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Matéria 4629, publicada em 13/08/2007.


Os mitos em torno da casa enxaimel

Erivellto Amaranth, especial para Revi


Quem conhece um pouco de Joinville já deve ter passado em frente a uma casa enxaimel, ou, na melhor das hipóteses, mora em uma delas. Já foram muitas, hoje, são raridades. A falta de conhecimento sobre o valor histórico e também a especulação imobiliária são os principais fatores que motivaram a extinção dessas obras. Embora sejam facilmente identificadas, ainda existe muita desinformação quanto à origem e a técnica de construção dessas edificações. O erro mais comum, segundo a historiadora Clara Rothert, é associar a casa enxaimel como uma arquitetura predominantemente germânica.

Casas enxaimel estão entrando em extinção

Segundo Clara, o mito que se criou em torno da arquitetura alemã pode ser justificado pela origem dos colonizadores de Joinville. “As primeiras casas, de fato, foram erguidas pelos imigrantes alemães que desembarcaram aqui no século 19. No entanto, a técnica começou a ser empregada na Idade Média, muito antes da Alemanha existir (ou ser unificada, em 1871)”, explica. Desta forma, a casa enxaimel tem suas raízes bem distribuídas pela Europa e é reflexo da escassez de matéria-prima daquela época. “O continente estava passando por uma crise na extração da madeira. Como a maioria das residências era feita totalmente desse material, foi necessário fazer algumas adaptações”, explica a historiadora.

Outro erro comum é identificar o enxaimel como um estilo arquitetônico, quando na verdade se trata de uma técnica construtiva. Sua principal característica consiste no uso da madeira como único material capaz de levantar toda a estrutura. Quase como num quebra-cabeça, as toras eram numeradas e depois recebiam os encaixes. Entre as vigas verticais eram colocadas as horizontais e, nas extremidades das paredes, algumas em diagonais, para travar a estrutura e impedir uma possível inclinação. Por fim, fazia-se literalmente o enxaimel, que significa enchimento. As paredes normalmente eram cobertas de barro. Capim e até crina de cavalo ajudavam na sustentação. Desta forma, as casas tornaram-se bastante populares porque eram baratas e de simples construção.

As primeiras casas enxaimel de Joinville eram bastante rústicas. De acordo com a historiadora Clara Rothert, os imigrantes aproveitaram a grande quantidade de pés de palmito que havia na região para retirar a matéria-prima de que precisavam. As armações para o preenchimento das paredes eram amarradas com cipós e o telhado era feito com as folhas da palmeira. Segundo a Fundação Cultural de Joinville, o casarão mais antigo da cidade- ainda preservado - foi construído em 1864 e está localizado na Estrada Blumenau.

Estilo é comum na cidade

Os imigrantes europeus trouxeram a técnica enxaimel para o sul do Brasil. Aqui, eles tiveram que fazer algumas mudanças para se adequar ao clima da região. Uma característica bem tupiniquim foi a inclusão da varanda. Além de refrescar nos dias quentes, esse espaço servia para os moradores receberem as visitas e praticar outras atividades. Em Santa Catarina os municípios com maior concentração dessa técnica são Indaial, Blumenau, Joinville, São Bento do Sul, Timbó e Pomerode.


Saiba mais:

> Existem 11 casas enxaimel tombadas pelo Patrimônio Cultural em Joinville;
> Com a chegada das olarias, as casas receberam formatos geométricos nas fachadas, graças aos tijolos;
> Nas primeiras casas, até as janelas eram feitas de madeira, não se usava o vidro;
> Estima-se que ainda existam 200 casas enxamel em Joinville, a maioria na zona rural;
> A estrutura de encaixes permitia que as casas fossem retiradas do lugar e instaladas em outros endereços. Mudanças desse tipo eram comuns.


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