No primeiro semestre de 2000, o professor de Meios de Cinema I, Silnei Soares, reprovou mais de 50% de uma turma. Motivo: plágio. “Era trabalho de conclusão de semestre e os alunos copiaram quase tudo da internet. Quando não plagiavam da internet, copiavam dos próprios colegas e eu precisava zerar a nota de ambos”. Uma grande dificuldade, segundo o professor, é desconfiar que um trabalho foi plagiado, mas não ter condições de provar.
Tentação, desonestidade, coincidência, preguiça ou ingenuidade? As defesas são muitas para quem plagia. Mas dar-se como seu o pensamento de outro, é crime. A lei 9.610/98, de proteção aos direitos autorais, não assegura somente o conteúdo da web, mas também combate a pirataria de CDs ou de softwares.
No Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc não existe um código de conduta adotado pelos professores para aplicar nos casos de plágio. “Seguimos o código de ética geral da profissão porque acreditamos que a conduta profissional inicia dentro da faculdade”, esclarece o coordenador do curso de Comunicação Social, Samuel Pantoja Lima.
“A atitude pedagógica propõe zerar a nota do trabalho e manter um diálogo franco entre professor e acadêmico. Para casos reincidentes enviamos uma advertência por escrito”, comenta. Samuel assegura que é absolutamente fácil distinguir um texto sem estrutura de um trabalho construído com uma intenção deliberada de fraudar. “Ninguém dorme Paulo Coelho e acorda Gabriel Garcia Marquez”, exemplifica.
Outra mudança que pode proporcionar a “flacidez mental” são os sites para encomenda de trabalhos escolares e monografias. São centenas de endereços na internet que chegam a receber 10 mil visitas em apenas um dia. Os preços variam de R$ 1,00 a R$ 20,00 a lauda, dependendo do pedido. Resenhas de diversos temas, monografias, revisões, projetos, slides, resumos, fichamentos e relatórios de estágios são oferecidos abertamente no sítio da internet.
Enquanto acadêmicos se dedicam durante seis meses a elaborar um trabalho de conclusão de curso, o recebimento de trabalhos pode ser efetivado em 15 dias. Basta preencher um pequeno formulário, especificar o tema e aguardar. A internet teria se tornado um convite à desonestidade? O professor da disciplina Meios Internet I, Juciano de Sousa Lacerda, considera que não. “Ela pode ser inerente à prática do sujeito humano. Analisar a tecnologia dessa maneira, resultaria em eximir a culpa do sujeito e transportá-la para a máquina. A internet potencializa a troca de dados e facilita a comunicação, mas a questão está no homem”, finaliza.
Segundo uma pesquisa feita em 23 faculdades dos Estados Unidos e publicada no jornal New York Times, cerca de 38% dos estudantes universitários plagiam trabalhos da internet. Para o professor Donald L. McCabe, da Universidade Rutgers de Nova Jersey “existem muitos estudantes que estão crescendo com a internet e estão convencidos de que qualquer coisa que encontram na rede é um conhecimento público e não tem motivo para ser citado”, declarou para o NYT.
Os alunos reconhecem ter realizado o tradicional “copiar e colar” da rede, tomando algumas frases ou incluindo parágrafos inteiros sem citar nenhuma fonte. Aproximadamente metade dos entrevistados admitiu que isso é um processo habitual e não considera que estavam agindo com má fé.
Na opinião da acadêmica Juliana da Silva* o plágio é resultado, na maioria das vezes, de falta de tempo e interesse do estudante. “Já copiei trabalhos da internet na íntegra e fui punida. Acho que o estudante tem a consciência de que quem perde com isso é ele mesmo. Mas não abre mão dessa facilidade quando está apurado ou quando o assunto não lhe causa qualquer tipo de interesse”, interpreta.
Caça aos medíocres – Para o consultor de empresas e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, Vivaldo José Breternitz, a tecnologia está começando a auxiliar na caça aos plagiadores. “Um exemplo disso são os serviços disponíveis nos Estados Unidos que apontam prováveis plágios na internet”. Breternitz desconhece se alguma universidade do Brasil utiliza ferramentas como essa. Porém acredita que quando professores detectam que alunos desinteressados, medíocres, repentinamente apresentam trabalhos excepcionais, basta um pouquinho de esforço para comprovar o plágio.
O sistema ao qual ele se refere, surgiu em 1995, quando um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia inaugurou o serviço www.turnitin.com. O site permite que docentes, alunos e interessados comparem textos com outros espalhados pela web. Cerca de mil instituições de ensino norte-americanas já adotam o sistema, pagando aproximadamente US$ 2 mil no caso de universidades e US$ 1 mil para high schools.
Sérgio Murillo de Andrade, professor de Legislação e Ética, já recebeu informativos sobre o sistema, mas argumenta ser absurdo que professores tenham que recorrer a esse tipo de estratégia. “Já perdi tardes procurando provas para identificar casos de plágios porque tinha convicção de que certos acadêmicos não teriam feito aqueles textos. Adotar esse método sem debatê-lo, é uma maneira de questionar a própria função do docente. O professor não pode virar um investigador”, opina.