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Matéria 5254, publicada em 30/10/2007.


Citar ou não citar?

*Luiz Mendes


Citar ou não citar? Segundo um amigo, as citações são mostras da insegurança do autor do artigo ou tese ao afirmar, com suas próprias palavras (GIESSEL, Rogério - 2007) seja lá o que estiver defendendo. Fiquei tentado a escrever estas considerações, amparado em autoridades diversas, mas para prestar uma homenagem ao meu amigo, a única citação deste breve texto será a já postada teoria Giesseliana. Minha pequena bagagem teórica e, em se tratando de jornalismo, minha menor ainda experiência prática, não me credenciam para postular afirmações absolutas, ou divisoras de águas, no máximo, talvez, considerações despretensiosas, e aqui, sem explicitar autores diversos, como prefere Giessel. Concordo que não há necessidade alguma em invocar filósofos, doutores, poetas e demais pensadores para escrever em um jornal (dentro da lógica de mercado dominante), muito menos para informar sobre um acidente de trânsito ou a existência de um buraco de rua. Também concordo que podemos ter nossas próprias opiniões, mas como alguém pode se dizer dono da sua fala, sendo bombardeado de influências externas até que se produza a própria fala? Ou seja, nossa fala, mesmo que permeada de aparente originalidade, está contaminada com saberes, informações, experiências e inúmeras experiências mais, oriundas de outros atores sociais. Até traçarmos nosso caminho, muitos outros já percorreram veredas diversas que se bifurcam em erros, acertos, dúvidas e recuos. Eles aventuraram-se antes de nós nessa aventura humana de produzir saberes e na insensatez de comunicar os saberes e informações pela palavra.

Reconheço a aparente inutilidade de invocar Foucault, Marx, Habermas, Nietzsche etc. para falar do buraco de rua. Apesar disso, parece-me muito mais fácil escrever de forma simples e com profundidade, tendo maior sofisticação intelectual. Inteligência todos temos, cada um evidenciando isto nesta ou naquela atividade. Perceber as complexidades das coisas aparentemente simples, saber aprofundar um tema banal sem apelar para pedantismos e discussões inúteis e saber lidar com a volatilidade da palavra não são atributos recebidos de forma divina e nossa inteligência não é capaz de dar conta do recado sem o auxílio de outros intelectos. Assim o repórter poderá escrever sobre o buraco de rua, sabendo quem são os donos do poder, sem precisar citar ninguém e produzir, se for o caso, uma análise e uma crítica não ao buraco, mas às condições que fazem os buracos prosperarem na rua D e não na rua A. Subliminarmente. E finalmente, prezo pelas citações, especialmente no meio acadêmico, como uma forma de compartilhar, além do ponto de vista do autor, os subsídios que o fizeram escolher tal posicionamento. É também uma boa maneira de os interessados buscarem novas fontes de leituras. E, se feitas com a devida despretensão, as citações podem ser entendidas como um sinal de humildade do autor, pois demonstra que, por mais brilhantes que sejam suas idéias, ele as buscou em outras fontes. Afinal, só a fé explica como do nada fez-se o universo.


*Luiz Mendes é aluno do 8º período de jornalismo

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