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Matéria 4683, publicada em 15/08/2007.


:Lorena Trindade

Camilla Mallon encara a banca com tranquilidade

Telenovela X jornalismo - tudo a ver

Melanie Peter


O relógio marcava 19h e Camilla Baptista Mallon estava animada distribuindo sorrisos e abraços para a família e as amigas, sentadas na primeira fila do lado esquerdo do anfiteatro. Aproximadamente 80 pessoas estavam presentes, entre elas vários alunos do 6º período armados com bloquinho e caneta na mão.

Do lado direito - também na primeira fila -, o orientador, Jacques Mick, e a banca: Samuel Pantoja Lima e Ângelo Ribeiro. Passava um pouco das 19h10 quando Jacques olhou rapidamente para o relógio, se levantou e disse para a orientanda, “vamos começar”. Em tom um pouco mais alto cumprimentou a audiência, explicou o funcionamento da dinâmica da apresentação e desejou boa sorte para Camilla.

Depois de agradecer à família, à banca e às amigas, ela segurou o mouse com confiança e iniciou a apresentação de slides. No primeiro deles estava o título do trabalho, “Quando a novela agenda o noticiário: a relação entre pautas do Jornal Nacional e os temas abordados em América, Belíssima, Páginas da Vida e Paraíso Tropical” .

A idéia inicial surgiu na época de América, quando o Jornal Nacional começou a veicular uma série de reportagens sobre imigração – principal tema abordado na novela . “Comecei a questionar se isso correspondia aos critérios de noticiabilidade”. Depois disso foram oito meses de pesquisas quantitativas e qualitativas.

O marco teórico escolhido por ela inclui Nelson Traquina, Nilson Lage e José Arbex Junior. A principal discussão do trabalho foi em torno da teoria do agendamento e incluiu as análises das primeiras semanas das novelas citadas, dos índices de audiência e das notícias do telejornal. A interferência do mercado na construção dos fatos está presente em todas elas.

Camilla fez uma exposição rápida dos dados levantados- sempre nos dois primeiros meses de exibição de cada folhetim. Durante América foram veiculadas no Jornal Nacional 14 matérias direta e 5 indiretamente relacionadas com os temas abordados na novela. Já em Belíssima foram menos, 5 direta e 11 indiretamente relacionadas. Para Camilla isso tem relação com os índices de audiência.

Em Páginas da Vida foram 9 direta e 13 indiretamente. O maior enfoque neste caso foi o tema da síndrome de Down- amplamente explorando em outras mídias, principalmente nas revistas. E por último, em Paraíso Tropical foram 10 direta e 7 indiretamente relacionadas.

Quando o último slide surgiu reluzindo a palavra “obrigada” em letras garrafais, a banca foi sentar à mesa, coberta por uma toalha de renda. Samuel Pantoja Lima, o Samuca, iniciou a argüição lendo um trecho do artigo “A caminho de uma sociedade da incomunicação” de Eduardo Galeano. A ênfase foi dada ao segundo parágrafo do texto. “Nunca a tecnologia das comunicações foi tão aperfeiçoada, e, no entanto, nosso mundo parece cada vez mais com um reino dos mudos...”

Fechado o parênteses, passou a falar da monografia propriamente dita. Considerou o objeto preciso, a pergunta de pesquisa e a intenção muito claras, o apanhado quantitativo muito bom, as reflexões sistematizadas e a metodologia perfeita. Em resumo, um trabalho de qualidade e sintonizado com os objetivos de um curso de Comunicação Social. O único senão, segundo a avaliação de Samuca, foi o que ele considerou, "falta de fôlego" da aluna para a conclusão.

Quanto às referências, considerou-as bem escolhidas, mas disse que “faltou dar peso diferente aos diferentes”. Nilson Lage e Adelmo Genro Filho poderiam ser mais explorados. Um olhar mais crítico sobre Traquina e sobre a própria teoria do agendamento, bem como uma discussão sobre “a televisão brasileira como integração social” também estavam faltando no trabalho segundo ele, que considerou o texto de Camilla muito bom.

Ângelo também começou falando dos pontos altos. Repetiu vários dos elogios feitos anteriormente por Samuca. Críticou a falta de maior embasamento teórico na seção sobre a televisão, como Martín-Barbero, e comentou sobre a estratégia usada pelo meio para "prender" o telespectador através da grade de programação. “A televisão e o telejornal são dois produtos que costumam ser  usados para complementar um ao outro”, esclareceu.

Terminada a argüição da banca ainda sobrou tempo para perguntas da platéia. Alguns alunos e professores fizeram questionamentos e o debate só terminou quando Jacques interviu com vontade de apontar para as novas inquietações suscitadas com a monografia de Camilla. Citou a força da novela e sua capacidade de agendamento, as mudanças no contrato de leitura entre o telejornal e o espectador e as várias articulação possíveis entre diversos tipos de mídia. Terminou sua fala dizendo “neste momento a banca se reúne em separado”.

Iniciou-se uma nova seção de abraços em torno de Camilla, mas eles tiveram de ser logo interrompidos pois os alunos de Redação V, com seus bloquinhos, esperavam ansiosos por uma entrevista. Quando a banca voltou, todos se voltaram para seus lugares, apreensivos, para ouvir a nota: 9,5.

Depois disso foram sorrisos e mais sorrisos, aplausos, descontração, fotos com irmão, com a mãe, com orientador, com banca. E os abraços puderam continuar.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.