“Um momento histórico”, diziam os amigos, o orientador, os avaliadores e até
o próprio. Marco Aurélio Braga Rodrigues cursava jornalismo há 13 anos, até
ontem, 11 de dezembro de 2007, quando apresentou a monografia “Crítica ao 'novo'
e uma sugestão ao jornalismo diário”. O repórter do jornal A Notícia, que
no mês passado concorreu ao Prêmio Esso, sugeriu uma junção do
jornalismo de precisão com o investigativo somado a pitadas de jornalismo
literário para dar leveza aos textos. Durante a apresentação, a “sugestão”
permaneceu uma incógnita e só ficou evidente no debate com a banca.
Sob a orientação de Jacques Mick, o estudante optou por um trabalho sobre
jornalismo impresso para ser coerente com a própria história. Hoje com 33 anos,
começou no jornalismo faz 12 anos. Ele trabalhou no AN desde 1996, de onde saiu
duas vezes – uma para trabalhar na RBS (2001) e outra na Gazeta de Joinville
(2005). Em novembro de 2006 voltou ao AN, agora sob domínio da RBS. Compunham a
banca os professores e jornalistas Luís Fernando Assunção, editor do jornal
Notícias do Dia, e Sílvio Melatti, ex-editor do caderno Anexo. Ambos foram
colegas de Marco no jornal.
Negro, com um 1,84 metros de altura, forte e um pouco gordo, 118 quilos,
Marcão, como é conhecido, tem voz de cantor de blues, e a usou para
ler, sentado, nos vinte minutos iniciais da defesa, um texto que começava com a
seguinte frase: “Para mim, o jornalismo é um sonho, e a reportagem, uma
obsessão”. Por aí começou a desenhar a apresentação de uma possibilidade de bom
jornalismo, a partir da reportagem, mesclando os três conceitos já citados, além
de argumentar que a preguiça e a acomodação dos repórteres são fatores
prejudiciais à atividade.
Contudo, segundo o primeiro examinador, Sílvio Melatti, na proposta não havia
nada de novo, apenas citava soluções para qualquer forma de jornalismo: vencer a
preguiça, a pressa e apurar o olhar. O argüidor também achou uma
contradição e quis entender porque no mesmo capítulo o autor
defende o texto frio e objetivo e páginas depois pede um texto
apaixonado. “Me parece que apaixonado é o extremo oposto de frieza”, questionou.
A discussão sobre objetividade rendeu. Melatti defendeu que o jornalismo
literário àsvezes é mais preciso que o jornalismo tradicional, logo,
seria desnecessário juntá-lo a outras práticas da profissão. Ele citou o exemplo
do texto no qual Gay Talese descreve a construção de uma ponte em Nova Iorque e
cita até o número de grampos usados na obra. Marcão esclareceu que dos três
conceitos trabalhados, o que mais se aproxima da objetividade a qual ele se
refere, é o de precisão.
Apesar das críticas, o professor de redação gostou bastante do trabalho. “Não
entendo porque demorou tanto para concluir. Parece que foi escrita numa tarde,
tal a fluidez”, elogiou. Como último comentário, Melatti soltou um elogio às
avessas: “Não tenho mais o que dizer sobre isso”.
Luís Fernando Assunção apontou manias de jornalista presentes no texto. Disse
que a “fluidez” acabou atropelando assuntos que poderiam ser explorados. Por
exemplo, quando o autor cita um livro de José Hamilton Ribeiro intitulado “O que
é isso, computador”, poderia ter feito uma breve resenha. “Só pelo título eu
quis saber mais sobre o livro e não tinha”, disse, curioso.
Porém, o que mais incomodou Assunção foi a falta de opinião do autor na
monografia. “Faltou esse jeito Marcão de ser”. O professor sabe que Marcão tem
idéias e posições sobre jornalismo e queria vê-las no texto. A ausência das
opiniões foi explicada rapidamente. “Foi proposital. Eu não queria que a
monografia fosse ‘os pensamentos do Marcão sobre jornalismo’”, afirmou.
Um exemplo para situação foi abordado na defesa. Quando o autor critica a
legislação sobre a profissão dos jornalistas, Assunção questionou qual era
exatamente a opinião do repórter. Ele explicou que a carga horária de cinco
horas imposta à profissão (trabalha-se cinco horas porque jornalistas trabalham
seis dias por semana) é um malefício. “Somos trabalhadores normais, poderíamos
trabalhar oito horas”, argumentou. “Dessa forma somos submetidos a salários
baixos e a falta de tempo para produzir boas matérias. E também, por causa
do salário, somos forçados a trabalhar em dois empregos”.
O ciclo de Marco Aurélio Braga na faculdade acabou coroado com nota 9,0. De
acordo com os argüidores, trata-se de um ótimo levantamento sobre os conceitos
de jornalismo investigativo, de precisão e literário. E, se não apresentou uma
nova solução para o problema da falta de criatividade e marasmo jornalístico,
reproduziu a solução que deve ser repetida aos quatro cantos, principalmente na
faculdade: a de acabar com a preguiça e à falta de criatividade para
fazer o “bom e velho jornalismo”.