Nilson Vargas, o editor-chefe do jornal A Notícia desde a compra do diário
pela RBS, em setembro de 2006, veio ao Bom Jesus/ Ielusc na última
segunda-feira, dia 26 de novembro, para falar aos estudantes sobre a reportagem
e o AN. O convite foi feito pelo professor de redação 5, Jacques Mick, que
também convidou o repórter do Estado de S. Paulo, Martín Fernandez, formado
no Ielusc. No entanto, Martín não pôde comparecer, pois fora convocado a fazer
uma reportagem no interior de Minas Gerais.
Além da sexta turma de
jornalismo (redação 5), foram convidados os alunos da quarta fase, o
coordenador do curso, Samuel Lima, e o professor de redação 1, Sílvio Melatti.
Todos amontoados na pequena sala C-22. Por pouco, Vargas também não veio. Ele
estava com a perna engessada devido a uma “queda ridícula de cima da
escada” que teve na semana anterior. No entanto, na manhã de segunda-feira,
decidiu comparacer. Tirou o gesso e veio. Mancando, mas veio.
Começou
falando sobre o A Notícia e a venda à RBS, inclusive, concordando com a crítica
sobre o negócio, que alega ser prejudicial uma única voz na imprensa. “Essa é
uma discussão maior e deve ser feita”, afirmou. Como era um debate sobre o
gênero reportagem e o veículo A Notícia, o editor-chefe do jornal tratou da
mistura dos dois assuntos como tópico inicial. Ele explicou o motivo pelo qual
não há reportagens na imprensa como seria ideal. O primeiro motivo é a falta de
criatividade: “Às vezes chega o repórter e diz que teve uma grande idéia: ‘Vou
fazer uma matéria sobre o trânsito caótico de Joinville!’. Gênio! Como é que eu
não pensei nisso antes?”, ironizou. Outro motivo é referente ao custo da
reportagem, pois demanda tempo, algum dinheiro e deixa a redação, às vezes,
sem o melhor repórter. Outra acusada é a internet, que deixou os
jornalistas mais preguiçosos: “Eu imagino se o Google ficasse fora do ar por um
mês”. Enfim, para Nilson Vargas, houve uma “brochada” no jornalismo.
“Tem de começar a fazer a pauta. Às vezes só tem o enunciado”,
criticou. Segundo Vargas, uma pauta bem feita, que responda todas as perguntas,
faz com que o editor não tenha saída: “Matéria bem feita, bem apurada, ninguém
segura”. Orgulhoso, ele falou sobre a matéria “7 dias no Paraíso”, feita pelo
repórter apontado por Vargas como um dos melhores da redação, Rodrigo Stupp.
Depois contou sobre a experiência como um dos avaliadores do Prêmio Esso. “Nós
não avaliamos nenhuma matéria que concorresse na categoria a qual o
nosso veículo também estivesse”, adiantou, antes que algum espertinho
perguntasse. O jornalista mostrou um vasto material, mas deu destaque a duas
matérias: “Puta que pariu”, da revista TPM; e a matéria pela qual ele está
torcendo, "Os brasileiros que ainda vivem na
ditadura", comparando o sistema social imposto pelo tráfico de drogas
no Rio de Janeiro com os piores tempos da ditadura brasileira.
Depois de
longo mergulho nas reportagens trazidas por Vargas, os alunos começaram a fazer
perguntas. O primeiro foi Éberson Teodoro, do sexto período. Os estudantes
queria saber qual é a crítica do editor ao texto jornalístico: “A
falta de lirismo? Um texto muito quadrado? Ou o contrário?”. Nilson deu um
exemplo de como opta pela clareza. Quando edita um texto, onde está escrito
“residência”, ele troca por “casa”. “Nunca vi disso, jornalista é o único bicho
que reside”, brincou.
A segunda pergunta sondava a relação do jornal A
Notícia com a cidade de Joinville e se havia alguma mudança com a nova gestão.
Vargas argumentou que essa é uma cidade difícil, “chega a ser um desafio”, pois
além da colonização européia, há também migrantes que vieram trabalhar no
período de consolidação das indústrias e pessoas que saíram das grandes
metrópoles e vieram para cá. “É como Curitiba, em menor escala. Eu acho isso
muito bom”, disse.
A seguir, Jacques Mick perguntou por que a cobertura
política do governo estadual é tão precária em Santa Catarina. Vargas, porém,
não concordou com a afirmação-pergunta de Mick. “Em quase todo o
país, a imprensa não consegue fazer a cobertura nos seus estados e
municípios”, respondeu.
Perguntaram ainda: Leandro Schmitz, do sexto
período; Tiago dos Santos, do quarto; e Samuel Lima. Leandro quis saber sobre
como se lida com a ética dentro da redação e Tiago perguntou sobre a relação com
os anunciantes. O coordenador do curso apontou a questão sobre como os dois
jornais do mesmo grupo (A Notícia e Diário Catarinense) fizeram a cobertura da
Operação Moeda Verde com os mesmos recursos e ao final
tiveram resultados bastante distintos. Vargas ressaltou, então, a autonomia
dos dois jornais, apesar de que, às vezes, usam apenas um repórter.
Já
eram perto das dez horas quando Valmor Lima, do sexto período, fez a última
pergunta. Ele queria saber se era possível o jornal usar free-lancers
para produzir as reportagens. Vargas explicou que a legislação não permite ao
jornal contratar muitos “frilas”, mas que quem quiser publicar é só ir à redação
que ele irá receber. “Nós vamos negociar. Eu vou tentar comprar pelo preço mais
baixo e você vai tentar me vender pelo mais caro”, brincou, falando sério.