Revi Bom Jesus/Ielusc

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Matéria 5453, publicada em 29/11/2007.


Matéria bem apurada ninguém segura, diz editor-chefe do A Notícia

Felipe Silveira


Nilson Vargas, o editor-chefe do jornal A Notícia desde a compra do diário pela RBS, em setembro de 2006, veio ao Bom Jesus/ Ielusc na última segunda-feira, dia 26 de novembro, para falar aos estudantes sobre a reportagem e o AN. O convite foi feito pelo professor de redação 5, Jacques Mick, que também convidou o repórter do Estado de S. Paulo, Martín Fernandez, formado no Ielusc. No entanto, Martín não pôde comparecer, pois fora convocado a fazer uma reportagem no interior de Minas Gerais.

Além da sexta turma de jornalismo (redação 5), foram convidados os alunos da quarta fase, o coordenador do curso, Samuel Lima, e o professor de redação 1, Sílvio Melatti. Todos amontoados na pequena sala C-22. Por pouco, Vargas também não veio. Ele estava com a perna engessada devido a uma “queda ridícula de cima da escada” que teve na semana anterior. No entanto, na manhã de segunda-feira, decidiu comparacer. Tirou o gesso e veio. Mancando, mas veio.

Começou falando sobre o A Notícia e a venda à RBS, inclusive, concordando com a crítica sobre o negócio, que alega ser prejudicial uma única voz na imprensa. “Essa é uma discussão maior e deve ser feita”, afirmou. Como era um debate sobre o gênero reportagem e o veículo A Notícia, o editor-chefe do jornal tratou da mistura dos dois assuntos como tópico inicial. Ele explicou o motivo pelo qual não há reportagens na imprensa como seria ideal. O primeiro motivo é a falta de criatividade: “Às vezes chega o repórter e diz que teve uma grande idéia: ‘Vou fazer uma matéria sobre o trânsito caótico de Joinville!’. Gênio! Como é que eu não pensei nisso antes?”, ironizou. Outro motivo é referente ao custo da reportagem, pois demanda tempo, algum dinheiro e deixa a redação, às vezes, sem o melhor repórter. Outra acusada é a internet, que deixou os jornalistas mais preguiçosos: “Eu imagino se o Google ficasse fora do ar por um mês”. Enfim, para Nilson Vargas, houve uma “brochada” no jornalismo.

“Tem de começar a fazer a pauta. Às vezes só tem o enunciado”, criticou. Segundo Vargas, uma pauta bem feita, que responda todas as perguntas, faz com que o editor não tenha saída: “Matéria bem feita, bem apurada, ninguém segura”. Orgulhoso, ele falou sobre a matéria “7 dias no Paraíso”, feita pelo repórter apontado por Vargas como um dos melhores da redação, Rodrigo Stupp. Depois contou sobre a experiência como um dos avaliadores do Prêmio Esso. “Nós não avaliamos nenhuma matéria que concorresse na categoria a qual o nosso veículo também estivesse”, adiantou, antes que algum espertinho perguntasse. O jornalista mostrou um vasto material, mas deu destaque a duas matérias: “Puta que pariu”, da revista TPM; e a matéria pela qual ele está torcendo, "Os brasileiros que ainda vivem na ditadura", comparando o sistema social imposto pelo tráfico de drogas no Rio de Janeiro com os piores tempos da ditadura brasileira.

Depois de longo mergulho nas reportagens trazidas por Vargas, os alunos começaram a fazer perguntas. O primeiro foi Éberson Teodoro, do sexto período. Os estudantes queria saber qual é a crítica do editor ao texto jornalístico: “A falta de lirismo? Um texto muito quadrado? Ou o contrário?”. Nilson deu um exemplo de como opta pela clareza. Quando edita um texto, onde está escrito “residência”, ele troca por “casa”. “Nunca vi disso, jornalista é o único bicho que reside”, brincou.

A segunda pergunta sondava a relação do jornal A Notícia com a cidade de Joinville e se havia alguma mudança com a nova gestão. Vargas argumentou que essa é uma cidade difícil, “chega a ser um desafio”, pois além da colonização européia, há também migrantes que vieram trabalhar no período de consolidação das indústrias e pessoas que saíram das grandes metrópoles e vieram para cá. “É como Curitiba, em menor escala. Eu acho isso muito bom”, disse.

A seguir, Jacques Mick perguntou por que a cobertura política do governo estadual é tão precária em Santa Catarina. Vargas, porém, não concordou com a afirmação-pergunta de Mick. “Em quase todo o país, a imprensa não consegue fazer a cobertura nos seus estados e municípios”, respondeu.

Perguntaram ainda: Leandro Schmitz, do sexto período; Tiago dos Santos, do quarto; e Samuel Lima. Leandro quis saber sobre como se lida com a ética dentro da redação e Tiago perguntou sobre a relação com os anunciantes. O coordenador do curso apontou a questão sobre como os dois jornais do mesmo grupo (A Notícia e Diário Catarinense) fizeram a cobertura da Operação Moeda Verde com os mesmos recursos e ao final tiveram resultados bastante distintos. Vargas ressaltou, então, a autonomia dos dois jornais, apesar de que, às vezes, usam apenas um repórter.

Já eram perto das dez horas quando Valmor Lima, do sexto período, fez a última pergunta. Ele queria saber se era possível o jornal usar free-lancers para produzir as reportagens. Vargas explicou que a legislação não permite ao jornal contratar muitos “frilas”, mas que quem quiser publicar é só ir à redação que ele irá receber. “Nós vamos negociar. Eu vou tentar comprar pelo preço mais baixo e você vai tentar me vender pelo mais caro”, brincou, falando sério.

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