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Matéria 5492, publicada em 12/12/2007.


:Felipe Silveira

Jornalistas avaliam trabalho sobre reportagem

"Um momento histórico"

Felipe Silveira


“Um momento histórico”, diziam os amigos, o orientador, os avaliadores e até o próprio. Marco Aurélio Braga Rodrigues cursava jornalismo há 13 anos, até ontem, 11 de dezembro de 2007, quando apresentou a monografia “Crítica ao 'novo' e uma sugestão ao jornalismo diário”. O repórter do jornal A Notícia, que no mês passado concorreu ao Prêmio Esso, sugeriu uma junção do jornalismo de precisão com o investigativo somado a pitadas de jornalismo literário para dar leveza aos textos. Durante a apresentação, a “sugestão” permaneceu uma incógnita e só ficou evidente no debate com a banca.

Sob a orientação de Jacques Mick, o estudante optou por um trabalho sobre jornalismo impresso para ser coerente com a própria história. Hoje com 33 anos, começou no jornalismo faz 12 anos. Ele trabalhou no AN desde 1996, de onde saiu duas vezes – uma para trabalhar na RBS (2001) e outra na Gazeta de Joinville (2005). Em novembro de 2006 voltou ao AN, agora sob domínio da RBS. Compunham a banca os professores e jornalistas Luís Fernando Assunção, editor do jornal Notícias do Dia, e Sílvio Melatti, ex-editor do caderno Anexo. Ambos foram colegas de Marco no jornal.

Negro, com um 1,84 metros de altura, forte e um pouco gordo, 118 quilos, Marcão, como é conhecido, tem voz de cantor de blues, e a usou para ler, sentado, nos vinte minutos iniciais da defesa, um texto que começava com a seguinte frase: “Para mim, o jornalismo é um sonho, e a reportagem, uma obsessão”. Por aí começou a desenhar a apresentação de uma possibilidade de bom jornalismo, a partir da reportagem, mesclando os três conceitos já citados, além de argumentar que a preguiça e a acomodação dos repórteres são fatores prejudiciais à atividade.

Contudo, segundo o primeiro examinador, Sílvio Melatti, na proposta não havia nada de novo, apenas citava soluções para qualquer forma de jornalismo: vencer a preguiça, a pressa e apurar o olhar. O argüidor também achou uma contradição e quis entender porque no mesmo capítulo o autor defende o texto frio e objetivo e páginas depois pede um texto apaixonado. “Me parece que apaixonado é o extremo oposto de frieza”, questionou.

A discussão sobre objetividade rendeu. Melatti defendeu que o jornalismo literário àsvezes é mais preciso que o jornalismo tradicional, logo, seria desnecessário juntá-lo a outras práticas da profissão. Ele citou o exemplo do texto no qual Gay Talese descreve a construção de uma ponte em Nova Iorque e cita até o número de grampos usados na obra. Marcão esclareceu que dos três conceitos trabalhados, o que mais se aproxima da objetividade a qual ele se refere, é o de precisão.

Apesar das críticas, o professor de redação gostou bastante do trabalho. “Não entendo porque demorou tanto para concluir. Parece que foi escrita numa tarde, tal a fluidez”, elogiou. Como último comentário, Melatti soltou um elogio às avessas: “Não tenho mais o que dizer sobre isso”.

Luís Fernando Assunção apontou manias de jornalista presentes no texto. Disse que a “fluidez” acabou atropelando assuntos que poderiam ser explorados. Por exemplo, quando o autor cita um livro de José Hamilton Ribeiro intitulado “O que é isso, computador”, poderia ter feito uma breve resenha. “Só pelo título eu quis saber mais sobre o livro e não tinha”, disse, curioso.

Porém, o que mais incomodou Assunção foi a falta de opinião do autor na monografia. “Faltou esse jeito Marcão de ser”. O professor sabe que Marcão tem idéias e posições sobre jornalismo e queria vê-las no texto. A ausência das opiniões foi explicada rapidamente. “Foi proposital. Eu não queria que a monografia fosse ‘os pensamentos do Marcão sobre jornalismo’”, afirmou.

Um exemplo para situação foi abordado na defesa. Quando o autor critica a legislação sobre a profissão dos jornalistas, Assunção questionou qual era exatamente a opinião do repórter. Ele explicou que a carga horária de cinco horas imposta à profissão (trabalha-se cinco horas porque jornalistas trabalham seis dias por semana) é um malefício. “Somos trabalhadores normais, poderíamos trabalhar oito horas”, argumentou. “Dessa forma somos submetidos a salários baixos e a falta de tempo para produzir boas matérias. E também, por causa do salário, somos forçados a trabalhar em dois empregos”.

O ciclo de Marco Aurélio Braga na faculdade acabou coroado com nota 9,0. De acordo com os argüidores, trata-se de um ótimo levantamento sobre os conceitos de jornalismo investigativo, de precisão e literário. E, se não apresentou uma nova solução para o problema da falta de criatividade e marasmo jornalístico, reproduziu a solução que deve ser repetida aos quatro cantos, principalmente na faculdade: a de acabar com a preguiça e à falta de criatividade para fazer o “bom e velho jornalismo”.

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