Uma idéia frutífera porém mal desenvolvida. Essa foi a conclusão da banca — formada pelos professores Luiz Fernando Assunção e Valdete Niehues —, sobre o trabalho “O falocentrismo na teoria jornalística de Nilson Lage", de Sayonara da Silva. Os argüidores mostraram-se unânimes quanto à falta de profundidade e amplitude reflexiva. Embora concordassem com a relevância da proposta, concluíram que a estudante não alcançou os objetivos esperados. Para Valdete, a abordagem careceu de uma visão mais vasta, ampliando o olhar até a sociedade como um todo. Já para Assunção, a jovem limitou-se a uma “análise rasteira”, deixando-se levar em algumas oportunidades por preconceitos (o que chamou de “guerra dos sexos”). A nota foi 7,5
Apesar do título convidativo, apenas 17 pessoas compareceram à sala C-22, entre elas a mãe e o namorado da autora. Sayonara abriu a apresentação com um vídeo que trazia duas manchetes do Jornal da Globo. Na voz de Christiane Pelajo, o texto cometia o que a estudante denominou preconceito de gênero, pois fazia diferenciações de tratamento a partir do tema das reportagens, convidando apenas meninas para o show de Lenny Krevitz, e meninos para conhecer o funcionamento de um submarino. Para concretizar as inquietudes do que via na mídia, utilizou o livro “Ideologia e técnica da notícia” (1979), de Nilson Lage. De acordo com a leitura de Sayonara, as teorias jornalísticas de Lage, especialmente o conceito de realidade e os critérios de noticiabilidade, evidenciam senso comum quanto à dominação masculina. Ou seja, a notícia enquanto dominação da realidade e, por isso, a necessidade da presença masculina, tradicionalmente conhecida como forte, rude e racional. Às mulheres restariam as falas domésticas, enquanto os homens encarregariam-se dos pronunciamentos públicos. A crítica apoiou-se nas americanas Judith Butler e Linda Nicholson, numa distinção entre sexo e gênero que evita a formação de uma identidade prévia e unitária (nesse caso, a de “mulher").
Sayonara fechou a explanação justificando as limitações teóricas do trabalho e reconhecendo o projeto como “um ponto de partida”. No momento da réplica, após as argumentações da banca, a estudante confessou ter passado por dificuldades durante a pesquisa, como a troca de orientador — de Luiz Felipe Soares para Maria Elisa Máximo. Mesmo assim, disse que toda pesquisa é importante, e ressaltou o maior legado: “Tenho certeza que jamais irei reproduzir certos preconceitos durante minha atividade profissional”.
Quem parecia pouco satisfeita era Mariana de Fátima Olberg, psicóloga e amiga de Sayonara. Ela disse estudar “gêneros” há mais de uma década, e considerou um erro convidar um homem para avaliar o trabalho. “Ele não entendeu nada. A pesquisa foi excelente; isso é algo óbvio em nossa sociedade”, bradou. Mais ponderada, Sayonara acredita que o professor manteve-se respeitoso ao trabalho, e que o convite foi proposital. “Pensei em equilibrar a banca”.