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Matéria 5310, publicada em 13/11/2007.


:Carolina Wanzuita

Nas estantes das bibliotecas ou em casa, as enciclopédias perdem espaço

Pelo mundo das enciclopédias

Carolina Wanzuita


Quem se lembra daqueles homens que enchiam os carros de enormes livros de capa dura e os vendiam nas escolas e casas do bairro? As enciclopédias tinham vários volumes, reunindo de A a Z quase todo o conhecimento humano e ajudava nas mais variadas pesquisas. Esses “livrões” tiveram seu momento de ascensão durante o século XX. Hoje, na chamada era digital, considera-se muito mais simples ligar o computador e, entre um clique e outro, descobrir o mundo através do monitor. Parece que a enciclopédia está em decadência.

Em 1772, na França, Diderot e D'Alembert, considerados pais da enciclopédia, jamais imaginariam que os livros um dia viriam acompanhados de um CD para melhor acesso ao conteúdo. Na época, aquele formato significava uma evolução para o pensamento iluminista: uma obra de 28 volumes, 71.818 artigos e 2.885 ilustrações. Hoje, é substituído pelos sites de pesquisa como Google, Wikipédia e afins.

A mais antiga delas, nascida no século XVII e de origem inglesa, a Enciclopédia Britânica, já está com as edições de 1911 em diante disponíveis na internet. Com 16 edições, as obras chegam à dimensão de 292 volumes.

Publicidade da Britannica em 1913

A história das enciclopédias está interligada. A Barsa, uma das mais conhecidas do Brasil pela propaganda feita de porta em porta, foi criada por uma descendente de um dos criadores da Britannica: Dorita Barret. Quando se apaixonou pelo diplomata brasileiro Alfredo de Sá, veio morar no Brasil. Foi daí que surgiu o nome Barsa: A inicial do sobrenome de Dorita (Bar), com o último nome de Alfredo (Sa). Em 2000, a Barsa foi comprada pela Editorial Planeta, pois estava falindo.

Após a morte de Sá, Dorita se casou com Waldemiro Putch e surge a enciclopédia Mirador: dessa vez o apelido do marido (Miro) com as iniciais do seu nome (Dor). A Mirador, impressa pela Companhia Melhoramentos de São Paulo, tem 20 volumes e 11.565 páginas.

Para não tornar a internet sua inimiga, as enciclopédias modificaram seu formato. Conforme dados da Câmara Brasileira do Livro, as mudanças ocorreram quando as vendas chegaram a cair 70% com a chegada da era virtual. A saída foi criar o CD-ROM para acompanhar os impressos junto com sites de acesso fácil aos que preferem não folhear as obras. A Britannica chegou a eliminar a versão impressa, lançando somente enciclopédias virtuais. Em 2003 as obras voltaram a ser publicadas em papel.

Atualmente, a Barsa ainda adota o modelo empresarial que usava nos tempos de Dorita. "Depois da queda, o faturamento voltou a crescer e as estimativas para o final deste ano apontam que as vendas irão aumentar em 10 mil de exemplares", conta Fabíola Lago, assessora de imprensa da Editora Barsa Planeta (Veja gráfico do desempenho). Os vendedores que vão de porta em porta ainda existem. São 1.500 em todo o país e o treinamento de duas semanas é indispensável antes de iniciarem as vendas. Mas Fabíola disse à Revi que o modelo virtual não é descartado: o site da enciclopédia é a alternativa para quem não quer manipular os livros. A busca multimídia tem a vantagem do mecanismo de filtros temáticos, conforme o tempo e geografia.

A arma das enciclopédias para vencer a internet é argumentar que a web não tem tanta credibilidade assim como os livros, já que as fontes são duvidosas e a capacidade de o internauta se dispersar e entrar em sites que nada têm a ver com o assunto desejado é bem maior do que se estivessem procurando algo em um livro. Com isso, além do virtual, a Barsa mantém publicações em papel desde 1964. "As vendas bateram recorde em 2005", afirma Fabíola, "chegando a 52 mil exemplares". Considera-se cada exemplar a obra completa. As edições são atualizadas anualmente, ou no máximo de dois em dois anos, provando que a paixão por folhear páginas ainda existe.

Versões simplificadas, vendidas junto com as edições de domingo dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo e Zero Hora, também foram adotadas para popularizar as obras. A Larousse, de origem francesa (La Grande Encyclopédie Larousse) e editada pela Delta, aderiu à estratégia. O conjunto de escritos tem 24 volumes com cerca de 250 páginas cada um, totalizando aproximadamente 6 mil páginas. Toda a enciclopédia custava cerca de R$ 160,00, ao mesmo tempo que a Barsa, por exemplo, custava R$ 450,00. O preço considerado baixo para uma enciclopédia foi o que popularizou a marca no país.

A Editora Abril apostou na idéia de um almanaque contendo atualidades. Com edição anual, traz uma retrospectiva dos fatos mais destacados durante o ano. Organizadas em verbetes, tabelas, infográficos e gráficos, o livro foi lançado em 1974. A edição de 2007 custa R$ 29, 99, mesmo preço da anterior. Neste ano, a tiragem do Almanaque Abril foi de 70 mil exemplares, com 732 páginas divididas em seções de história, geografia, agenda, capítulos temáticos e retrospectiva 2006.

Mesmo as publicações em livros sendo ininterruptas, é impossível negar o fato de que a procura de conteúdo através de sites na internet está em ascensão, mesmo que o resultado encontrado na web muitas vezes não é considerado confiável.

Segundo Fabíola, a internet é também a explicação para o alto número de vendas: 52 mil exemplares saem anualmente das mãos dos representantes para os compradores. A editora parte do pressuposto de que é mais seguro consultar os livros, e que as pessoas usam o computador para atualizar a obra e facilitar manuseio.

Resultado disso é o recente lançamento da nova edição da Enciclopédia Barsa, projeto que demorou seis anos e custou cerca de 3,5 milhões de euros. São 18 volumes com um sistema integrado. O leitor encontra na obra impressa 3 mil links para DVD e para o site (Veja as características da obra impressa). É como uma espécie de ramificação: a explicação pode ser entendida quando se vê o exemplo na tela. O site é atualizado semanalmente, acrescentando informações ao conteúdo do livro, e a obra inclui 10 mil fotografias, 1.300 ilustrações e gráficos e mais de 500 mapas.

Para Fabíola, o que leva uma editora a fazer um investimento desse porte num produto que sofre competição acirrada com outro meio é a credibilidade adquirida com o passar dos anos, além da participação de pesquisadores de renome mundial.

A assessora ainda contou que até meados de 1990 existiam as grandes redações para a elaboração das obras. Hoje há a presença de colaboradores, todos especializados no assunto. "Para escrever na Barsa é necessário no mínimo ter mestrado e doutorado em uma faculdade conceituada", acrescenta.

No século 21, o conceito de enciclopédia se encaixa perfeitamente com a contemporaneidade da tecnologia virtual. Fica a sensação de embrenhar-se nas páginas impressas transformando-as em páginas vivas ao conectá-las ao computador.

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