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Matéria 4694, publicada em 16/08/2007.


Rodrigo Barbosa, o primeiro 10 da semana, roubou a cena

Lorena Trindade


Parecia um menino quando vai ao parque de diversões pela primeira vez. Andava de lá para cá, as mãos giravam tensas segurando um pedaço de papel. Aos poucos a sala meio iluminada era ocupada pela família e pelos amigos, que se instalavam nas cadeiras do lado esquerdo. Rodrigo Miranda Barbosa recepcionou todos com abraços. O projetor, sobre a mesinha de madeira, refletia no branco quadro o desenho de um pirata.

Os colegas da publicidade começaram a preencher os lugares ainda vagos. Às 21h04 o orientador, Silnei Soares, entrou portando um sorriso de confiança. A banca de avaliação estava incompleta - somente Maria Elisa Máximo havia se instalado; Juciano Lacerda chegou minutos depois. Às 21h08 Rodrigo agradeceu a presença dos amigos que segundo ele estavam ali “em massa” e deu início à apresentação. A porta foi fechada e as 33 pessoas dispostas a desvendar a “Pirataria on-line: sistemas emergentes, jogo e dádiva”, através de Rodrigo, ficaram atentas.

O nervosismo do acadêmico era visível. Preocupado em esclarecer para o público o que significava cada um daqueles termos técnicos criados pelas novas tecnologias, Rodrigo foi detalhista. Explicou minuciosamente a escala hierárquica da cultura da internet: tecnoelites, hackers, comunidades virtuais e empresários. Fez uma pausa antes de seguir adiante, virou-se para o público e disse: “Caso vocês não entendam alguma coisa, é só perguntar”. Não houve perguntas neste momento e, pouco depois, o público já estava familiarizado com cada expressão.

Apaixonado pela pesquisa, Rodrigo “fez um acordo” com o sociólogo espanhol Manuel Castells e com o filósofo finlandês Pekka Himanen e discursou durante exatos 50 minutos. Ele explicou o que chama de Scene ou cena, em português, que se trata do quadro da pirataria, os grupos, líderes, distribuidores e redes. O público pôde conhecer através dos olhos deslumbrados de Rodrigo um mundo novo, muito mais próximo dos que acessam a web do que se pensava.

A pirataria ― sistema emergente ― é o moderno crime organizado. Os que estão dentro dela transformam-na numa seita com direito a linguagem própria. Segundo Rodrigo, “jogam não para ganhar dinheiro, mas para ganhar prestígio e para alcançar a dádiva”. Criaram a ética hacker, o juramento e um exercício proibido. O acadêmico concluiu a apresentação mostrando a frase de um grupo de hackeres após serem pegos pela polícia: “Nós atacamos, adaptamos, improvisamos e sobrevivemos!”.

Após a fala do acadêmico, cinco pessoas se retiraram, mas 28 permaneceram ansiosas. Maria Elisa foi a primeira a argüir. Elogiou Rodrigo e disse: “O seu trabalho é algo maior que um TCC”, além de classificá-lo como um ensaio bem sucedido, um trabalho denso que pecou pelo excesso. Ela considerou as 127 páginas iniciais da monografia – ao todo 199 páginas, sendo 170 delas dedicadas aos textos – como o conjunto do fichamento. “Você ficou muito preso ao jargão técnico”, comentou a avaliadora. Sorrindo, Maria Elisa sugeriu uma importante alteração: um glossário para orientar os leigos.

Juciano Lacerda começou brincando: “Quando peguei teu trabalho para ler me deu vontade de jogar na tua cabeça”. Disse também que se não fosse convidado para a banca, ficaria chateado, já que conheceu a idéia de Rodrigo desde o esboço. Embora concordasse com a colega Maria Elisa quanto aos excessos cometidos, Juciano não pôde negar que o acadêmico fez um ótimo trabalho.

Acompanhados pelo orientador os componentes da banca deixaram o espaço. A ansiedade permeou o ambiente durante o tempo em que estiveram fora. Quando voltaram, Silnei pôs-se à frente, explicou as alterações que deveriam ser feitas e anunciou, dirigindo-se à Rodrigo: “Embora você tenha pecado por excesso, nós achamos que é melhor pecar pelo excesso do que pela falta”. Ele recebeu nota 10 pelo trabalho. A primeira nota 10 desta semana de monografias. Rodrigo roubou a cena.

O acadêmico não esperava tirar 10, justamente por ter consciência dos excessos que havia cometido. “É sempre bom o reconhecimento de um trabalho”, comentou. Ele considera as argüições como a parte mais importante do trabalho. Segundo ele, a defesa não serve para receber elogios. “Os avaliadores têm o papel de apontar outros caminhos”. Rodrigo conversará com seu orientador sobre as alterações que farão na monografia. Ele teve a idéia de trabalhar com o tema pirataria quando estava no 2º ano da faculdade, porém os últimos seis meses foram de trabalho incessante. O acadêmico trabalhou todos os capítulos ao mesmo tempo. “O trabalho começou a tomar forma nos últimos dois meses”, completou.

Silnei Soares mostrou-se orgulhoso. A monografia teria 30 páginas a mais se o orientador não as tivesse “cortado”. Segundo Silnei, a paixão do acadêmico pelo tema não atrapalhou na hora de produzir o trabalho. “O dez foi merecido e não gratuito”, disse Silnei.

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