Após assistir pessoalmente algumas monografias e tomar conhecimento de outras tantas pela exaustiva cobertura feita pela Revi, deparo-me analisando com que sentimento o monografando realiza sua empreitada, estando eu mesmo no início de um trabalho desta natureza e à encruzilhada de muitos destinos possíveis. Penso com qual sentimento (isso mesmo, sentimento! Não considero a metodologia a priori de tudo) é norteado e feito o caminho monográfico.
Parece-me que existe uma aspiração média reguladora do anseio de tão somente "passar", nem que seja no limite do 7,0. Depois o trabalho é abandonado em alguma prateleira indecisa da biblioteca ou numa pasta inacessível no computador. Da pergunta de partida que, mais do que isso, deveria ser uma inquietude pessoal, um incômodo da alma e uma busca do espírito, chega-se apenas numa proposição tênue, beirando o precipício do senso comum. Se ao menos caísse, poderia ser um trabalho de profundidade... Tem gente que justifica as limitações argumentando que continuará a pesquisa numa futura pós-graduação ou mestrado. Mas quantos, até agora, já se aventuraram neste intento? Acredito que a monografia tem mesmo o objetivo de fomentar estudos mais intensos nas outras instâncias da graduação. Mas, se não há essa continuidade, qual a utilidade da pesquisa? Preencher o espaço vazio das gavetas? Devem existir outras possibilidades, caso contrário, paro de pensar na minha agora mesmo, ou a farei como uma profunda abstração poética de meu espírito perturbado.
Os critérios de relevância, interesse, novidade e utilidade, indicados por Umberto Eco, aparecem sempre como fantasmas. O que há de novo, o que há de relevante para ser descoberto, são interrogações alfinetando a cabeça. Penso na monografia como um mergulho. E não dá para mergulhar numa piscina rasa. Não vale só molhar os pés se não tiver a intenção de se encharcar... Nesta temporada, talvez uma das melhores, pude ver acadêmicos trazendo abordagens bastante originais, o que me diz que existe gente querendo produzir algo novo e relevante. Em alguns trabalhos, porém, a originalidade começou e acabou no título da monografia. Numa casca de metodologia e slides coloridos, o conteúdo se mostrou insípido. O que me diz que existe mais gente fazendo o caminho mais fácil.
Há um sentimento elevado de pesquisa nos trabalhos de colegas como Gislayne Aguiar, Lygia Veny, Lilian Cardoso, Rosana Rosar e Cristiane Pereira (fico só com o Jornalismo). Quero viver muito para ver onde irão desaguar as inquietações inscritas nestes trabalhos. As promessas são sedutoras. Enquanto isso, outro sentimento, o de perda de tempo e energia, fica sobre os trabalhos medíocres que versam mecanicamente sobre obviedades. Não obstante, ainda são elaborados à sombra de uma orientação ébria, sem qualquer ambição científica ou, no mínimo, preocupação pedagógica.
Qual o cenário futuro que se desenha para o concluinte da Academia? Um foca tentando se firmar no meio dos tubarões? Um estagiário de publicidade dando suor e sangue em prol do mercado? Não é o jornalista também um pesquisador, um cientista, um artista? Que tipo de contribuição autêntica ele pode dar, além de sair da faculdade odiando lead, Semiótica e o professor Melatti?
Fiz muitas perguntas neste rápido texto, e muitas delas me esforço para responder. Mas, como diria o professor Pedro Russi, não é necessário responder tudo agora e nem acreditar em respostas prontas. Fica para depois, para pensar no banheiro. Enquanto isso, permaneço com o sentimento de que a experiência acadêmica não pode ser encarada como um apêndice da vida e a monografia, ponto culminante da trajetória, como só um compromisso formal. Há uma responsabilidade profissional e científica aí, além do interesse de cada um como propulsor na cadeia da construção do conhecimento. Monografia não é uma etapa, é um movimento, um instante de reflexão que nos leva a pensar sobre o paradigma do próximo passo, da próxima ação. Vale o esforço? Não precisa responder. Pode ficar no banheiro por mais um tempo...
*João Batista é acadêmico do 8º semestre de jornalismo