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Matéria 4719, publicada em 20/08/2007.


Estamos nos desumanizando?

Melanie Peter


Passa um pouco das 14h de sexta feira, 17 de agosto. Na sala C-21 o acadêmico de publicidade e propaganda Fabio Marciel Mazotto conversa tranqüilamente com o orientador, Pedro Ramirez, e com a professora Valdete Niehues. Enquanto esperam o segundo argüidor da banca, André Scalco, os três discutem sobre a América Latina, o socialismo e a globalização. Ao redor deles, apenas 39 cadeiras vazias e uma repórter.

Durante toda a defesa da monografia “Um olhar sobre o marketing pessoal a partir de teorias de representação de papéis e construção da identidade” as cadeiras continuaram inertes. Inicialmente marcada para terça-feira, às 17h, a banca foi adiantada porque neste dia Fábio não poderia sair do trabalho.

“O mundo todo é um palco, todos os homens e mulheres são atores e nada mais. Cada qual cumpre suas entradas e saídas e desempenham diversos papéis". Depois de citar Shakespeare Fábio fez questão de comentar alguns números. Foram 78 horas de orientação, 2850 páginas estudadas e 240 horas de leitura e redação de textos.

Será que a imagem verdade que fazemos perceber está cada vez mais cedo sendo construída para um interesse social? Será que podemos ser nós mesmos diante de tantas exigências do mundo pós-moderno? Estas foram algumas das inquietações de Fábio. Ele buscou estudar de que maneira o discurso do marketing pessoal está atrelado ao mundo e a essência da identidade das pessoas.

Na sua opinião, as identidades acabam sendo construídas mediante os objetivos do momento e tem relação estreita com a imagem. ”Ou vivemos na imagem que construímos ou nos identificamos nela”, disse.

Depois de esclarecer alguns conceitos inicias Fábio partiu para o segundo capítulo: A Construção da Realidade. É possível notar a forte influência dos autores Berger e Luckmann, principalmente do livro A Construção Social da Realidade na sua discussão em torno da identidade, da socialização e do “real”.

No capítulo seguinte, Erwing Goffman é o autor que ampara as reflexões de Fábio quanto as representações da imagem pessoal e das adequações impostas pela vida cotidiana. Bem como seus questionamentos frente aos arranjos do “eu” na sociedade.

Marketing pessoal, Construção de Identidade e Representação de Papéis é intitulado o último capítulo da monografia. Castells, Peruzzo e Coelho são os mais citados. Fábio afirma que o marketing pessoal trabalha nas referências e interferências contribuindo para transformar as pessoas em uma marca, uma imagem/marca que se desenvolve e relaciona com o ambiente/comprador.

“O mundo inteiro não é um palco, mas onde não o é, não é possível ou fácil de especificar”. A frase de Goffman encerra a apresentação.

Valdete Niehues começou a arguição considerando o trabalho uma aventura e parabenizou o aluno pela ousadia de unir o universo de teóricos humanistas como Goffman com os tão distantes autores do marketing pessoal. Num tom confessional a professora de Sociologia revela ter sentido angustia enquanto lia a monografia.

Ler sobre marketing pessoal fez Valdete pensar nas supostas “tendências” de nossa sociedade. Ela supõe que o ser humano está se desumanizando. “Essa necessidade de estarmos representando o tempo inteiro adoece cada vez mais as pessoas, principalmente nos ambientes de trabalho”, falou.

Ela explicou ainda que parecemos estar retrocedendo na história. No século XIX lutava-se contra a escravidão. O mercado de escravos de antes se assemelha aos acontecimento de hoje, quando temos de nos construir para depois nos vender. “Fiquei preocupada com as próximas gerações“, desabafa.

Além de comentar sobre a prolixidade do texto de Fábio e o exagero de "ques”, a professora fez questão de dizer: “Eu quero saber de onde esse autor chamado Coelho tirou suas idéias bárbaras, ele parece querer tornar as pessoas debilóides”.

Sem muitos comentário a fazer André Scalco apenas deixou no ar algumas perguntas, entre elas: Estamos cada vez mais tomando atitudes para sermos aceitos? E até onde estamos sendo falsos ou verdadeiros?

Para Pedro Augusto Ramirez Monteiro, a monografia de Fábio deu muito trabalho. Ele afirma que ouve uma mudança de 180 graus na proposta inicial e notou uma evolução muito grande por parte de seu orientando.

Fábio Marciel Mazotto foi aprovado com nota 8,3.


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