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Matéria 4707, publicada em 17/08/2007.


:Jouber Castro

Vídeo exibindo metaleiros apresentou objeto de estudo de Patricia

"Eu me monto" desconstrói ideologias metaleiras

Rafael Alonso


A falta de aspas no título Eu me monto, escrito na grade de programação das monografias, levou a outra interpretação sobre o trabalho de Patricia Barbosa Villar (PP). Os estudantes cochichavam: aí vem um novo ensaio, possivelmente de ares egocêntricos e com pitadas de independentismo adolescente. Mas não. Era justamente as tribos pós-modernas, especificamente os metaleiros, que a futura publicitária iria analisar. Após exibir um vídeo com imagens de shows de rock, multidões enlouquecidas, além de caveiras, monstros e rituais ditos satânicos ― símbolos característicos do estilo ―, podia-se ler projetado na tela, com letras brancas e num fundo preto, “Eu me monto”. Agora sim, com aspas. Mais tarde, a autora explicou a origem da sentença que deu nome à sua pesquisa. “Foi uma das frases que mais me chamou a atenção, proferida por uma das meninas entrevistadas”.

A mesma serenidade (por que não uma altivez saudável?) demonstrada instantes antes em conversas com colegas prosseguiu durante a defesa. Segurando uma folha de papel nas mãos, quase inutilizada, Patricia caminhava lentamente enquanto falava, bebericando água vez ou outra. O tom de voz ameno ressoava altissonante no anfiteatro. O didatismo da jovem prendeu a concentração dos presentes, em sua maioria estudantes de publicidade.

Patricia partiu da premissa de que a moda, a roupa, não é apenas um modo comum de cobrir as carnes. As vestimentas comunicam, carregam ideologias, signos que apontam para traços culturais do indivíduo. Em busca de razões, inquiriu cinco jovens (entre sete) de um grupo de metaleiros joinvilenses, atraída pelos trajes negros e acessórios diversos. A estudante apoiou-se em conceitos da antropologia, campo pelo qual se disse “apaixonada” após a finalização da reflexão. Aliás, a teoria ampliou olhares, mantidos no marasmo com as constatações empíricas. Embora não reconhecida pela autora inicialmente, a previsibilidade das respostas dos metaleiros (posteriormente citada pelo argüidor) apenas reforçaram juízos prévios: vestes pretas como encarnação do “espírito metaleiro”; a falta de compreensão das letras em inglês; o ínfimo conhecimento sobre o movimento em que acreditam enquadrar-se; e a discrepância em relação aos “metaleiros antigos”, que ao menos carregavam projetos de vida.

A professora da Univali Graziela Morelli, convidada especial, questionou pontos referentes à moda, sua área de atuação; distinguiu moda e roupa e lembrou que a alta-costura apareceu apenas no século XIX. Luiz Felipe Soares estendeu-se durante 15 minutos, apresentando outras visões possíveis para o mesmo objeto, entre elas a religiosidade (lembrando Agamben, no sentido de relegação) e a idéia de revolução, ancorada na Revolução Francesa, portanto longe do ineditismo. O professor da UFSC ainda incentivou a interpretação pessoal, em detrimento à apropriação de autores que pouco acrescentam ao trabalho. Após breve reunião da banca ― o relógio da igreja já anunciara o fim das atividades ―, Patricia garantiu a aprovação, com nota 9, e o passaporte para o vindouro projeto: o mestrado.

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