Provavelmente ninguém mais do que Miriam Pedrotti, 40 anos, identificou-se
com a monografia “Influência do marketing na substituição do leite materno em
favor do leite industrializado”, de Sabrina Schomoeller (PP), apresentada ontem
no anfiteatro. Por recomendação médica, Miriam amamentou os dois filhos com
leite em pó. De acordo com a estudante do oitavo semestre de jornalismo, os
profissionais de saúde negligenciaram o tratamento, pois não a aconselharam a
“cuidar do peito”. Na primeira gestação, antes mesmo de iniciar o aleitamento
com produto industrial, sofreu inflamação nas glândulas mamárias (a chamada
mastite). Com o inchaço da auréola, o ducto que conduz o líquido obstrui-se,
causando desconforto e dor. Em situações delicadas, como a de Miriam, podem
ocorrer sangramentos.
O mais grave, para Miriam, é a postura dos médicos no momento da indicação.
Ela recorda ter utilizado Leite Nan, da Nestlé, e que havia um banner da
marca pendurado na parede do consultório. “Era uma clara relação mercadológica.
Ainda hoje os médicos ganham comissão”, acusa. Segundo a universitária, cada
lata custava em média R$ 17 e durava quatro dias. Devido ao alto valor da
mercadoria e à baixa demanda, era necessário encomendar com antecedência ao
farmacêutico.
A identificação com o trabalho terminou em elogios. “Temas de relevância
social, nesse caso, o de saúde pública, devem nortear as pesquisas”. Ela
concluiu dizendo que “está na hora de os professores se ligaram sobre isso”.
O nervosismo de Sabrina Schomoeller não atrapalhou a apresentação. A qualquer
sinal amnésico, a ficha com textos prontos amparava-a em prontidão. A autora
abriu a apresentação contextualizando o papel da mulher na sociedade, desde os
tempos de submissão até o multiuso da vida urbana. No estudo de caso, inquiriu
25 mães — amigas da sua própria e conhecidas, todas de condição financeira
estável — sobre o tipo de leite utilizado e as razões da escolha. As conclusões
mais importantes foram: boa parte das crianças amamentadas com leite industrial
tiveram problemas de saúde; devido ao fator tempo, o leito em pó traz autonomia
às mulheres; a força da indicação médica é essencial no processo de escolha; e
que 70% das entrevistadas buscariam uma forma diferente de suprir os filhos,
primordialmente, se possível, com leite materno.
As reações da banca foram pontuais. Maria Elisa Máximo argumentou sobre o
excesso de arbitrariedade na escolha das mães, e que faltou contexto aos
questionamentos. Segundo a doutora em antropologia, uma maior diversidade de
dados enriqueceria a pesquisa. Em tom provocativo, colocou em xeque a demasiada
exaltação do marketing, argumentando que esse não é o único ponto de vista a ser
levado em conta no momento de escolha das mães. Pedro Ramirez enalteceu a
qualidade do texto e a relevância do tema. As objeções recaíram sobre alguns
conceitos do marketing e um possível “olhar pejorativo” diante da publicidade.
“É claro que toda empresa é feita pra ter lucro. Mas a forma como o atinge deve
ser ética”, ponderou.
Após curta reunião da banca com a orientadora Valdete Niehus, as 26 pessoas
restantes no anfiteatro aplaudiram a aprovação, premiada com nota 9.