre as matérias da editoria de polícia publicadas entre
agosto e outubro de 2007. A banca avaliadora, composta pelos professores Luis
Fernando Assunção e Anilton Weifurther (Cazuza), conferiu ao trabalho a nota
8,0.
Ao estudar a
teoria da polifonia do lingüista russo Mikhail Bakhtin, em que o discurso é
formado por várias vozes, Iara constatou que as matérias policiais do jornal
Correiro do Povo não seguem esta tese. As matérias valorizam o discurso
competente da polícia e apenas utilizam a fala indireta do acusado. Constatou,
como o próprio título já sugere, que não há polifonia nas matérias policiais do
veículo em estudo. Para ela, é necessário assegurar o “equilíbrio polifônico das
matérias como sinal de respeito à sociedade”.
O avaliador Anilton
Weifurther fez poucas críticas ao trabalho. Ele considerou tão relevante o tema
que sugeriu à estudante que escrevesse um artigo a partir do estudo
problematizado na monografia.
Para o professor Luis Fernando Assunção, o
trabalho foi ousado em tentar relacionar a teoria de Bakhtin ao jornalismo, mas
acabou não dando conta da relação. Segundo o avaliador, a autora foi tão
repetitiva ao longo do texto em afirmar que as matérias de polícia não têm
polifonia que parecia já saber desta constatação desde o início do
trabalho. Apesar dessas críticas, Luis Fernando considerou o tema de alta
relevância. “Faltam no meio acadêmico análises sobre a produção jornalística”,
concluiu.