A falta de aspas no título Eu me monto, escrito na
grade de programação das monografias, levou a outra interpretação sobre o
trabalho de Patricia Barbosa Villar (PP). Os estudantes cochichavam: aí vem um
novo ensaio, possivelmente de ares egocêntricos e com pitadas de independentismo
adolescente. Mas não. Era justamente as tribos pós-modernas, especificamente os
metaleiros, que a futura publicitária iria analisar. Após exibir um vídeo com
imagens de shows de rock, multidões enlouquecidas, além de caveiras, monstros e
rituais ditos satânicos ― símbolos característicos do estilo ―, podia-se ler
projetado na tela, com letras brancas e num fundo preto, “Eu me monto”. Agora
sim, com aspas. Mais tarde, a autora explicou a origem da sentença que deu nome
à sua pesquisa. “Foi uma das frases que mais me chamou a atenção, proferida por
uma das meninas entrevistadas”.
A mesma serenidade (por que não uma altivez saudável?) demonstrada instantes
antes em conversas com colegas prosseguiu durante a defesa. Segurando uma folha
de papel nas mãos, quase inutilizada, Patricia caminhava lentamente enquanto
falava, bebericando água vez ou outra. O tom de voz ameno ressoava altissonante
no anfiteatro. O didatismo da jovem prendeu a concentração dos presentes, em sua
maioria estudantes de publicidade.
Patricia partiu da premissa de que a moda, a roupa, não é apenas um modo
comum de cobrir as carnes. As vestimentas comunicam, carregam ideologias, signos
que apontam para traços culturais do indivíduo. Em busca de razões, inquiriu
cinco jovens (entre sete) de um grupo de metaleiros joinvilenses, atraída pelos
trajes negros e acessórios diversos. A estudante apoiou-se em conceitos da
antropologia, campo pelo qual se disse “apaixonada” após a finalização da
reflexão. Aliás, a teoria ampliou olhares, mantidos no marasmo com as
constatações empíricas. Embora não reconhecida pela autora inicialmente, a
previsibilidade das respostas dos metaleiros (posteriormente citada pelo
argüidor) apenas reforçaram juízos prévios: vestes pretas como encarnação do
“espírito metaleiro”; a falta de compreensão das letras em inglês; o ínfimo
conhecimento sobre o movimento em que acreditam enquadrar-se; e a
discrepância em relação aos “metaleiros antigos”, que ao menos carregavam
projetos de vida.
A professora da Univali Graziela Morelli, convidada especial, questionou
pontos referentes à moda, sua área de atuação; distinguiu moda e roupa e lembrou
que a alta-costura apareceu apenas no século XIX. Luiz Felipe Soares estendeu-se
durante 15 minutos, apresentando outras visões possíveis para o mesmo objeto,
entre elas a religiosidade (lembrando Agamben, no sentido de relegação) e a
idéia de revolução, ancorada na Revolução Francesa, portanto longe do
ineditismo. O professor da UFSC ainda incentivou a interpretação pessoal, em
detrimento à apropriação de autores que pouco acrescentam ao trabalho. Após
breve reunião da banca ― o relógio da igreja já anunciara o fim das atividades
―, Patricia garantiu a aprovação, com nota 9, e o passaporte para o vindouro
projeto: o mestrado.