subliminar /sub-li/ adj. 1 que é inferior ao limiar; subliminal 2 que é subentendido nas entrelinhas ou se faz por associação de idéias (diz da propaganda) 3 PSIC que não ultrapassa o limiar da consciência, que não é suficientemente intenso para penetrar na consciência, mas que, pela repetição ou por outras técnicas, pode atingir o subconsciente, afetando as emoções, desejos, opiniões; subconsciente [propaganda s.] 4 SUBCONSCIENTE
Isso é o que diz o Houaiss. Mas será isso mesmo? Não há um paradoxo maior dentro dessa definição? Mônica Guerreta (PP) tentou responder “Desmistificando a mensagem subliminar”, mas ao final da defesa um quê de dúvida ainda pairava sobre a sala C-27. Como disseram os professores da banca, Gleber Pieniz e Silnei Soares, a idéia do subliminar é criar uma mensagem que vá direto ao inconsciente, sem ser percebida pelo consciente. Isso sugeriria que não seria possível para o receptor aventar os significados dessas mensagens, já que o homem não tem controle sobre o seu inconsciente. A questão que surgiu é a seguinte: se é possível, como fez Mônica, tanto identificar quanto ainda analisar os signos subliminares, ele não abandona a sua condição quando passa para o consciente? Em outras palavras, pensar o subliminar não o faz consciente? À parte as dúvidas, Mônica foi aprovada.
Após os dez minutos de atraso habitual, o orientador Alvaro Dias abriu os trabalhos, e passou a bola para a sua orientanda. Mônica preparou o terreno explicando às cerca de 75 pessoas presentes – acadêmicos de publicidade, na esmagadora maioria – conceitos essenciais para o entendimento das chamadas “mensagens subliminares”, como ambigüidade, fundo, visão e percepção, bebendo na fonte de Gestalt – responsável pelo conceito de pregnância (estabilidade perspectiva) – e de Freud, comparando as mensagens subliminares aos sonhos estudados pelo pai da psicanálise. A futura publicitária mostrou, na tela do datashow, imagens do que se costuma chamar de ilusão de ótica e, com muita segurança, explicou porque cada imagem poderia ou não ser chamada de subliminar. Entre os exemplos, as célebres capas dos álbuns dos Beatles que insinuariam que Paul McCartney estaria morto, ou as variações do logotipo da Coca-Cola, que mostrariam a frase “Alô, diabo” e um homem fumando um cigarro de maconha. “Mas mesmo que a mensagem seja subliminar, isso não garante que ela seja entendida”, explicou Mônica. “As pessoas só as absorvem segundo o seu conhecimento”.
Quinze minutos de defesa bastaram para que a apresentação em Power Point fosse vista do início ao fim, e fosse iniciada a argüição. A primeira parte coube a Gleber. “Você esteve com a faca e o queijo na mão”, ditadeou, dirigindo-se à avaliada, “mas acabou usando muitos conceitos do senso comum”. O professor também reclamou do que chamou de “monotonia” no texto, causado, segundo ele, pelo uso excessivo de imagens intercaladas aos parágrafos. E trouxe à tona a questão inicial: “A partir do momento em que são revelados, e ainda mais, analisados, os signos não são mais subliminares”. Às 19h50 Gleber parou, e dadas as poucas respostas da autora do trabalho, o orientador Alvaro Dias achou por bem intervir, relembrando que o assunto escolhido pela sua pupila era bastante frágil e respondendo algumas questões sobre método de pesquisa e abordagem levantadas pelo primeiro avaliador, entre elas a ausência de análise semiótica das supostas mensagens subliminares.
O professor Silnei Soares usou seu espaço para observar que as escolhas teóricas de Mônica foram pouco ortodoxas, já que suas referências sustentavam o contrário do que ela pretendia provar. E bateu na mesma tecla que seu companheiro de banca: “Não é que não exista mensagem subliminar. Se ela existe, não é percebida”. A autora argumentou que escolheu Deleuze e Guattari e sua teoria do rizoma por achar que essa era a mais apropriada. Mas Silnei descompôs o argumento: “Do jeito que foi apresentada, a mensagem subliminar é o oposto total do rizoma. É uma raiz”.
Seguiu-se a tradicional reunião entre membros da banca e orientador. Foi aí que começou a parte mais agonizante da defesa. Foram nada menos que 30 minutos de reunião entre os professores. Houve quem desistisse e nem esperasse pela nota. Apesar disso, Mônica aparentou uma tranqüilidade incomum entre os que esperam a nota. E a sua calma acabou justificada: ganhou nota 7. Mas ganhou também um compromisso: reescrever seu trabalho e corrigir os erros, para que em 30 dias a monografia possa ir para a biblioteca. E esse compromisso não é nada subliminar.