Uma moça diferente para muitos. Rosana Rosar estava lá,
sentada diante da mesa quadrada. As 180 cadeiras do anfiteatro iam sendo
ocupadas aos poucos. Ela dava algumas olhadelas para o movimento do auditório,
mas preferia ler o que tinha em mãos. Se preparava sem se levantar e sem fazer
alarde.
Luiz Felipe Soares, orientador de Rosana, deu as boas-vindas ao público e
agradeceu aos avaliadores por terem aceito o convite. Samuel Lima, o Samuca, e
Emílio Pagotto, professor da UFSC e músico, sentaram-se para continuar
conhecendo “Chico Buarque: a ambivalência que não se vê”.
Não durou mais que dez minutos. Rosana leu a paixão pelo compositor e a
decepção às críticas feitas a ele ao longo da carreira. Tentou desmistificar as
múltiplas facetas de Chico e provar que as críticas são repetitivas e sem
profundidade. “O autor é classificado como amante, cronista, malandro, político
e trovador... como se fosse possível que o Chico amante não interferisse no
Chico cronista, este não interferisse no Chico malandro e assim por diante”,
escreveu a acadêmica num trecho das quatro páginas lidas na apresentação.
Rosana focou sua pesquisa na série de DVDs produzidos pela DirecTV e pele
Rede Bandeirantes de Televisão. São quatro caixas e cada uma contém três DVDs,
que mostram a vida e a obra do compositor. Segundo ela, “um exagero”. Os 12
discos têm quase 24 horas de duração. Com base nos autores Jacques Derrida,
Roland Barthes e as feministas Laura Mulvey e Judith Butler, a autora analisou a
produção dos DVDs e a figura de Chico conhecedor da alma feminina e encontrou
ambivalência. Rosana disse ter corrido o risco de soar “pedante e arrogante”.
“O seu trabalho é superbem escrito”, disse Pagotto ao iniciar a argüição. O
avaliador considerou a análise dos DVDs “uma boa sacada” e disse que a pesquisa
é, em alguns momentos, densa. As advertências vieram em forma de sugestão.
Pagotto afirmou que Rosana passou muito rápido por todos os temas e com isso o
conteúdo do texto acabou tornando-se fraco. Ele sugeriu que a continuidade do
trabalho ocorra de maneira menos radical e chamou a atenção da acadêmica para a
força da expressão “lata de lixo”, usada por ela para indicar o lugar ao qual as
críticas feitas a Chico deveriam ser jogadas. “Você tem que tomar cuidado com o
extremismo e com as alfinetadas”, completou o professor.
Samuca disse ter se sentido duplamente desafiado, principalmente por gostar
de Chico Buarque. Ele afirmou que a escolha dos DVDs não foi feliz, e completou:
“Talvez se você tivesse analisado 15 músicas do Chico, fosse melhor”. Elogiou a
resenha feita sobre a obra “A farmácia de Platão”, do filósofo Derrida. Samuca
concluiu dizendo que as feministas citadas no trabalho não contribuíram em nada
e sugeriu que, se Rosana der continuidade à pesquisa, analise os 15 universos
femininos enumerados por ela na monografia.
O orientador abriu espaço para as questões do público e a acadêmica as
respondeu. A timidez de Rosana era visível e as perguntas pareciam deixar-lhe
nervosa. “Não me sinto bem com perguntas e platéia”, afirmou mais tarde. Disse
ter se sentido “açoitada”, mas pretende rever o texto para analisar as críticas
feitas pelos avaliadores. Quanto ao material para pesquisa, confessa que não
teria conseguido adquirir sem o apoio da biblioteca da instituição. A série de
DVDs custa, aproximadamente, R$ 600,00. “Nos agradecimentos, citei a
biblioteca”. Chico é, para Rosana, músico, poeta e escritor. “Chico é um
artista”. A nota 8,8 e a paixão pela música motivam Rosana a dar continuidade a
sua construção.